“Falamos, falamos, mas acontece muito pouco”, alerta António Costa e Silva 

“Crise pandémica, guerras, crise inflacionista, aumento do custo de vista (…) são policrises que se interagem e causam uma cascata de consequências difíceis de se controlar”. Este é o estado atual do planeta que António Costa e Silva, ministro da Economia e do Mar, quis refletir numa sessão – “Diálogos de Sustentabilidade – Tema: Economia Azul” promovida, na manhã desta sexta-feira, 6 de janeiro, pela Fundação Inatel.

Sendo as alterações climática a “maior ameaça existencial”, Costa e Silva lamenta aquele que tem sido o papel da espécie humana: “Devia estar unida a combater e, pelo contrário, desencadeia guerras, fragmenta-se geopoliticamente e entra num novo ciclo de rivalidades com a guerra no centro da Europa”. Há uma “necessidade premente” de se fazer face a esta ameaça climática, alerta o dirigente, destacando a importância de se mudar o modelo de desenvolvimento económico e social: “Somos uma espécie que é predadora de recursos do planeta a uma escala sem precedentes”.

Refletindo sobre os últimos 60 anos, o ministro da Economia e do Mar atenta que foram consumidos, em termos percentuais, “618 vezes mais petróleo, mil vezes mais gás e 756 vezes mais níquel”, estando o atual modelo a destruir o planeta: “Construímos uma civilização que transforma recurso em lixo a uma velocidade sem precedentes e agora o desafio é transformar o lixo em recurso e aprender com a natureza”. Até porque o maior erro cometido foi o “divórcio com a natureza”, alerta.

É numa lógica de mudança de modelo de desenvolvimento económico e social que António Costa e Silva se foca, para relembrar a importância de se gerar mais riqueza: “Temos criar um modelo de desenvolvimento económico sustentável, baseado na economia azul e na bioeconomia, e que seja capaz construir uma abordagem diferente para o futuro, pois tudo aquilo que podemos ver hoje é decisivo para a sustentabilidade, como por exemplo, parar a desflorestação”. Dando o exemplo da Amazónia, Costa e Silva refere que, nos últimos 50 anos, perderam-se 800 mil quilómetros quadrados: “A Amazónia tem 40% das florestas húmidas do planeta, 15% das espécies terrestres e é capaz de reciclar a sua própria água. Estamos a permitir uma destruição sem precedentes neste ecossistema fulcral para o futuro do planeta”.

Nesta mudança de paradigma, o ministro da Economia e do Mar abordou a ainda dieta alimentar, sustentando que, “todos os anos, são exterminados no planeta 80 mil milhões de animais para alimentar a espécie humana”. Também a “irracionalidade que há no planeta ao nível da governação global”, chamando a atenção para a necessidade de se alertar a matriz energética: “80% da energia primária consumida no planeta vem de combustíveis fósseis: falamos, falamos, mas acontece muito pouco”, alerta.

Também as cidades – que classificou como “das maiores invenções do homem” – devem ser agentes de mudança, sendo que a tecnologia assume um papel preponderante nesta equação.

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