Falta “coragem política” para acabar com os “subsídios” para as energias fósseis, alerta António Costa Silva

“Transição Climática, Crise Climática e Liderança” foi o mote do Fórum da Energia Clima que se realizou esta quarta-feira e contou com António Costa Silva, professor catedrático do IST (Instituto Superior Técnico). O Fórum Energia e Clima nasceu da vontade da sociedade civil de todos os países pertencentes à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Os países da Língua Portuguesa podem ser motores da transformação e da transição climática: “São países muito heterogéneos e há um potencial muito elevado em todos eles relativamente às energias renováveis”. Quem o diz é António Costa Silva, ressaltando a necessidade de todos “cumprirmos os desígnios” da Conferência de Paris do Clima: “Até 2040, aumentar o consumo de energias renováveis entre 40% a 50%; reduzir entre 40% a 50% o consumo de petróleo e reduzir entre a 15% e 20% o consumo do petróleo no mundo”. Para o docente, tais desígnios são possíveis de serem alcançados, dando nota que a crise da Covid-19 demonstrou que, com a “paralisação de alguns dos sistemas”, como o transporte aéreo e os transportes na sua generalidade, no ano 2020 registou-se uma “redução de 7% nas emissões de CO2” no planeta.

António Costa Silva não deixou de chamar a atenção para o facto de no “setor dos hidrocarbonetos” não existir consciência: “Há mais de 20 anos que alerto o setor para a necessidade de haver uma reconversão”, acreditando que, é um setor que está na “linha da frente da batalha” pela “transição energética”, podendo apostar “muito menos no petróleo” e ser um “motor” na área das renováveis, ligando-se à questão da “geração elétrica e térmica”. No entanto, atenta o responsável, sempre que é “colocada essa questão”, levanta-se logo outra que tem que ver com o “aumento da procura do petróleo” nos últimos 30 anos. Contudo, a Covid-19 veio “revelar” o “colapso brutal” do petróleo no mundo e, ao mesmo tempo, o “resultado extraordinário” em termos da transição energética: “O consumo de petróleo e do gás declinou, mas o consumo de energias renováveis manteve-se estável ou subiu”, refere.

[blockquote style=”2″]Somos uma civilização que consome recursos a uma escala sem precedentes[/blockquote]

Para o investigador, a explicação pela qual ainda não há atuação e ação no rumo à transição energética tem que ver com a “falta do sentido” de urgência. Mas, alerta, o planeta está a dar sinais brutais: “Nos últimos 30 anos, tivemos o desaparecimento de mais de dois milhões quilómetros quadrados de gelo no Pólo Norte”. Segundo o docente do IST, o gelo reflete “parte da energia solar” e se deixar de acontecer, o “aquecimento dos oceanos torna-se incontornável”.

António Costa Silva considera que “falta coragem política”, desde logo, para “acabar com os subsídios” para as energias fósseis: “Temos 400 mil milhões de dólares de subsídios anuais às indústrias fósseis, quando a retórica política anuncia que temos de passar para as energias renováveis e fazer a transição”. Embora “haja esperança” para o futuro, o docente não deixa de reconhecer o “bloqueio” que existe nestas matérias.

Como soluções, António Costa Silva começa por destacar, desde logo, a necessidade da “rutura” do atual modelo de desenvolvimento económico e social: “Somos uma civilização que consome recursos a uma escala sem precedentes na história e transforma recursos em lixo”. A isto, acresce o facto de nos últimos 60 anos, em termos percentuais, se ter consumido “618 vezes mais petróleo” ou “100 vezes mais gás”, sendo “insustentável” para o planeta, alerta. No desígnio de se reduzir, nos próximos 40 anos, as emissões entre 5% a 7%, o docente aponta como solução, a “aposta na economia circular”, onde a premissa assenta em “transformar o lixo em recursos”. Dentro das várias panóplias de soluções, o responsável menciona também os “gases renováveis”, como o “hidrogénio” que é “produzido a partir de fontes renováveis” e é o gás mais “abundante” no universo. Além disso, tem uma outra “versatilidade”, podendo servir de “back up” para as energias renováveis na questão do armazenamento e, ainda, um ponto favorável na “competitividade elevada” na mobilidade: “A mobilidade elétrica vai acontecer, é inevitável”, remata.