Finanças Verdes e Incentivos Bancários: o motor económico da transição para o Net Zero

Por Footprint Consulting

Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser apenas um imperativo ambiental e passou a ser um fator determinante de competitividade e acesso a capital. As chamadas “finanças verdes”, (instrumentos financeiros condicionados a metas ambientais, sociais e de governança – ESG), estão a transformar a relação entre as empresas, investidores e bancos. Mais do que simplesmente financiar projetos de baixo carbono, criam incentivos concretos para que empresas de todos os setores meçam, reduzam e reportem as suas emissões, incluindo o complexo universo das emissões indiretas de Scope 3.

Segundo a International Finance Corporation (IFC), os ativos verdes globais atingiram mais de 3,5 biliões (na métrica francófona) de dólares em 2024, refletindo um crescimento exponencial de 20% ao ano nos últimos cinco anos. Este aumento é impulsionado por dois fatores principais: a crescente pressão regulatória (como a CSRD na Europa) e a própria estratégia de mitigação de risco dos bancos, que cada vez mais associam a sustentabilidade ao crédito mais barato e menor risco financeiro.

Em Portugal, os exemplos de incentivos verdes são cada vez mais claros. O Millennium BCP, disponibiliza linhas de crédito verdes com taxas de juro reduzidas para empresas que implementam programas de medição de carbono, com reporte anual certificado. O Novo Banco introduziu produtos ESG-linked, em que a taxa de juro está diretamente ligada ao desempenho ambiental da empresa, incluindo metas de redução de Scope 1, 2 e 3. O Banco BPI, por sua vez, lançou um programa de financiamento sustentável que oferece condições preferenciais para empresas que adotam ferramentas digitais de monitorização de emissões e planeamento Net Zero. Estes incentivos não são apenas uma tendência isolada: são um novo padrão de operação, alinhando sustentabilidade com rentabilidade financeira.

Internacionalmente, gigantes do setor bancário como o HSBC, BNP Paribas e o Deutsche Bank estão a adotar critérios de empréstimo condicionados a objetivos ambientais e sociais. Um exemplo prático: a Allianz, que atua tanto como seguradora quanto como investidora, condiciona investimentos corporativos à existência de programas robustos de reporte de emissões, incluindo o Scope 3. Empresas que não apresentem dados confiáveis sobre fornecedores podem ver-se excluídas de linhas de crédito estratégicas ou até de seguros corporativos, refletindo um impacto direto na capacidade de operar e crescer.

Além das linhas de crédito e taxas de juro preferenciais, os bancos oferecem consultoria e soluções digitais para facilitar a conformidade. Algumas instituições incentivam o uso de plataformas SaaS certificadas pelo GHG Protocol e ISO, permitindo que empresas de qualquer dimensão capturem dados de fornecedores, calculem a pegada de carbono e preparem relatórios auditáveis. A digitalização permite que pequenas e médias empresas acedam aos mesmos benefícios de empresas globais, democratizando o acesso às finanças verdes.

O impacto econômico é concreto: um estudo da European Investment Bank (EIB) estima que empresas com relatórios ESG completos e programas de redução de carbono ativos conseguem reduzir o custo de capital em até 0,5 a 1 ponto percentual, o que representa milhões de euros em poupanças para grandes grupos. A longo prazo, essa vantagem financeira reforça a competitividade e facilita a expansão para mercados internacionais, onde a regulamentação ESG se torna cada vez mais rigorosa.

O futuro das finanças verdes aponta para uma integração total com a tecnologia e dados, permitindo monitoramento em tempo real do desempenho ambiental. A inteligência artificial e a análise preditiva serão usadas para avaliar o risco climático, identificar fornecedores críticos em cadeias de valor e otimizar os planos de redução de emissões. Isso não só garante conformidade regulatória, como transforma os dados ESG num ativo estratégico, capaz de melhorar a reputação, atrair investimento e abrir novas oportunidades de mercado.

Empresas que ainda olham para a sustentabilidade como custo / obrigação correm o risco de ficar para trás em termos de acesso a financiamento e competitividade global. Por outro lado, empresas que adotam proactivamente as ferramentas de medição e reportem as suas emissões de carbono, integrando fornecedores e processos internos, estarão posicionadas para maximizar os incentivos financeiros, reduzir custos de capital e consolidar a sua posição como líderes de mercado.