Formação: Um contributo para melhorar a literacia e caminhar para um conhecimento ambiental mais consistente

O conhecimento, a inovação ou a investigação são palavras-chave quando se fala em mudança de paradigma. E são muitos os debates em torno da necessidade de colocar e aplicar o conhecimento na atividade empresarial com Portugal a ser reconhecido pelo seu potencial na investigação e conhecimento. Mas afinal que importância tem a formação e, em simultâneo, as instituições na tão desejada mudança de paradigma? Esta foi uma das perguntas que a Ambiente Magazine colocou a diversas instituições de ensino e de investigação.

 O CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental) da Universidade do Porto (UP) é uma associação sem fins lucrativos, dedicada à investigação, divulgação e transferência de tecnologia na área das Ciências Marinhas e Ambientais. Vítor Vasconcelos, diretor do CIIMAR, nota uma crescente preocupação da sociedade em “questões globais” com “grande visibilidade a nível mundial” como as “alterações climáticas” e a “contaminação por plásticos”. Contudo, quando avalia a literacia em Portugal, o docente considera que ainda não é elevada, nomeadamente sobre o ambiente marinho. Ainda assim, os progressos “nos últimos anos” são evidentes: “No caso do CIIMAR, a colaboração com o Ciência Viva e, em especial, a dinamização dos Centros de Monitorização e Interpretação Ambiental de Matosinhos e Vila do Conde tem contribuído para melhorar a literacia científica de milhares de pessoas por ano”. Por isso, Vítor Vasconcelos defende o papel do estabelecimento de ensino, cujo objetivo passa por “formar os novos profissionais e contribuir para melhorar a literacia do público”.

Também na Academia das Águas Livres (AAL) é evidente a preocupação com as alterações climáticas, principalmente sobre o impacto nas próximas gerações. Para José Manuel Sardinha, presidente da EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), este é o grande problema ambiental que a humanidade terá que enfrentar na próxima década. A escassez de água também será um desafio, cabendo às entidades gestoras apostar numa “comunicação forte” junto dos seus clientes, de forma a poder sensibilizá-los para a importância do uso eficiente. O presidente da EPAL sublinha que o setor da água, nos últimos 20 anos, teve uma “forte evolução” graças ao “contributo de muitas entidades”, como “municípios, poder central e entidades financiadoras”, conseguindo posicionar-se como um dos mais evoluídos, fazendo “estabilizar as variações de tarifas”. Para o gestor, o papel dos estabelecimentos de ensino é de grande relevância na transmissão das matérias ambientais, visto que os principais desafios para o futuro passam pela “mudança de mentalidade”, procurando um equilíbrio entre o Homem e consumo dos recursos oferecidos pela natureza.

[blockquote style=”2″]A aplicação deste know-how deve ser melhorada[/blockquote]

Na NOVA School of Science and Technology, as questões ambientais também têm vindo a ganhar um papel cada vez mais central. Quem o diz é Júlia Seixas, presidente do departamento de Ciência e Engenharia do Ambiente e investigadora no CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade), destacando que a Engenharia do Ambiente respondeu cabalmente à compreensão e solução dos problemas ambientais. Para a académica, Portugal tem know-how no domínio ambiental e, em especial, na Engenharia do Ambiente, estando “ao nível dos melhores da Europa e de outras partes do mundo”. Contudo, a aplicação deste know-how deve ser melhorada, adicionando “mais valor para o mercado e para a sociedade”. Quando avalia a taxa de literacia em Portugal, Joana Seixas considera que “a grande maioria dos portugueses mostra sensibilidade e preocupação,” mas “falta walk the talk”, contrapõe, frisando que “uma sociedade mais exigente é uma mais valia porque incentiva a mais inovação”. Quanto ao papel das instituições, essas “são fundamentais na formação de diplomados com capacidade e competência para serem decisivos em termos do mercado de trabalho” e “ao longo da vida”, sustenta.

Para Catarina Paiva, diretora de Programas de Inscrição Aberta do ISEG Executive Education, as matérias ambientais são cada vez mais um tema interessa às empresas e profissionais e que, em consequência desse interesse, terá a curto-médio prazo um “impacto positivo nas atividades do tecido empresarial português”. No entanto, ao nível comportamental e de consumo ainda não existem dados que sustentem uma opinião, mas ao nível da procura por formação na área da sustentabilidade, nota-se desde o início de 2020 um crescimento. Por isso, a docente não tem dúvidas do papel central das instituições: “Compete-nos assegurar que acompanhamos o que são as necessidades do mundo, os desafios das organizações e profissionais e encontrar as melhores soluções de formação para responder a todas as partes”.

[blockquote style=”2″]Os estabelecimentos de ensino têm um importante papel[/blockquote]

Do lado da plataforma NAU, serviço desenvolvido pela Unidade FCCN da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), também há total concordância sobre o quão importantes são as questões ambientais. Pedro Barbosa, gestor da plataforma NAU, considera que há uma “crescente preocupação com a temática”, pois atinge várias faixas etárias e espectros económicos: “Devemos todos zelar pelo ambiente e o alerta que tem sido feito demonstra que existe sempre algo que devemos melhorar nos nossos comportamentos individuais e comunitários para ajudar a proteger o planeta terra”. E, por isso, os estabelecimentos de ensino têm um importante papel: “Em alguns casos, é apenas no contexto escolar que muitos alunos têm o contacto real com as temáticas ambientais e ações que se podem fazer para proteger o ambiente”. Na maioria dos casos, “existem ações de sensibilização ambiental”, incutindo comportamentos corretos e explicando as consequências. No caso específico da NAU, a plataforma serve para promover cursos e dar apoio técnico na sua conceção, sendo que as entidades parceiras detêm a competência para gerir e criar conteúdos, podendo estabelecer parcerias que envolvam mais temáticas ambientais, refere.

Atualmente, é notória a perceção e sensibilidade do cidadão para os problemas ambientais, sejam eles a poluição da água, a poluição do ar, os resíduos sólidos, o consumo de energia, ou as alterações globais. Ana Isabel, diretora do departamento de Ambiente e Ordenamento, da Universidade de Aveiro, considera que o cidadão está hoje muito mais consciente do impacto das suas atividades sobre o ambiente, o que o torna “mais propenso a adotar atitudes e hábitos de vida e consumo” que exerçam um menor impacto negativo sobre o meio-ambiente: “É possível identificar na sociedade portuguesa, através de diversos meios, evidencias de uma crescente sensibilização, preocupação e mesmo ativismo, em matéria de ambiente”. Ao nível da literacia, a docente considera que Portugal acompanha o desenvolvimento e a investigação que é feita na área ambiental a nível internacional, estando nos rankings superiores em várias vertentes. E a contribuir para este aumento de literacia encontra-se também uma maior preocupação dos agentes económicos geradores de produtos e serviços em demonstrar quais os efeitos do seu produto ou serviço sobre o ambiente. Para além da formação especializada em Engenharia do Ambiente, é notório que em várias outras áreas de Ciências e Engenharia os currículos de formação integram as questões ambientais, o que demonstra o reconhecimento da transversalidade e necessidade de conhecimento neste domínio. No entanto, atenta a docente, a integração deste nível de conhecimento ainda não está devidamente consolidado, com o rigor e detalhe que se exigem dada a complexidade do assunto. E no que diz respeito à sociedade, há ainda “franjas relevantes” com quem é preciso melhor trabalhar os níveis de formação ambiental e os benefícios que advêm para o pais e planeta: “Globalmente, o sentido de responsabilidade individual e coletiva e da perceção do planeta como um ecossistema vulnerável que suporta a nossa vida e dos que nos sucedem é ainda muito frágil”. Depois, ao nível da formação, a transmissão de conhecimento deve ser suportada em especialistas com competência especifica na matéria, sublinha, alertando para o facto de não se correr o risco de tornar banais e meramente descritivas, e uma “moda”, as questões ambientais. Ainda assim, Ana Isabel Marinho reconhece o avanço que tem sido realizado em Portugal neste domínio da formação e sensibilização do indivíduo, e da sociedade em geral, para as questões do ambiente.

[blockquote style=”2″]Uma educação para a sustentabilidade e cidadania global, cada vez mais consistente[/blockquote]

“Uma educação de qualidade” é a solução para “inverter a tendência”. Quem o diz é Cristina Albuquerque, vice-reitora da Universidade de Coimbra para os Assunto considera que a “consciencialização” dos “impactos da ação humana no ambiente é, felizmente, cada vez mais evidente”, com os jovens a estarem na linha da frente, preocupados com a “preservação da vida e equilíbrio ambiental em todas as suas dimensões, e constituem-se como agentes de transformação comportamental e política”, afirma. Este alinhamento “coloca, em primeiro plano, a necessidade de uma educação para a sustentabilidade e cidadania global, cada vez mais consistente e orientada para o aprender-fazendo, desde os primeiros anos de escolaridade”, até porque “nem sempre o acesso a maior informação se traduz em maior conhecimento”: “Há um gap relativo do modo como a informação técnica pode ser divulgada, de forma compreensível e adequada, a diferentes tipos de destinatários”, avisa. Além disso, as instituições têm “um papel crucial” visto que lhes cabe a “produção e divulgação de (novas) evidências científicas, e a construção de soluções e respostas inovadoras” para “a preservação das gerações vindouras”.

A Universidade do Algarve (UAlg) acredita que “as instituições de ensino superior (IES) têm de estar preparadas para oferecer, a nível da educação, programas inovadores que procurem a interdisciplinaridade, a aplicação da ciência experimental a problemas reais e a integração do conhecimento e da inovação com a participação de cidadãos e empresas”. A vice-reitora para a Investigação e Internacionalização da UAlg, Alexandra Teodósio, diz mesmo que “as questões ambientais estão na agenda”, e que as “metas para a próxima década colocam as ameaças à natureza como um ponto obrigatório a resolver”. A instituição algarvia faz a sua parte, disponibilizando “vários cursos que visam fornecer as competências adequadas” para atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas.  No entanto, Alexandra Teodósio defende que “a questão da sustentabilidade ambiental tem que ser abordada a um nível mais transversal e não apenas nos cursos superiores na área do ambiente/biologia”, sendo que a solução pode passar pela “integração dos estudantes de diferentes áreas científicas em projetos comuns e concretos. As IES são os agentes determinantes para a criação de uma nova geração de cidadãos inovadores que decidem com conhecimento técnico-científico, respeitando a natureza e adaptados aos novos desafios sociais”, sublinha.

Ofertas Formativas:

CIIMAR (Centro Interdisciplinar De Investigação Marinha E Ambiental)

  • Mestrado em Recursos Biológicos Aquáticos (dois anos)
  • Doutoramento em Contaminação Ambiental e Toxicologia (quatro anos)

Academia das Águas Livres (AAL): NOVA School of Science and Technology

  • Pós-Graduação em Tecnologias e Gestão da Água (dez meses, em regime part-time)
  • Programa Avançado de Energias Renováveis no Setor da Água (2019)
  • Valorização Agrícola de Lamas de ETAR (início março de 2020

NOVA School of Science and Technology

  • Licenciatura em Engenharia do Ambiente (LEA), corresponde a um 1.ºciclo (Ano letivo 2021/2022 – três anos letivos, ou seja, seis semestres, correspondendo a um total de 180 ECTS)
  • Mestrado em Engenharia do Ambiente (MEA), corresponde a um 2.º ciclo (Ano letivo 2021/2022 – dois anos letivos, ou seja, quatro semestres, correspondendo a um total de 120 ECTS)

ISEG Executive Education:

  • Pós-Graduação em Gestão da Sustentabilidade (duração de 126 horas; decorre de 7 de outubro de 2021 a maio de 2022, às terças e quintas-feiras, entre as 18h30 e as 22h30)
  • “Sustainable Finance: Green and Climate Finance” (segunda edição; duração de 56 horas. Decorre de 2 de junho a 29 de setembro de 2021, com interregno em julho e agosto. As sessões decorrem às quartas-feiras das 9h às 18h.
  • Sustainability – a Corporate Journey (apresentações em breve)

NAU:

  • “Educação para a sustentabilidade” (Duração de 39h. É um curso aberto durante um curto período de tempo. Começou no dia 2 de fevereiro e é feito por módulos, disponibilizados gradualmente. O curso irá terminar a 22 de março)
  • “O Futuro das cidades, os cidadãos e UE: construção com o poder local” (Duração de aproximadamente 3 horas. O formando pode aceder em qualquer momento e fazer ao seu ritmo até ao dia 30 de junho)

Universidade de Aveiro (UA):

  • Licenciatura em Engenharia do Ambiente (LEA), corresponde a um 1.ºciclo (Duração de três anos, organizado em seis semestres=
  • Mestrado em Engenharia do Ambiente (MEA), corresponde ao 2.ºcilco (Duração de dois anos, organizados em quatro semestres)
  • Mestrado em Sistemas Energéticos Sustentáveis (MSES), lecionado em colaboração com outros departamentos da UA (Duração de dois anos, organizados em quatro semestres)
  • Programa Doutoral em Ciências e Engenharia do Ambiente (PDCEA); (Duração de três anos)
  • Programa Doutoral em Território, Risco e Políticas Públicas (PDTRPP); ((Duração de quatro anos)

Universidade de Coimbra (UC)

  • 1º ciclo – Licenciatura em Engenharia do Ambiente (seis semestres), ministrada no Departamento de Engenharia Civil
  • 2º ciclo (a maioria das quais com quatro semestres) – Mestrado em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos; Mestrado em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal; Mestrado em Recursos Biológicos, Valorização do Território e Sustentabilidade; Mestrado em Ecologia; Mestrado em Gestão Sustentável do Ciclo Urbano da Água (três semestres, em parceria com a Universidade do Minho); Mestrado em Eficiência Acústica e Energética para uma Construção Sustentável (três semestres); Mestrado em Engenharia do Ambiente; Mestrado em Geografia Física/ Ambiente e Ordenamento do Território; Mestrado em Energia para a Sustentabilidade; Mestrado em Geografia Humana, Planeamento e Territórios Saudáveis e o International Master in Applied Ecology.
  • 3º ciclo (quatro programas doutorais, com a duração de seis semestres) – Doutoramento em Engenharia do Ambiente; Programa Doutoral em Eco-Construção e Reabilitação (três anos), Programa Doutoral em Desenvolvimento Sustentável da Floresta (interdisciplinar e em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e Doutoramento em Sistemas Sustentáveis de Energia.

Universidade do Algarve (UAlg)

  • Licenciaturas: Agronomia; Biologia Marinha; Biologia; Bioquímica; Biotecnologia; Gestão Marinha e Costeira
  • Mestrados: Aquacultura e Pescas; Arquitetura Paisagista; Biologia Marinha; Biologia Molecular e Microbiana; Biotecnologia; Ciclo Urbano da Água; Geomática; Gestão da Água e da Costa – Erasmus Mundus; Gestão Sustentável de Espaços Rurais; Hortofruticultura; Inovação Química e Regulamentação – Erasmus Mundus; Qualidade em Análises – Erasmus Mundus; Recursos Biológicos Marinhos – Erasmus Mundus; Sistemas Marinhos e Costeiros.
  • Doutoramentos: Ciências da Terra do Mar e do Ambiente; Ciências Biológicas; Ciências Agrárias e Ambientais.
  • Pós-Graduações: Cidades Sustentáveis; Novas Tecnologias Aplicadas Ao Ciclo Urbano da Água; Sistemas de Informação Geográfica, Adaptação às Alterações Climáticas e Mitigação.
  • Curso Profissional: Energia e Climatização de Edifícios.

*Este artigo foi publicado na edição 87 da Ambiente Magazine.