Governo quer provocar uma “tripla disrupção” nos setores do têxtil, calçado e resina

Os setores do têxtil e vestuário, calçado e resina têm até às 17h do  dia 10 de agosto para enviar propostas que promovam a inovação em prol da bioeconomia sustentável. O lançamento do convite à constituição de consórcios para a “Promoção da Bioeconomia Sustentável” foi feito esta segunda-feira numa cerimónia presidida pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes. Com uma dotação total de 129,5 milhões de euros, este apelo faz parte da estratégia de bioeconomia, um dos pilares do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Dos 129,5 milhões, 71 milhões serão alocados aos setores do têxtil e vestuário, 41 milhões no do calçado e 17,5 no da resina natural. O convite lançado pelo Fundo Ambiental destina-se, assim, a apoiar a modernização e o desenvolvimento da indústria nacional nas três fileiras.

“Temos um desafio muito grande com o PRR: 37% das verbas são dedicadas à Ação Climática”, começou por dizer Matos Fernandes, sublinhando a importância de existirem “projetos muito robustos” para que se possam concretizar. Apesar do tempo ser “curto”, o ministro do Ambiente sabe que os processos, projetos e programas têm necessariamente graus de complexidade diferentes. E deu como exemplo a linha Vermelha do Metro de Lisboa, que, por ser uma empreitada, é um processo “complexo” devido a ter “um tempo de execução muito grande”. No entanto, outros poderão ser de curta duração: “Estamos a muito poucos dias de lançar o aviso para eficiência energética dos edifícios, em que os projetos duram um, dois ou três meses”. E depois “podem ainda ter esta ambição e novidade”, como é o “projeto da bioeconomia”, e que obriga a “começar muito cedo”, exemplificou. Este é o primeiro aviso a ser lançado no âmbito do PRR: “Começa agora para ter sucesso. Temos de provocar mudanças estruturais numa parcela do tecido industrial português”, disse, sublinhando que, para se ir ao encontro da ambição, é fundamental que os atores se alinhem da melhor forma possível. “E aqui, os clusters e os laboratórios colaborativos são muito bons exemplos”.

Para Matos Fernandes, é fundamental garantir que as entidades já estruturadas sejam os “líderes” destas mudanças: “Temos  consciência de que, para apostar numa economia de baixo carbono e resiliente, temos que, em primeiro lugar, colocar a inovação no centro daquilo que são nossos processos, mas temos também que envolver as indústrias, quando falo o setor do calçado, ou as próprias indústrias florestais, quando falo no setor da resina”.

No âmbito deste projeto, há uma “tripla disrupção” que se pretende provocar, a começar pela forma como o tecido industrial perceciona o ambiente: “Ainda há quem ache, mal, que o ambiente é um custo, uma preocupação que temos de ter quando produzimos. Esta é uma visão anacrónica”. Aliás, está no “coração do PRR, do European Green Deal e do Roteiro para a Neutralidade a certeza de que ambiente e economia pertencem à mesma face de uma só moeda e os investimentos que vão fazer crescer a economia são os investimentos na sustentabilidade”, afirma Matos Fernandes. A condução dos investimentos também faz parte desta “disrupção”: “É central estabelecer uma coordenação forte e provocar relações de simbiose entre investigação e inovação, a transferência de conhecimento e as empresas”. Pretende-se assim “criar ecossistemas económicos sustentáveis” em cada um dos três setores, refere. Por último, a forma como as instituições se relacionam também é relevante nesta disrupção, reduzindo os “riscos para os projetos” e, para isso, é necessário uma “partilha grande”.

João Pedro Matos Fernandes não tem dúvidas da concretização deste projeto até porque “começamos a trabalhar com tempo”. E fez parte do parte do programa deste Governo a criação de uma estratégia para a bioeconomia: “Ainda não a temos pronta porque quisemos conduzir esta estratégia para a bioeconomia sustentável de forma paralela daquilo que foi o plano de ação para a economia circular”. Num momento em que ainda pouco se sabe, o chefe da pasta do Ambiente constata ser prioritário acompanhar os setores que, de facto, já conseguem propor e liderar a mudança: “Por isso, escolhemos o têxtil, o calçado e a resina que são setores altamente criadores de emprego e com alguma concentração territorial”.

Relativamente à fileira do têxtil e do calçado, mesmo sendo setores “líderes na indústria portuguesa”, são também os que fizeram uma transformação extraordinária: “Estas empresas conseguiram sempre, e cada vez mais, liderar à escala mundial no seus processos produtivos (…) e com muito menos impactos ambientais do que se tinha há 20 ou 30 anos”. E o têxtil, pela forma massificada com que é utilizado, é o segundo setor da indústria mais poluente do mundo: “Há um caminho muito grande para continuar a percorrer, mas com a certeza de que há já um balanço”. O mesmo não se pode dizer do setor da resina: “No final da década de 70, Portugal era o terceiro maior produtor de resina natural do mundo. Hoje já nem há número para nós”, lamenta. Desta forma, é essencial voltar a utilizar a resina natural que é a “base de muitos produtos de colas, vernizes e tintas” e que foram substituídos por “resinas sintéticas”, que têm como origem matérias-primas fósseis: “Estamos mesmo em tempo para podermos valorizar produtos das florestas que não sejam apenas a madeira”, sucinta.

O ministro do Ambiente voltou a reiterar que a economia mundial tem de crescer para poder gerar o bem-estar que o conjunto dos concidadãos espera: “Mas a economia não pode crescer fora dos limites do sistema terrestre e, por isso, tem que fazer este uso dos produtos de bioeconomia, sob pena de estar a rebentar com aquilo que são os recursos que temos”. Apesar da “pluralidade destes projetos e de como vai ser complexo levá-los a cabo”, o ministro do Ambiente está confiante: “A aposta na economia sustentável vai ser, certamente, uma aposta diferenciadora para a indústria portuguesa e, por isso, é tão relevante que o PRR lhe tenha dado cobertura naquilo que é o financiamento destes mesmos setores”.

O convite à formação de consórcios para a promoção da bioeconomia sustentável vai ser feito em duas fases distintas: apresentação aos consórcios e elaboração dos projetos. Os consórcios que se candidatem a estes fundos deverão apresentar projetos de investigação, desenvolvimento e inovação desde a investigação até à colocação no mercado, desenvolver bases de dados, fazer formação e promover os produtos nos mercados externos, entre outras vertentes. A informação pode ser consultada no site do Fundo Ambiental.

Sessões de esclarecimento adicionais: 

  • Fileira do têxtil e vestuário – 17 de maio (15h00 – 16h30)
  • Fileira do calçado – 18 de maio (11h00 – 12h30)
  • Fileira da Resina natural – 19 de maio (15h00 – 16h30)