Grande parte dos riscos e acidentes ambientais decorrem de “acidentes de governação”, diz presidente da APEE 

“ESG não é um sistema de responsabilidade social, nem um sistema de estruturação da Agenda 2023 e dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)”, começa por notar Mário Parra da Silva, Presidente da Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE), considerando tratar-se de “como perceber o que é uma organização: o que ela é na grande maioria dos casos, não é apenas o que aparece nos relatórios de natureza económica financeira, mas sim os riscos que corre e que poderá vir a correr resultante de práticas que hoje tem e que ainda não avalia em termos de riscos futuros”.

O responsável, que falava na sessão de abertura da ESG WEEK, abordou a evolução verificada no conceito de organização: “Até há muito pouco tempo, a questão do risco ambiental não era como é hoje”. Aquilo que se começou a assistir, explicita o responsável, foram os “sarilhos que muitas empresas” começaram a cometer com “problemas ambientais” algo que traduziu no “desaparecimento do valor das ações” de um dia para o outro: “Não havia muita consciência de riscos sociais, mas depois percebeu-se que poderia haver um menor investimento numa determinada região. Se, nessa região, não fossem asseguradas as condições sociais, como a segurança nas ruas ou as escolas a funcionar, podia desaparecer o valor acionista”.

No entender de Mário Parra, a grande parte dos riscos e acidentes ambientais decorrem de “acidentes de governação”, isto é “problemas de corrupção, decisões de má qualidade ou pouco refletidas (…) e depois aparece como acidente social ou ambiental”. Apesar de ser algo que “ainda está a ser descoberto”, o presidente da APEE relembra que a visão “que tivemos durante muito tempo” é que entre o capital e o resultado no cliente, há um “mal necessário”, chamado organização: “A organização é feita de pessoas e as pessoas são incertas, inseguras e imprevisíveis”

“Se não houvesse opinião pública, não havia ESG, ou havia, mas era restrita aos mercado financeiro”

Com o passar dos anos, começou a surgir um conceito novo de capitalismo, ao qual o Fórum Económico Mundial chamou de “stakeholder capitalism”, onde  o centro não está na capital, mas na organização. Portanto, tudo o que tem que ver com a “governação da organização” é muito importante: “Os relatórios que levam em conta a exibição dos riscos, as relações sociais e a  governação são muito importantes para saber se os mercados financeiros estão a colocar o dinheiro no sítio certo”, precisa.

Em jeito de conclusão, Mário Parra considera que a opinião pública formada pela comunicação social, redes sociais ou o medo pelas gerações futuras não terem um planeta sustentável, é que tem elevado o conceito de ESG: “(Aliás), se não houvesse opinião pública, não havia ESG, ou havia, mas era restrita aos mercado financeiros, isto é “uma forma dos acionistas avaliarem se valia pena meter lá o dinheiro ou não”, remata.

A ESG WEEK é uma iniciativa da APEE e decorre entre os dias 17 e 21 de abril no Auditório do Espaço Atmosfera M, em Lisboa. O ambicioso e abrangente pacote de medidas adotado pela Comissão Europeia, nomeadamente a Taxonomia Europeia ou a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) estão entre os temas mais importantes desta edição.