GS1 Portugal quer ajudar empresas na definição de metas concretas no rumo à neutralidade carbónica até 2050

Lançado em Portugal em 2019, o Lean & Green é um programa de certificação das iniciativas de autorregulação que empresas se propõem adotar para reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros Gases de Efeito de Estufa (GEE) decorrentes da respetiva operação logística de transporte. O Lean & Green, que dá acesso a uma rede de contactos privilegiada aos participantes, premeia com a atribuição simbólica de “estrelas” as empresas que consigam diminuir gradualmente as suas emissões de CO2, tornando-se, assim, mais sustentáveis e reduzindo custos. Este programa é visto como a maior iniciativa europeia dirigida à cadeia de valor com o objetivo de reduzir as emissões de GEE, através da implementação pelas empresas de boas-práticas, procedimentos e metodologias, definidos em conjunto com a GS1 Portugal.

“Queremos apoiar o tecido empresarial português na definição de metas concretas, tangíveis e auditáveis de redução da respetiva pegada carbónica, para que possa acrescentar um contributo válido, sustentável e mensurável ao combate às alterações climáticas”, começa por dizer, em entrevista à Ambiente Magazine, João de Castro Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal, explicando que o processo inicia-se com a definição de um plano de ação, para o máximo de cinco anos, para a prossecução da primeira meta: “a redução de 20% das emissões”. A empresa é, assim, sujeita a uma “auditoria inicial que avalia a pegada de carbono das atividades logísticas de transporte” assim como a “eficiência e exequibilidade” do plano: “Ao longo dos cinco anos, a empresa será acompanhada pela entidade responsável – no caso português, a GS1 Portugal -, com encontros regulares para avaliação da implementação das medidas definidas, que serão avaliadas por uma das auditoras independentes parceiras do programa”, explica. Uma vez alcançada a meta inicial, continua o diretor executivo da GS1 Portugal, definem-se “metas cumulativas subsequentes também auditáveis e premiadas com estrelas, até um máximo de cinco, com vista à neutralidade carbónica da empresa até 2050”.

Sendo a entidade portuguesa responsável pela representação e coordenação locais desta iniciativa de adesão voluntária das empresas participantes, a GS1 Portugal disponibiliza (às empresas) uma “metodologia de implementação de um programa de autorregulação das cadeias logísticas no sentido da eficiência económica e ambiental”, logo, com impacto na sustentabilidade: “Somos a entidade parceira da comunidade empresarial na definição das metas de redução, bem como do plano de ação para as atingir, preparando a avaliação de resultados, da responsabilidade de entidades auditoras parceiras do projeto, com reconhecida notoriedade a nível internacional, a Bureau Veritas, Deloitte e EY”, refere.

Com o programa “Lean & Green“, a GS1 Portugal, que começou o seu trajeto com a introdução do código de barras em Portugal há 35 anos, é agora pioneira na promoção da sustentabilidade das empresa: “A sustentabilidade tem vindo a assumir um papel crucial enquanto fator de competitividade, estimulando as empresas a progredir no sentido de um futuro que garanta o equilíbrio entre fatores económicos, circunstâncias ambientais, imperativos sociais e culturais, tanto pelo cumprimento da legislação, como por via de práticas voluntárias”. Nesse sentido, precisa João de Castro Gimarães, a GS1 Portugal assumiu também esta “prioridade estratégica” e, entre outras medidas, chamou a si a representação em Portugal do “único projeto de certificação de empresas e organizações empenhadas, com planos concretos, verificáveis e auditáveis, na redução de emissões de GEE nas respetivas operações logísticas de transporte, ao longo de toda a cadeia de valor”.

O compromisso assumido por cada empresa participante prevê a meta de neutralidade carbónica até 2050, com metas intercalares, associadas a uma percentagem de redução concreta, reconhecida com uma estrela “Lean & Green“. Atendendo a que o objetivo último deste projeto é “contribuir para o cumprimento das metas definidas pelo Acordo de Paris e pelo Pacto Ecológico Europeu”, que visam a neutralidade carbónica até 2050, a iniciativa deveria extinguir-se nessa data: “Mas, admitindo que 2050 seja uma meta que, em algumas circunstâncias, carecerá de ajustamento, o programa “Lean & Green” durará tanto tempo quanto o que for necessário ao ajustamento faseado das empresas que queiram acrescentar o seu contributo e comprometer-se com o propósito da neutralidade carbónica das respetivas operações logísticas e de transporte”, assegura o responsável.

[blockquote style=”2″]Metodologia de implementação rigorosa, verificável e auditáve[/blockquote]

Relativamente às necessidades que esta plaforma visa responder, o diretor-executivo da GS1 Portugal destaca aquela que é mais expressa pela comunidade empresarial portuguesa: “Dispor de um programa rigoroso, neutro e independente de autorregulação das cadeias logísticas e de transporte, no sentido da redução do respetivo impacto ambiental, em particular no que se refere às emissões de GEE, contribuindo para a redução do respetivo impacto nas alterações climáticas, mas também garantindo a eficiência”.  Nesse sentido, o programa “Lean & Green” disponibiliza uma “metodologia de implementação rigorosa, verificável e auditável”, permitindo “premiar as empresas que efetivamente demonstrem os contributos de redução com que se comprometem”. Para além disso, ao aderirem esta iniciativa, “as empresas aderentes integram uma plataforma colaborativa internacional de partilha de boas-práticas e abordagens de que todos os participantes podem extrair aprendizagens relevantes para o seu próprio plano de ação de redução de emissões e gerar entre si soluções de colaboração e parceria”, sucinta.

Questionado sobre com é que o programa vai incentivar as empresas a alcançar um nível de sustentabilidade mais elevado, o responsável assegura que o incentivo é intrínseco ao programa: “Esse racional de incentivo à mobilização para patamares de sustentabilidade pela redução das emissões de GEE inerentes às operações logísticas e de transporte é uma premissa do programa com que todos os participantes se comprometem”. De um modo mais abrangente, acrescenta o diretor executivo da GS1 Portugal, enquanto participantes neste projeto, “as empresas passam a fazer parte de uma comunidade de mais de 600 empresas comprometidas” com objetivos de sustentabilidade e redução de emissões comuns, com potencial para se “demarcarem e serem referência para as demais pelos objetivos alcançado”, sendo que essa colaboração entre “pares” e o “posterior reconhecimento pela restante comunidade”, uma vez atingidas as metas, são também “incentivos importantes”.

Tem procurado o programa todo o tipo de empresas com operações logísticas internas ou externas. E, desde a apresentação em Portugal, em final de 2019, o programa tem registado grande recetividade: “No final de 2020, com a atribuição do primeiro Prémio “Lean & Green” à Santos e Vale e das primeiras estrelas à Delta Cafés e à Nestlé Portugal, o número de adesões tem sido crescente”. Atualmente, diz o responsável, o programa conta com empresas produtoras, transportadoras, operadores logísticos, retalhistas ou fornecedores de serviços. Do ponto de vista setorial, destaque para empresas do setor dos FMCG, têxtil ou retalho. Já em termos da respetiva dimensão, participam “pequenas, médias e grandes empresas com implantação nacional e multinacional”. Em traços gerais, independentemente da categoria e setor em que operam, da área de implantação e dimensão, participam empresas cuja visão “compreende a sustentabilidade como prioridade”, coincidindo com os “propósitos do programa” e que, “neste como noutros eixos estratégicos da respetiva intervenção, são pioneiras, audaciosas, antevendo neste programa uma oportunidade de liderança”, sucinta.  Quanto a casos de sucesso, João de Castro Guimarães destaca a “Delta Cafés” e a “Nestlé Portugal” que, no final de 2020, receberam a “primeira estrela Lean & Green”, atestando a capacidade destas duas empresas de “redução de pelo menos 20% dos gases com efeito de estufa inerentes à respetiva operação logística e de transporte”. Para além destes dois casos, também a “Santos e Vale que, em 2020 viu a seu plano de ação com vista à redução de emissões aprovado e validado”. Este ano, a esperança depositada na adesão da Bel Portugal, numa parceria colaborativa com a Steff; da CHEP, do Pingo Doce, entre outras empresas: “Estas empresas estão agora a elaborar os respetivos planos de ação para verificação e validação pelas auditoras parceiras do projeto”, revela.

[blockquote style=”2″]Repensar o modelo de consumo e toda a cadeia de valor, a montante e a jusante, é um exercício complexo[/blockquote]

Do ponto de vista do diretor executivo da GS1 Portugal, as sociedades esperam do tecido empresarial, independentemente da categoria e setor, que desempenhe um “papel exemplar, de liderança, de mobilização dos demais interlocutores institucionais, públicos e privados, e cidadãos na adoção de iniciativas que façam a diferença”. Sem com isto “demitir das respetivas responsabilidades (coletivas e individuais)” os restantes interlocutores: “Reconhecemos no tecido empresarial a aptidão e capacidade para desempenhar, efetivamente, esse papel de liderança, dando o exemplo”. Em particular, no que à pegada de carbono diz respeito, está estudado o impacto do tecido empresarial, das atividades económicas: “E o desafio que Lean & Green lhes lança, com vista à disponibilização de produtos e soluções com uma menor pegada de carbono, cada vez mais alinhados com uma economia circular, parece-nos um contributo adequado e muito relevante no sentido da prossecução dos objetivos definidos pelo Acordo de Paris e pelo Pacto Ecológico Europeu”.

Sobre o nível e atuação das empresas, o responsável reconhece que, em Portugal, encontra-se entidades com “desempenhos” ao nível dos melhores na Europa e no resto do mundo: “É frequente, nos nossos primeiros contactos com as empresas que manifestam interesse em aderir, testemunharmos que já têm em curso múltiplas medidas coincidentes com o objetivo do programa”. Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer: “Para muitas empresas, as alterações climáticas ainda não são uma prioridade. Mas sentimos que este paradigma tem vindo a mudar e que, quer seja por redefinição de prioridades e metodologias, seja porque os clientes alteraram os seus requisitos, seja porque o consumidor final valoriza e escrutina este tipo de iniciativas, temos vindo a assistir a um claro movimento de mudança”. Sendo que o caminho até à neutralidade carbónica é uma maratona, o diretor executivo da GS1 Portugal reitera pela necessidade da resiliência: “A inscrição do tema no cerne da agenda do executivo comunitário foi muito importante, com o Pacto Ecológico Europeu, mas são previsíveis desafios substanciais inerentes à respetiva operacionalização”. E mesmo com os “passos fundamentais” que têm sido dados no sentido da “consagração da temática e da importância do combate às alterações climáticas”, João de Castro Guimarães atenta que “repensar o modelo de consumo e toda a cadeia de valor, a montante e a jusante, é um exercício complexo”. A gestão com vista à economia circular, à escala micro e macroeconómica, é ainda uma “oportunidade em análise em muitos contextos e latitudes”, assim como a “orientação da tecnologia” para estas prioridades: “As fontes de energia renováveis e não renováveis e as matérias-primas carecem da revisão cuidada do respetivo ciclo de vida”, atenta. Da “inúmeras variáveis em equação”, o importante é “dar continuidade ao que está a contribuir, de facto, para o objetivo último definido”, como o programa “Lean & Green” e outros, certamente, com incidência noutros vetores da sustentabilidade: “Que se ajuste, entretanto, o plano de ação, que se adaptem as variáveis endógenas e exógenas à medida que surjam novas evidências, se for caso disso, e se aprofunde então a reflexão. Mas, que estas dinâmicas, fundamentais à evolução, não sejam agentes inibidores dos contributos que nos vão aproximando do nosso objetivo comum”, sucinta.

Quais as perspetivas para o futuro?

Acreditamos num futuro mais equilibrado, do ponto de vista da sustentabilidade e dos seus elementos fundamentais: económico, ambiental e social / cultural. É nesse sentido que se dirige o nosso contributo, quer materializado no programa Lean & Green; quer nos restantes serviços de valor acrescentado que disponibilizamos, o Validata, a Sync PT, o Verified by GS1 ou o Gobal Data Model; quer ainda, de modo mais elementar, nos nossos standards.

No que mais diretamente se relaciona com a nossa área de intervenção, parece-nos incontornável o redesenho das cadeias de distribuição e das cadeias de valor.

A eficiência, tal como a GS1 Portugal a perspetiva, assente em standards globais, interoperáveis, garantia de rastreabilidade, segurança e qualidade, será certamente elemento fulcral desse futuro. A qualidade dos dados e o respetivo acesso em tempo real, em plataformas sincronizadas, em que os produtos estão devidamente identificados, com Bilhete de Identidade próprio, em que os seus principais atributos estão verificados com base em critérios válidos e reconhecidos por todos os elos cadeia de valor, parecem-nos premissas fundamentais dessa eficiência.

Este futuro, para nós, é já hoje, com a Sync PT, o nosso ecossistema digital de sincronização e partilha de dados para uma plataforma global, a Global Registry Platform, que torna todos os produtos e até 7 atributos fundamentais de um “bilhete de identidade” visíveis e verificáveis internacionalmente, com base na solução Verified by GS1. Continuamos, por isso, a construir futuro para lá do dia de amanhã.