Guterres pede ação urgente para evitar “catástrofe” ambiental no centro da economia do petróleo

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou ontem, em Abu Dhabi, que as alterações climáticas progridem mais depressa que o previsto, apelando para uma ação urgente para evitar uma “catástrofe”, cita a Lusa.

“Nós estamos aqui enquanto o mundo enfrenta uma grave urgência climática”, declarou Guterres durante uma reunião de dois dias sobre o clima nos Emirados Árabes Unidos, de preparação da cimeira internacional de setembro, em Nova Iorque.

“As alterações climáticas estão a ocorrer agora (…) progridem mesmo mais depressa do que o que previam os melhores cientistas do mundo” e “ultrapassam os nossos esforços para lutar contra”, afirmou o líder da ONU. “Cada semana tem o lote de novas destruições associadas ao clima”, disse ainda, citando “inundações, secas, canículas, incêndios e mega tempestades”.

“As mudanças climáticas vão mais depressa do que nós”, advertiu Guterres, que convocou uma Cimeira em Nova Iorque, para 23 de setembro, porque os países não respeitam determinadas disposições do acordo de Paris de 2015, com o objetivo de limitar o aquecimento a dois graus centígrados até ao final do século.

“Nós sabemos que mesmo que as promessas do acordo de Paris sejam plenamente cumpridas, nós estaremos confrontados a pelo menos mais três graus centígrados até ao final do século, uma catástrofe para a vida tal como nós a conhecemos”, afirmou Guterres. A situação vai continuar a degradar-se a menos que “ajamos agora com ambição e urgência”, acrescentou.

O grupo de especialistas em ambiente da ONU (GIEC) publicou em 2018 um relatório que demonstra que o facto de limitar o aquecimento climático a 1,5 graus centígrados em vez de a dois graus centígrados permitiria reduzir fortemente os impactos negativos.

Limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 graus centígrados implicaria uma redução de quase 50% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 face a 2010, calcularam os especialistas do GIEC, e portanto reduzir drástica e rapidamente o recurso às energias fósseis.

Mas determinados países muito poluentes, como a Arábia Saudita, maior exportador de petróleo, questionaram as conclusões do relatório, suscitando tensões durante as negociações, nomeadamente durante o mais recente em Bona, na Alemanha.

A cimeira de 23 de setembro nas Nações Unidas é apresentada como a primeira reunião mundial sobre as alterações climáticas depois do acordo de Paris em 2015, e será seguida pela conferência anual da ONU sobre o clima que se realizará em dezembro no Chile.

O discurso num dos países mais ligados à produção de petróleo

O secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou num dos países mais ligados à produção de petróleo, os Emirados Árabes Unidos, para que os governantes tomem ação imediata contra as alterações climáticas. “Para mim, é claro que não temos tempo a perder. Infelizmente, ainda não é claro para todos os decisores que governam o nosso mundo”, disse António Guterres.

O apelo foi o mesmo que tem feito: parar a construção de mais centrais elétricas a carvão até 2020, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 45% durante a próxima década e substituir as economias dependentes dos combustíveis fósseis por infraestruturas que usam eletricidade produzida com energias solar e eólica.

O discurso em Abu Dhabi acontece após encontros do secretário-geral português com o grupo dos países mais ricos, o G20, a quem também pediu para apressar tomada de medidas contra as alterações. Estes países são responsáveis por 80% das emissões poluentes, incluindo os Estados Unidos, o único dos 20 que denunciou o acordo de Paris para reduzir o aumento da temperatura global.