Hidrogénio: “Uma solução para descarbonizar em áreas onde a eletricidade não conseguirá atingir”

Em Portugal, o setor dos transportes é responsável por mais de metade do consumo de energia. Desses mais de 50%, a maior fatia diz respeito à mobilidade pesada que dificilmente será eletrificada. Quem o diz é Nuno Moreira, CEO da Dourogás Renovável, lembrando que, primeiramente, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) afirmava que toda a economia teria de ser eletrificada, sendo que, posteriormente, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) assumia que parte dessa descarbonização teria dificuldades em ser alcançada com a eletricidade, dando como exemplo as áreas da mobilidade e da indústria pesada. É precisamente na procura de alternativas que surge o hidrogénio, “uma solução para descarbonizar naquelas áreas onde a eletricidade não conseguirá atingir”, refere.

O responsável, que falava no painel “Produção, Distribuição e Armazenamento de Hidrogénio Verde em Portugal – Oportunidades e Desafios” promovido, esta segunda-feira, 21 de fevereiro, na Conferência Luso-Alemã de Energia, centrou o debate na possível articulação entre o gás natural, o biogás e o hidrogénio no setor dos transportes, tendo em conta a necessidade de descarbonização.

Para o CEO da Dourogás Renovável, este tema reveste-se de extrema importância precisamente por centrar o debate e as ações naqueles setores que são difíceis de descarbonizar. Nesta matéria, a Dourogás Renovável tem apostado em vários projetos de mobilidade a gás natural, alguns seguindo a estratégia dos combustíveis alternativos lançados pela Comissão Europeia, e outros através dos apoios de Bruxelas, havendo uma “especial responsabilidade”: “Hoje, temos a maior rede portuguesa de mobilidade a gás natural e abastecemos mais de mil viaturas todos os dias”. O biometano é algo em que a empresa já trabalha há cinco anos, sendo responsável pelo primeiro projeto de produção de gases renováveis no país para abastecimento de viaturas de resíduos “com a energia desses resíduos”. A Dourogás Renovável é também responsável por outro projeto lançado em Loures mas para uma dimensão ainda maior: “Abastecer biometano para mobilidade da zona de Lisboa. Queremos atingir cerca de 50% do consumo de energia que hoje já existe a gás” na região.

Dentro dos vários projetos, Nuno Moreira assegura que o hidrogénio será o passo seguinte, dando nota do primeiro posto instalado em Santa Iria e de um segundo no Grande Porto, com a candidatura já submetida: “Esperamos vir desenvolver muitos outros a par com os projetos de produção de hidrogénio descentralizado”. O futuro da mobilidade, segundo o CEO da Dourogás Renovável, será a hidrogénio, dando como exemplo a Caetanobus: “Traz-nos um grande orgulho e, no panorama atual de autocarros, está na linha da frente”, constata.

[blockquote style=”2″]Haverá uma competitividade muito grande para a produção de hidrogénio no território nacional[/blockquote]

Quem também concorda que, no caminho para a transição, são necessários outros vetores energéticos é André Pina, Associate Director, Hydrogen Strategy & Origination da EDPR (EDP Renováveis), que vê o hidrogénio renovável com tendo grande potência: “Apresenta muitas sinergias com o nosso modelo atual porque esperamos que a maior parte do hidrogénio produzido seja através de eletricidade renovável”. Torna-se assim imperativo “minimizar e aprofundar” tais sinergias para reduzir ao máximo o custo de produção. O potencial que a EDPR vê são precisamente as “várias componentes de interligação” entre setor elétrico e o setor do hidrogénio: “Vemos que a interligação de eletrolisadores à rede elétrica irá criar sinergias que podem ser exploradas, permitindo otimizar toda a gestão do sistema elétrico”. Um bom exemplo é a “utilização de excedentes de recursos renováveis para a produção de hidrogénio. Existe um conjunto de otimizações que pode ser feito nos sistemas, construção e na gestão”, tirando o “peso que se pode verificar sobre a rede elétrica”.

Apesar do hidrogénio ter ainda um caminho a percorrer, André Pina afirma que “há muito conhecimento a ser gerado”: “No setor da mobilidade, estão a acontecer muitos avanços de forma acelerada”. Contudo, quando se olha para a indústria, o responsável chama a atenção para a necessidade de se perceber “como apoiar os industriais a fazer a transição para o hidrogénio”. Depois de trabalhadas e ultrapassadas todas as dinâmicas, haverá uma “competitividade muito grande” para a produção de hidrogénio no território nacional, considera.