ICNF: “Sem floresta de produção a floresta não terá futuro”

“A floresta é uma preocupação para todos nós, e no verão ainda mais o é: temos, de facto, mudar o nosso comportamento e pensar na floresta como sendo algo que traz rendimento e, ao mesmo tempo, usufruto enquanto espaço de lazer: para isso, tem que haver investimento”. Fátima Araújo Reis, vogal do Conselho Diretivo do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) encerrou esta sexta-feira, 27 de maio, a conferência “Desafios para a Floresta no Horizonte 2030″, realizada no âmbito da Expoflorestal, que decorre em Albergaria-a-Velha, Aveiro.

É precisamente no Centro de Portugal que existem constrangimentos, dificultando o trabalho florestal: “Não podemos querer investimento a uma escala tão reduzida como em propriedade, onde a média será meio, um ou dois hectares no máximo: ninguém consegue trazer rendimento num espaço destes”, atenta. Ao nível das soluções que não tiveram o sucesso desejado, a responsável dá como exemplo as Zona de Intervenção Florestal, onde não foi possível “atingir os objetivos” : “Existem muitas áreas que não estão regulamentadas e, além de propriedade fragmentada, temos muita propriedade sem dono, sendo um grande constrangimento”.

Ainda assim, há instrumentos e projetos que Fátima Araújo Reis está confiante, nomeadamente o Programa da Transformação  da Paisagem: “Temos que ver este programa como uma possível solução para termos um território ordenado e preparado para ser resiliente à passagem dos incêndios rurais”. Das várias medidas que engloba, a vogal do Conselho Diretivo do ICNF destaca o “condomínio das aldeias”, permitindo aos atores locais intervir à volta das freguesia numa faixa de 100 metros: “Temos bons projetos no Centro e é uma região dinâmica e que mais candidaturas fez a esta medida e que está a executar”. Outra das medidas é a criação das “Áreas Integradas da Gestão da Paisagem: um instrumento de gestão que nos vai permitir trabalhar a escala, sendo esta a melhor forma de termos as nossa áreas ordenadas e com a devida fragmentação, promovendo descontinuidade nos territórios para termos uma floresta mais resiliente e o próprio proprietário ter vontade de investir”.

Quando o tema é floresta, Fátima Araújo Reis defende também uma mudança de paradigma, chamando a atenção para a importância de se diferenciar o que é floresta de conservação e de produção: “Temos espaço para todas elas”. Dos 2% do território que o Estado tem sob sua gestão, há espaço para estes dois tipos de floresta: “Temos de mostrar a sociedade que, sem floresta de produção, a floresta não terá futuro e, se não utilizarmos o material do povoamento – a madeira – outros equipamentos serão feitos com materiais que não são ecológicos”, alerta. Portanto, “em vez de estarmos a promover bem à natureza, estamos a prejudicar: temos de trabalhar a sociedade neste espaço e temos que fazer uma gestão mais adaptativa, mas essencialmente pensar que tudo aquilo que plantamos tem um fim”, remata.

Entre os dias 27 e 29 de maio, a Zona Industrial de  Albergaria-a-Velha acolhe a 12.ª edição da Expoflorestal, um evento que já ocupa o lugar de destaque no segmento da indústria florestal, agrícola e de ambiente.