INE: rendimento da atividade agrícola deverá descrever mais de 10% em 2025
O INE acaba de divulgar a primeira estimativa das Contas Económicas da Agricultura (CEA) para o ano de 2025, dando conta que o rendimento da atividade deverá registar um decréscimo de 10,7%, após dois anos com crescimentos significativos (17,3% em 2023 e 15,2% em 2024).
Esta evolução é fortemente influenciada pela redução nominal dos outros subsídios à produção (-34,3%), que regressam a níveis habituais após o pagamento de um montante elevado destas ajudas em 2024. Por outro lado, estima-se que o Valor acrescentado bruto (VAB) registe um aumento nominal (+1,2%), refletindo uma redução da produção (-0,4%), menos pronunciada que a verificada no consumo intermédio (-1,4%).
Produção vegetal
O decréscimo nominal da Produção vegetal (-4,4%) decorre da diminuição em volume (-3,7%) e dos preços de base (-0,8%). Com exceção dos Vegetais e produtos hortícolas e dos Frutos, a maioria dos produtos vegetais deverá registar reduções em valor.
A produção de Cereais deverá diminuir 9,1% em volume, destacando-se o acentuado decréscimo do trigo (-25,5%), da cevada (-21,6%) e da aveia (-29,3%). As produções de milho e de arroz apresentam ambas uma redução de 5%. A redução em volume da produção cerealífera foi agravada pelo decréscimo dos preços de base (-12,4%).
As condições meteorológicas adversas durante o período de desenvolvimento das culturas refletiram-se na diminuição da produção de cereais, sendo o centeio a única exceção. Os parâmetros de qualidade ficaram aquém dos níveis habituais, especialmente na cevada, o que levou ao direcionamento de parte da produção para a indústria de ração animal.
As Plantas forrageiras deverão registar um acréscimo em volume (+15,0%) e uma acentuada redução nos preços (-38,9%), resultado das condições meteorológicas favoráveis ao seu desenvolvimento, especialmente no caso do feno, silagem e palha. As chuvas regulares e temperatura amena permitiram o bom estabelecimento de pastagens, garantindo alimento abundante e de alta qualidade para o gado em sistemas extensivos de pastoreio. Além disso, as condições secas do verão facilitaram as operações de corte, secagem e enfardamento, garantindo a boa conservação do alimento armazenado.
Prevê-se uma diminuição da produção dos Vegetais e produtos hortícolas em volume (-2,2%), refletindo um decréscimo dos hortícolas frescos (-4,4%), sendo de salientar a diminuição acentuada no tomate para indústria (-20%). A colheita deste ano decorreu em condições favoráveis, com abastecimento regular às fábricas. A área cultivada foi inferior à de 2024, refletindo ajustes na procura industrial, que, combinados com rendimentos ligeiramente menores, resultaram num menor volume de produção. A qualidade dos frutos foi boa, com níveis de Brix (quantidade aproximada de açúcar) dentro dos parâmetros normais.
Comparativamente a 2024, estima-se que a produção de Batata tenha decrescido ligeiramente em volume (-0,7%), devido às condições climáticas adversas. Os preços deverão ter diminuído substancialmente (-15,6%), refletindo o aumento da oferta europeia e a menor procura interna.
As estimativas apontam para um acréscimo de 2,2% de na produção de Frutos, em volume, impulsionado pela maior produção de cereja (+5%), kiwi (+10%) e morango e frutos de pequena baga (+17,2%).
A campanha da cereja foi marcada por forte heterogeneidade regional e varietal, ficando muito abaixo do potencial produtivo da cultura, após três campanhas consecutivas afetadas por condições meteorológicas adversas. No entanto, em algumas regiões, um final de primavera e início de verão mais estáveis, permitiram a obtenção de frutos de bom calibre e qualidade.
Regista-se aumento do número de frutos devido ao maior período de frio, sendo a qualidade globalmente boa.
Em termos de preço, estima-se um aumento para o total de frutos (+3,1%) e para a generalidade das espécies, com exceção da maçã, pêra e azeitona.
Já a produção de Vinho deverá registar um decréscimo de 20% em volume. As chuvas intensas e as temperaturas
amenas na primavera favoreceram o desenvolvimento do míldio, reduzindo o número e o peso das uvas. O calor extremo no verão causou queimaduras e desidratação dos frutos. Apesar da produção ser a mais baixa da última década, espera-se a obtenção de vinhos de qualidade, com níveis de açúcar equilibrados e boa concentração aromática.
Perspetiva-se que a produção de Azeite no ano civil de 2025 seja inferior em volume (-9,7%), em consequência da diminuição da produção de azeitona na campanha em curso (2025/2026), em cerca de 20%. As condições meteorológicas adversas provocaram a queda de flores e dificultaram o desenvolvimento do fruto, situação agravada na região transmontana pelos incêndios, que destruíram áreas significativas de olivais tradicionais. Apesar da baixa produção, esperam-se azeitonas e azeite de boa qualidade.
Com a recuperação da oferta mundial, é expectável uma redução do preço do azeite em cerca de 5%.
Produção animal
Prevê-se um crescimento da Produção animal em volume (+0,5%) e nos preços de base (+5,5%), resultando num
acréscimo nominal de 6%. Para esta evolução em valor contribuem fundamentalmente os bovinos (+8,6%), os suínos (+1%), as aves (+6,7%), o leite (+5,4%) e os ovos (+33,2 %).
Estima-se uma diminuição em volume (-6,2%) na produção dos Bovinos, devido à diminuição dos abates de adultos e vitelos, resultante da menor disponibilidade destes animais. Este facto reflete a manutenção da procura espanhola de bovinos para abate em Portugal. Face à escassez de oferta, o preço dos bovinos aumentou de forma significativa em relação a 2024 (+15,8%).
Os Suínos deverão registar um acréscimo em volume (+6,0%), em resultado de um aumento no abate de porcos de engorda e reprodutores. Os preços apresentam uma diminuição (-4,7%).
Relativamente aos Ovinos e caprinos, antevê-se um decréscimo do volume (-15,6%), em resultado do menor abate, quer de ovinos (-16,3%), quer de caprinos (-3,8%). Esta situação decorre de vários fatores, nomeadamente a manutenção da tendência de redução do efetivo nacional. A ocorrência de mortes e problemas de fertilidade causados pela doença da Língua Azul tem contribuído para a redução do efetivo nas explorações, diminuindo a disponibilidade de animais para abate, levando à necessidade de preservar futuros reprodutores. Esta situação é agravada pelo aumento da procura de borregos vivos para exportação para Israel. O excelente ano de produção de pastagens e forragens também favoreceu a permanência dos animais nas explorações, diminuindo o encaminhamento para abate.
No entanto, o balanço global dependerá do volume de abates no tradicional pico do Natal. Dada a redução de oferta, os preços de base deverão ser superiores aos de 2024 (+8,5%).
Nas Aves de capoeira são expectáveis aumentos do volume (+4,9%) e do preço (+1,7%), com destaque para o frango, que continua a ter forte procura. Em contrapartida, estima-se uma diminuição do volume de produção de peru comparativamente a 2024 (-9,1%). A criação de perus tem oscilado nos últimos anos devido à pressão das importações, aos custos de produção e aos riscos inerentes a um ciclo de produção mais longo do que o do frango, apesar da elevada procura. Importa salientar que a habitual concentração dos abates no final do ano poderá alterar de forma significativa a atual estimativa. A produção de carne de pato deverá registar também uma diminuição do volume (-7,3%), fortemente influenciada pelo impacto da gripe aviária, que obrigou à retirada de um número significativo de animais das explorações.
Para a produção de Leite, são estimados acréscimos do volume (+0,7%) e do preço de base (+4,7%). A variação positiva do volume resulta do comportamento das entregas de leite de vaca pelos produtores à indústria de lacticínios, no Continente e nos Açores. O aumento do preço de base verifica-se em todos os tipos de leite (vaca, ovelha e cabra), beneficiando, em 2025, de acréscimos no preço pago aos produtores.
A produção de Ovos deverá aumentar em volume (+7,1%) e, expressivamente, em preço (+24,4%). A nível mundial, e com impacto no mercado nacional, continua a existir uma forte procura de ovos e uma escassez de oferta, o que tem mantido os preços em níveis que incentivam o aumento da produção. A escassez de oferta resulta da persistência de casos de gripe aviária em vários países, particularmente em Espanha.
Consumo Intermédio
Estima-se que, em 2025, o Consumo intermédio (CI) diminua em termos nominais (-1,4%), na sequência de um ligeiro acréscimo em volume (+0,1%) e de um decréscimo do preço (-1,4%). De salientar as variações nominais negativas na energia (-2,6%), nos adubos e corretivos do solo (-0,9%) e nos alimentos para animais (-4,5%).
O consumo de Alimentos para animais deverá ser superior em volume (+1,5%), mas inferior em preço (-5,9%). A variação perspetivada para o volume decorre do acréscimo no consumo de alimentos compostos (+2,7%), uma vez que, para os alimentos simples, as estimativas apontam para redução do volume (-6,2%). Apesar de 2025 ser um ano excecional para a produção forrageira, reforçando a autonomia alimentar e estabilizando os custos de produção da pecuária extensiva, a menor produção de bovinos (-6,2%) e de ovinos e caprinos (-15,6%) justifica a diminuição no consumo de alimentos simples. A oferta superior à procura conduziu a uma diminuição expressiva dos preços destes alimentos (-38,8%). Quanto à Energia, estima-se um decréscimo em volume (-0,3%) e preço (-2,3%).
Em 2025, é expectável que o índice de preços da produção (101,7) seja superior ao do consumo intermédio (98,6), invertendo a situação observada no ano anterior, configurando um cenário mais favorável à atividade agrícola.
Valor Acrescentado Bruto
Em 2025, o VAB do ramo agrícola deverá crescer 1,2% em termos nominais, em resultado de um crescimento de preços na produção superior ao do consumo intermédio. No entanto, descontando o efeito dos preços, o VAB deverá diminuir 5,4% em termos reais. O peso relativo do VAB do ramo agrícola no VAB nacional deverá manter se próximo de 1,9%.
Subsídios
Segundo informação do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP, I.P.), estima-se que, em 2025, o total de ajudas, classificadas como subsídios atribuídos ao produtor agrícola, apresente uma diminuição significativa (-33,1%). Esta evolução traduz um retorno aos valores registados em 2022 e anos anteriores, depois de uma diminuição pronunciada em 2023 (-32,2%) e de um acréscimo acentuado em 2024 (+95,3%). Antevêm-se decréscimos nos Subsídios aos Produtos(-28,1%) e nos Outros subsídios à produção (-34,3%). À semelhança do que é comum acontecer na transição entre quadros comunitários, após a redução inicial em 2023, as ajudas intensificaram-se em 2024 e voltaram aos níveis habituais em 2025.
A integração das políticas agrícolas para o período 2023 – 2027, em especial o Plano Estratégico para a Política Agrícola Comum (PEPAC), reforça o papel da agricultura na concretização dos objetivos ambientais e climáticos da União Europeia (UE), com destaque para o Pacto Ecológico Europeu.
Indicador de Rendimento
Em 2025, o Rendimento da atividade agrícola, medido pelo Índice do rendimento real dos fatores na agricultura por Unidade Trabalho Ano (indicador A), deverá ser inferior em 10,7% face ao ano anterior. Para esta evolução foi
determinante a variação negativa do Rendimento real dos fatores (-8,9%) que reflete, fundamentalmente, o
decréscimo dos Outros subsídios à produção (-34,3%).
Comparações Internacionais
Entre os triénios 2005-2007 e 2022-2024Po, a importância relativa do VAB do Ramo agrícola no VAB nacional diminuiu na generalidade dos Estados-Membros. O peso da agricultura na economia portuguesa foi superior ao observado na UE27 (1,9% vs. 1,5% no triénio 2022-2024Po), mas inferior ao de países como Itália, Espanha e Grécia.
Entre os triénios de 2005-2007 e 2022-2024Po, o Rendimento da atividade agrícola em Portugal aumentou 72,3%, um crescimento inferior à média da UE27 (+82,2%). Portugal registou, ainda assim, o décimo maior crescimento entre os Estados-Membros.