Interior Norte e Centro “abarca alguns dos territórios mais áridos e com maiores problemas de abandono da terra que temos no nosso país”

Na passada sexta-feira, 31 de março, a CAP (Confederação dos Agricultores em Portugal) promoveu uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para falar da gestão da água no setor agrícola. Neste encontro foi apresentado o documento estratégico “Água e Agricultura”, de Pedro Cunha Serra, que já ocupou a presidência do Instituto Regulador de Águas e Resíduos ou do Grupo Águas de Portugal e que ainda coordenou os trabalhos de elaboração do Plano Nacional da Água.

Num texto que contempla a importância da gestão da água na atividade agrícola, há um foco principal no Plano Nacional de Regadios (PNR), que apresenta um roteiro por quatro regiões distintas (zonas homogéneas), cada uma “com características próprias no que toca aos solos, às culturas praticadas, à acessibilidade e abundância dos recursos hídricos e ao tipo de propriedade”.

A Zona Homogénea 4, correspondente ao Interior Norte e Centro, diz respeito à região que abarca as bacias do Douro, as cabeceiras dos rios Vouga e Mondego e as bacias dos afluentes da MD do Tejo em Portugal.

Apesar de ser uma região com recursos relativamente abundantes, abarca alguns dos territórios mais áridos e com maiores problemas de abandono da terra que temos no nosso país. A consciência desta situação levou as autoridades a dedicarem atenção ao desenvolvimento da agricultura de regadio nesta região desde os anos 30, com o desenvolvimento do regadio da Veiga de Chaves, da Idanha, do Vale da Vilariça e de Macedo de Cavaleiros.

A região da bacia do rio Douro em Portugal apresenta um clima continental de invernos pluviosos e verões  quentes e secos, “próprio para as culturas mediterrâneas, da vinha, do olival, do amendoal, e as terras quentes do Nordeste Transmontano, dos vales dos rios Sabor e Côa, com um clima mais árido, menores volumes de precipitação, maior irregularidade desta, temperaturas mais elevadas e grande deficiência de água no verão, onde a agricultura depende em grande  medida do regadio”.  

Por exemplo, Macedo de Cavaleiros é um dos mais importantes aproveitamentos hidroagrícolas (AHA) na  bacia do Douro português, projetado para servir cerca de 5.300 hectares com as águas da bacia do rio Sabor, represadas na albufeira do Azibo. Construída a barragem na década de 1980, foi equipada apenas cerca de metade desta área e estarão a ser regados apenas 2 mil hectares. Estima-se, no documento estratégico, que 70% dos beneficiários regam menos de um hectare. 

Esta é uma das regiões onde o Estado mais apostou na agricultura de regadio, sendo que ao todo são cerca de 10 mil hectares de regadio público em exploração neste momento, de entre um total de cerca de 69.300 hectares que são regados. A área total de regadio nesta bacia é da ordem dos 69.300 hectares, dos quais cerca de 38% a partir de águas superficiais. 

Quanto à parte da MD do Tejo que o PNR inclui nesta Zona Homogénea, temos os AHA da Idanha, que tem como origem de água a barragem da Idanha, iniciado na década de 1930, e o AHA da Cova da Beira (12.500 hectares), cujos blocos de rega ainda se encontram em  desenvolvimento. O RA 2019 identifica na região da Beira Interior cerca de 37 mil hectares de regadio. 

A título de mais um exemplo, o AHA da Idanha é hoje “um caso de evolução positiva entre os regadios nacionais, sendo que, de iniciativa dos agricultores (melhor diríamos, dos empresários agrícolas ali instalados) entre as culturas regadas está neste momento o amendoal, com muitos empresários, nomeadamente estrangeiros, ali instalados a fazerem aquilo que não podem fazer na sua terra por falta dos necessários recursos em solo e água”, diz Pedro Cunha Serra. 

 

*Este artigo teve como fonte o documento estratégico “Água e Agricultura” e centra-se no Interior Norte e Centro.