Investigador da Universidade de Aveiro faz parte da equipa que analisa impacte da Covid-19 na aquacultura mundial

“Tanto os fatores de stress antropogénicos como a pandemia da Covid-19 representam desafios económicos significativos para os sistemas de aquacultura em todo o mundo”. A conclusão é apontada num artigo assinado por um consórcio internacional de investigadores, onde se inclui António Nogueira, professor e investigador da Universidade de Aveiro (UA). Entre os “fatores de stress antropogénicos” referidos, destacam-se as alterações climáticas, lê-se no comunicado da UA.

O artigo “The synergistic impacts of anthropogenic stressors and COVID-19 on aquaculture: a current global perspective” é assinado por investigadores de 54 países e foi publicado no periódico científico “Reviews in Fisheries Science & Aquaculture”. Incluindo membros de quatro continentes (América, Europa, Ásia e África), do consórcio fez parte o académico que é professor do Departamento de Biologia e membro do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA.

“As conclusões deste estudo, para já, referem-se ao conjunto dos países analisados, uma vez que os dados por país ainda não foram analisados”, afirma o professor da UA. Assim, as conclusões, nesta fase, indicam que tanto os fatores de stress provocados pelo homem, e neste conjunto destacam-se as alterações climáticas, como a pandemia da Covid-19 “representam desafios económicos significativos para os sistemas de aquacultura em todo o mundo, ameaçando a cadeia de abastecimento de uma das mais importantes fontes de proteína animal, com potenciais impactos desproporcionados sobre as populações mais vulneráveis”, refere.

Entre as populações mais vulneráveis, salientam-se as “pequenas empresas dedicadas à aquacultura em regime de monocultura suscetíveis a alterações nas cadeias de produção e distribuição”, sendo que “os sistemas de aquacultura multitrófica integrada são mais resilientes”. Este sistema,  de acordo com o investigador, funciona em “circuito quase fechado”, uma vez que “os efluentes que resultam do cultivo de uma espécie são usados como input nos tanques de cultivo de outra espécie”.

Fatores múltiplos

A iniciativa partiu da noção de que as medidas restritivas impostas mundialmente para conter a propagação da Covid-19 têm tido consequências diretas nas mais diversas atividades económicas. Em maio de 2020, a pandemia já era um fenómeno global, tendo o consórcio decidido avaliar os impactes da pandemia na aquacultura. Além disso, lê-se no sumário do artigo, seria importante avaliar “os efeitos prejudiciais da Covid-19 sob uma lente de stress múltiplo, concentrando-se em áreas que já sofreram perdas económicas devido a fatores de stress antropogénicos na última década”. Ou seja, como pressuposto para o estudo, “aceita-se que os fatores, os motivos da crise e stress são múltiplos, sendo difícil, senão mesmo impossível, isolar os fatores, como seria o caso de uma eventual avaliação dos efeitos da Covid-19 ou das alterações climáticas isoladamente, cujas manifestações ocorrem com diferentes magnitudes e frequência em diferentes países”, refere o sumário.

O consórcio foi liderado por Gianluca Sarà. professor da Universidade de Palermo (Itália), parceiro do projeto “FISHAQU – Knowledge Exchange in sustainable Fisheries management and Aquaculture in the Mediterranean region” que é coordenado por António Nogueira e financiado pelo programa Erasmus+.