Na sessão de encerramento da 10.ª Conferência Plenária do Conselho Local de Acompanhamento da Ação Climática de Loulé, o presidente da Câmara Municipal, Vítor Aleixo, lançou um apelo firme à urgência da transformação sistémica que a crise climática exige — com especial ênfase para a situação crítica que o Algarve enfrenta em termos de escassez hídrica.

“Será necessário impor mudanças?”, questionou o autarca, perante uma plateia atenta no Cineteatro Louletano. “As pessoas são educadas para a comodidade. Voluntariamente, nunca teremos uma sociedade inteira empenhada na profunda mudança que se impõe: nos nossos estilos de vida, nos hábitos de consumo, na economia local e global. É legítimo questionar se será necessário recorrer a formas mais determinadas de ação política.”
A reflexão ganha particular acuidade no contexto da escassez de água e da pressão sobre os recursos naturais. “Não podemos admitir mais culturas intensivas em água. As reservas subterrâneas estão desreguladas e não há controlo sobre o que se extrai do subsolo. Este é um problema que tenho vindo a denunciar, mas que muitos preferem ignorar — porque mexe com interesses poderosos. Mas é precisamente nesses casos que devemos ter coragem de agir.”
O presidente defendeu um abrandamento do modelo económico atual, nomeadamente através da limitação de novos empreendimentos agrícolas, urbanísticos e turísticos. “A máquina económica tem de transitar para um modelo sustentável. A urbanização do solo, os loteamentos, os aldeamentos turísticos — é tempo de travar esse ímpeto. Não podemos continuar a crescer a qualquer custo.”
Ainda no plano económico, Vítor Aleixo reconheceu a existência de boas práticas no setor privado, sem deixar de criticar o greenwashing. “Há empresas que se limitam a fingir que mudam. Mas também há outras que têm procurado genuinamente integrar preocupações ambientais nos seus modelos de negócio. No Algarve, o setor da hotelaria tem feito um esforço que merece ser reconhecido e incentivado.”
A exigência, sublinhou, deve recair sobretudo sobre os grandes agentes económicos: “Temos de ser exigentes com quem detém maior capacidade de produção e maior influência sobre as nossas vidas — e as dos nossos filhos e netos. Não podemos desistir.”
Num dos momentos mais emotivos do discurso, Vítor Aleixo dirigiu-se às gerações mais novas, pedindo empatia e abertura por parte da sociedade. “Os jovens e as escolas são fundamentais. Mas não devemos esperar que aceitem passivamente os nossos padrões de conduta. A história mostra que as grandes transformações sociais sempre nasceram da irreverência. Quando éramos jovens, também desafiámos os nossos pais. Temos de aceitar a liberdade e a ousadia da juventude, e não nos deixarmos perturbar por ela. Personalidades como Greta Thunberg são absolutamente necessárias — o futuro é deles, e temos de os ouvir.”