Lisboa dá boas-vindas à primeira quinta urbana de economia circular

“Borras de café, cogumelos orgânicos, viabilidade económica, e sustentabilidade: uma receita de sucessos para uma economia circular” foi o ponto de partida para Rui Miguel Nabeiro, presidente do Conselho de Administração do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, dar as boas-vindas à primeira quinta urbana de Lisboa: a “Nãm Urban Farm”. Esta é uma iniciativa que junta a Delta Cafés e a start-up Nãm num projeto de economia circular que se baseia, essencialmente, na recolha controlada e certificada da borra de café e na sua utilização para a produção sustentável e consciente de cogumelos em Lisboa.

De portas abertas em Marvila há cerca de seis meses, a “Nãm Urban Farm” é um “complemento” àquilo que é atividade principal da Delta Cafés, contribuindo para aumentar o ciclo de vida do produto “core” da empresa: “A borra de café deixa de ser um resíduo e ainda continua a viver”, unindo num projeto viabilidade económica e sustentabilidade ecológica. “O processo de recolha da borra do café vai permitir dar aproveitamento e continuidade da sua vida, transformando-a num subproduto alimentar que inclusivamente vai ser relançado na economia”, acrescenta o gestor

[blockquote style=”2″]Queremos ser os especialistas dos cogumelos de economia circular em Portugal[/blockquote]

Por seu turno, Natan Jacquemin, fundador da Nãm, não podia estar mais feliz: “Mesmo em tempo de pandemia, a Nãm conseguiu passar de quatro para cem restaurantes” fornecidos. Atualmente, com a procura a exceder a capacidade de oferta, há “terreno fértil” para se trabalhar: “Em apenas seis meses, conseguimos recuperar 18 toneladas de borra de café, representando um milhão de cafés expresso da Delta”. E estes números são ainda mais impressionantes quando se fala no impacto ecológico, representando “500 árvores plantadas”, o equivalente ao Jardim da Estrela, em Lisboa. Esta quinta urbana vai estar aberta ao público: “As pessoas podem vir aqui comer cogumelos, visitar e descobrir o que é a economia circular e a produção de cogumelos no centro da cidade”.

Neste momento, a Nãm está a produzir uma tonelada de cogumelos por mês: “São 30 carrinhas elétricas cheias de cogumelos para 100 restaurantes”, declara. Ainda assim, a ambição é “aumentar a produção para (abastecer) 200 restaurantes”. Ainda sobre ambições, o fundador da Nãm deixou claro que a principal assenta na sustentabilidade e na vontade em mudar o paradigma das fábricas: “Não têm que ser aqueles edifícios que deitam fumo para o ambiente. Pode ser uma oportunidade de aproveitar o desperdício da economia e criar mais valor”. Uma outra ambição é estar presente por todo o país: “Queremos ter contentores marítimos para que todas as pessoas se possam tornar agricultores urbanos”, afiança, acrescentando que a empresa quer criar mais tipos de cogumelos e afirmar-se como  “especialistas dos cogumelos de economia circular em Portugal”. Apesar disso, Natan Jacquemin revela que o grande sonho da Nãm é conseguir criar uma “comunidade de agricultores urbanos” de economia circular: “Acreditamos que vamos ter de produzir comida dentro das cidades para entregar alimentos e estar mais próximos do consumidor”.

Rui Miguel Nabeiro deixou ainda a certeza de que a Delta Cafés vai continuar a construir um futuro com a Nãm baseado, acima de tudo, em resolver problemas: “Queremos muito que o projeto seja inspirador e possa, de alguma maneira, inspirar jovens empreendedores a apostar nas sua ideias e a poderem acreditar nos seu projetos”.

[blockquote style=”2″]As cidades podem ser verdadeiros centros de produção agrícola[/blockquote]

A sessão de inauguração contou também com a presença de Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. O autarca reiterou o facto de as cidades terem que passar a ser vistas como “centros de produção de alimentação”, acreditando que essa é uma “grande transformação” para o futuro. Aliás, “a ideia de que se produzia a dimensão do alimento num local cada vez mais distante e, depois, transportado numa cadeia logística movida a combustível fóssil e que era consumido em quantidade cada vez maior nos centro urbanos é um modelo que está posto em causa”, vinca, destacando que, nos dias de hoje, “é possível adaptar as cidades a terem uma maior capacidade produção de bens de consumo alimentar”. E o projeto das hortas urbanas é a verdadeira prova de que as cidades podem ser de facto verdadeiros centros de produção agrícola: “A ideia que nos parecia um pouco fora da caixa é, hoje, uma ideia de futuro das cidades verdes”, declara Medina, para quem a Nãm Urban Farm é a prova de como uma empresa socialmente responsável se deve comportar: “Esta é uma operação que pode ser lucrativa. E não é só fazer as coisas que parecem ser simpáticas e importantes”. Aliás, “é fazer as coisas importantes dentro daquilo que é um modelo de operação comercial”, afirma, sublinhando que a intenção do projeto é que, no final da operação, seja “comercialmente rentável”. Esta empresa surge, no entender do autarca, em “boa hora” e “num bom sentido”, principalmente numa altura em que a cidade atravessa uma “mudança verde”. Além de ser um incentivo à boa ação, é também uma chamada de atenção às empresas para que “olhem com atenção para aquilo que fazem e para a forma como fazem e ver se, naquilo que que se faz, não são capazes de reaproveitar e serem mais sustentáveis na ação”. E uma das barreiras ao avanço da agenda de sustentabilidade é precisamente a ideia errada, que ainda existe, de que “quando um dirigente fala de sustentabilidade, é estar a acrescentar um número no lado dos custos”, remata.

Horários da Nãm Urban Farm: 

  • Quarta a sábado das 14h00 às 19h00
  • Morada: R. Amorim 11, em Lisboa (Marvila)