Lisboa não se está a preparar para uma mobilidade sustentável, alerta ZERO

A Campanha Cidades Limpas, uma coligação de organizações europeias que a associação ZERO, acaba de publicar o seu novo estudo, onde apresenta o ponto da situação face às soluções de mobilidade partilhada e de emissões zero existentes em 42 cidades europeias, incluindo Lisboa, única cidade portuguesa que aparece no estudo.

O presente documento analisou o desempenho das cidades quanto à adoção das medidas necessárias para descarbonizar totalmente os sistemas de transporte até 2030, através de quatro indicadores quantitativos que refletem o estado atual da mobilidade partilhada e de emissões zero: (1) bicicletas e trotinetes partilhadas, (2) automóveis elétricos partilhados, (3) autocarros emissões zero, (4) infraestruturas para carregamento de veículos elétricos.

A cidade de Copenhaga, na Dinamarca, ficou em primeiro lugar na classificação geral com uma pontuação de 86,5%. Seguem-se as cidades de Oslo com 81,3% e Paris com 69,5%. No final da classificação geral está a área metropolitana de Manchester, com 8,3%, seguida de perto por Dublin com 8,8%. 35 das 42 cidades apresentam uma classificação C ou pior na escala de classes A-F.

Já Lisboa obteve uma classificação geral de 49,8%, o que corresponde a um C, e está no 10.º lugar, destacando-se pela positiva graças à ampla oferta de trotinetes e bicicletas partilhadas e à infraestrutura de carregamento para automóveis elétricos. Nos indicadores de automóveis elétricos partilhados e autocarros emissões zero, a capital portuguesa fica muito mal classificada, revela a ZERO.

Por conseguinte, a associação entende que mobilidade suave “não pode servir para tapar buracos do transporte público nem para evitar o investimento em infraestruturas ou em meios de transporte, sendo que é disto, sobretudo, que a cidade carece”. Por outro lado, é igualmente fundamental ter em conta a escassez ainda existente nalguns locais de infraestruturas próprias para o uso de bicicletas e trotinetes, o que faz que os seus utilizadores entrem em conflito com os peões e com os próprios automóveis.

Em relação a autocarros emissões zero em Lisboa, a Carris, aquando do fecho do estudo (no final do primeiro trimestre de 2023), apenas possuía na sua frota um total de 15 autocarros elétricos, ou seja, 2,3% do total da frota, o que compara com cerca de duas dezenas de cidades que no estudo têm mais de 10% da sua frota de autocarros eletrificada.

Sobre a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos privados em Lisboa, “é de saudar os bons resultados”, mas não deve servir para perpetuar o uso do veículo individual na cidade em detrimento do uso do transporte público coletivo e dos meios de mobilidade suave.

A ZERO recomenda que a cidade de Lisboa estabeleça um “objetivo claro no que diz respeito ao sistema de mobilidade urbana e que acelere a implementação de medidas no sector dos transportes com vista ao alcance de emissões zero até 2030”.