Logista: “O transporte representa mais de 90% das emissões totais da empresa, pelo que a descarbonização deste segmento é uma prioridade estratégica”

Os operadores logísticos enfrentam vários desafios no que respeita à sustentabilidade da sua atividade, visto que a mesma depende muito do transporte. Isabel Troya, responsável de ESG da Logista, conta nesta entrevista à Ambiente Magazine como o grupo tem trabalhado para descarbonizar a sua operação.

 

Qual o papel da sustentabilidade para a Logista?

Para a Logista, a sustentabilidade representa a criação de valor a longo prazo para todos os seus grupos de interesse, promovendo a estabilidade e a transparência para além do âmbito económico e contribuindo para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A empresa procura desenvolver um modelo de negócio sustentável que gere o máximo valor possível para clientes, colaboradores, acionistas e para a sociedade em geral.

Isabel Troya, Logista

Neste sentido, a Logista integra a luta contra as alterações climáticas na sua estratégia, reduzindo a pegada de carbono e contribuindo para uma economia de baixo carbono, enquanto implementa medidas para fomentar a economia circular e reduzir a poluição, impulsionando ainda a inovação sustentável em produtos, processos e serviços.

No plano social, aposta no diálogo e na participação dos grupos de interesse, promove o desenvolvimento socioeconómico e a criação de emprego, assegura transparência nos processos de contratação e atua na prevenção de riscos de fraude, bem como na identificação e mitigação de potenciais impactos sobre os direitos humanos.

Em termos de governança, compromete-se com as melhores práticas de gestão ética e responsável, integrando políticas de diligência devida para prevenir impactos adversos nos direitos humanos e no ambiente. Promove a cultura de cumprimento normativo, a prevenção da corrupção, a transparência fiscal e estabelece sistemas internos de controlo e gestão de riscos, incluindo os relacionados com a sustentabilidade, criando assim valor sustentável para acionistas e investidores e garantindo a integridade, a transparência e o tratamento igualitário.

Quais os maiores desafios que os operadores logísticos enfrentam ao nível ambiental?

Ao nível ambiental, os operadores logísticos enfrentam desafios significativos relacionados, sobretudo, com a redução da pegada de carbono e a transição para modelos de transporte mais sustentáveis. A elevada dependência do transporte rodoviário, que representa a maior parte das emissões do setor, obriga à adoção de soluções como a utilização de biocombustíveis. No caso da Logista, o transporte representa mais de 90% das emissões totais da empresa, pelo que a descarbonização deste segmento é uma prioridade estratégica.

Outro desafio prende-se com a necessidade de otimizar operações e recursos para reduzir consumos e emissões, sem comprometer a eficiência e a qualidade do serviço. A logística de última milha, em particular, algo que realizamos através da Nacex, exige a incorporação de veículos sustentáveis e a reorganização de rotas para minimizar impactos ambientais: isto permitiu-nos reduzir a pegada de carbono por expedição em 32% nos últimos 4 anos graças à incorporação de veículos sustentáveis e otimização de recursos e rotas.

Que principais resultados pode destacar a Logista?

O compromisso firme da Logista com a qualidade, a sustentabilidade e a melhoria contínua em todas as suas atividades e operações é apoiado por inúmeras certificações que o comprovam, como a ISSO 9001 ou ISSO 22000. Além disso, o grupo é membro de diferentes índices ESG (FTSE4Good IBEX, IBEX Gender Equality) e ocupa posições de destaque em vários índices ESG (MSCI, CDP, Sustainalytics, S&P).

A nível social, o resultado desta estratégia traduziu-se em diversos reconhecimentos internacionais: Diversity Leader pelo Financial Times pelo terceiro ano consecutivo e o selo Diversity Leading Company, atribuído pela “Equipos y Talento”. Além disso, fazemos parte do IBEX Gender Equality Index e do Índice de Igualdade de Género da Bloomberg.

Quais os objetivos, a nível ambiental, para a empresa, nos próximos anos?

No grupo Logista, elaborámos um plano estratégico ESG a três anos (2024-2026) com objetivos e ações concretas alinhadas com os compromissos em matéria de sustentabilidade definidos na nossa política. Em matéria ambiental, alguns destes objetivos prendem-se por realizar 90% dos quilómetros com veículos sustentáveis até 2026 e promover a descarbonização através do uso de biocombustíveis, aumentando a utilização de veículos elétricos, bem como o transporte intermodal e os duo-trailers. Além disso, ambicionamos ainda alcançar 33.800 pontos de venda envolvidos na iniciativa de reciclagem de produtos de nova geração em Itália, Espanha e França até 2026.

No âmbito dos compromissos sociais, queremos alcançar, até 2026, 95% de Talent Density em posições críticas, assegurando uma estratégia de diversificação bem-sucedida e reforçar a liderança em diversidade, com o objetivo de atingir 30% de mulheres em cargos de direção de nível médio/alto. Queremos ainda fomentar acordos com fundações e outras organizações para promover a integração de pessoas em situação de vulnerabilidade e trabalhar com o objetivo de zero acidentalidade, promovendo o bem-estar dos colaboradores.

A nível de governança, pretendemos avaliar os fornecedores com contratos com a Logista superiores a 10M€ até 2026 e reforçar a sensibilização para a cibersegurança, assim como os programas de formação nesta área.

Para alcançar estes objetivos, foi criado um Comité de Sustentabilidade que apoiará o Comité de Direção na elaboração das políticas de sustentabilidade e que lhe reportará todas as questões relacionadas com esta matéria.

Qual o papel da responsabilidade social para a empresa?

Lançámos diversas iniciativas que refletem o nosso compromisso com a responsabilidade social. A nossa estratégia social visa contribuir para a criação de uma comunidade mais justa e inclusiva e, para isso, apostamos cada vez mais em iniciativas que tenham como objetivo reforçar a integração social dos grupos mais vulneráveis.

Que aspetos pode destacar nesta vertente?

Este compromisso é concretizado através de acordos com a Cruz Vermelha, Fundação Avante 3, Fundação La Merced, Fundação Cares, Fundação Real Madrid e Fundação Atlético de Madrid, entre outros. A Logista aposta igualmente na contratação de pessoas com deficiência e em risco de exclusão social através da Fundação Integra, tendo formado 337 pessoas nestas condições, através de um total de 35 workshops que contaram com a participação de 33 voluntários. Colaboramos também com várias ONG e organizações solidárias para combater a pobreza e alcançar o objetivo de “fome zero”, destacando-se a colaboração com o Banco Alimentar, bem como com a Cáritas e a Ayuda en Acción. A Logista está também fortemente comprometida com a sua estratégia social para garantir que a empresa seja verdadeiramente diversa e inclusiva.

Entre as iniciativas que promovemos destacam-se, como mencionei, alcançar, até 2026, 95% de Talent Density em posições críticas, assegurando uma estratégia de diversificação bem-sucedida, reforçar a nossa liderança em diversidade, com o objetivo de atingir 30% de mulheres em cargos de direção de nível médio/alto e implementar políticas de recrutamento que garantam que 50% dos candidatos finalistas nos processos de seleção sejam mulheres. Queremos também incluir planos específicos para assegurar oportunidades de desenvolvimento profissional para o talento feminino e integrar metas de igualdade e diversidade nos objetivos de remuneração variável de diretores e gestores da empresa.

Como é que a sustentabilidade pode ser estendida aos colaboradores?

A sustentabilidade pode ser estendida aos colaboradores através da integração de práticas e valores sustentáveis na cultura organizacional, promovendo um impacto positivo tanto no ambiente como na sociedade. No caso da Logista, este compromisso traduz-se em políticas de diversidade e inclusão, oportunidades de desenvolvimento profissional e condições de trabalho seguras e saudáveis. A empresa aposta em programas de formação e sensibilização sobre sustentabilidade, direitos humanos, ética, cibersegurança e boas práticas ambientais, garantindo que todos os colaboradores compreendem e aplicam estes princípios no seu dia a dia. Além disso, promove a igualdade de oportunidades, definindo metas concretas. A aposta na integração de pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo pessoas com deficiência ou em risco de exclusão, reforça o impacto social positivo e fomenta um ambiente inclusivo. O objetivo de “zero acidentalidade” demonstra também a preocupação com o bem-estar e segurança de todos os trabalhadores.

Ao envolver os colaboradores em projetos de voluntariado corporativo, iniciativas de economia circular e ações para reduzir a pegada de carbono, a empresa cria um sentido de pertença e responsabilidade partilhada, transformando a sustentabilidade numa prática diária e transversal.