Uma investigação inovadora do MARE revelou a surpreendente diversidade sonora das comunidades de peixes que habitam estas águas costeiras de Portugal continental. Através da utilização de gravações acústicas (Monitorização Acústica Passiva) e sistemas de vídeo subaquáticos, os investigadores catalogaram, pela primeira vez, um vasto leque de sons produzidos por múltiplas espécies de peixes.
O estudo, conduzido pela investigadora Noelia Ríos Ruiz (MARE-ISPA) com a colaboração de outros investigadores do MARE (Ciências da Universidade de Lisboa – FishBioacousticsLab e FCT da Universidade NOVA de Lisboa), MARDIVE, cE3c e alunos do IMBRSea (Bélgica), identificou 33 tipos de sons distintos no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, atribuídos a diferentes espécies de peixes. A diversidade sonora revelou-se notavelmente elevada, superando a de outros locais, como o Mediterrâneo e alguns recifes de coral.
“Este estudo é um marco importante na nossa compreensão da biodiversidade marinha em Portugal”, afirma Noelia Ríos Ruiz. “A acústica passiva demonstrou ser uma ferramenta poderosa para monitorizar a vida marinha de forma não invasiva, revelando um mundo sonoro subaquático que até agora era desconhecido. Acreditamos que este estudo terá um impacto significativo na forma como monitorizamos e protegemos os nossos oceanos. A acústica passiva oferece-nos uma janela para o mundo subaquático, permitindo-nos ouvir e compreender a vida marinha de uma forma que antes era impossível”, conclui.
Apesar da presença de 150 espécies de peixes no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, somente 29 estavam previamente identificadas como produtoras de sons. Esta investigação destaca a necessidade de mais estudos para compreender a ecologia e o comportamento da maioria das espécies, sublinhando o potencial da acústica passiva na monitorização ecológica.
Mas os peixes produzem mesmo sons?
Contrariamente à crença popular, muitos peixes produzem sons utilizando mecanismos como a vibração da bexiga natatória, o movimento de músculos específicos e o atrito entre ossos e dentes faríngeos. Estes sons desempenham um papel crucial na comunicação, na defesa e na reprodução das espécies: podem ser usados para comunicação entre indivíduos da mesma espécie, na defesa contra predadores ou para alertar para eventuais ameaças. Em muitas espécies, os sons são fundamentais durante a reprodução, ajudando a atrair parceiros e a marcar território.
Os sons podem ser ouvidos consoante a sua intensidade e frequência. Se, por um lado, o xarroco emite sons graves e rítmicos, o rascasso produz sons agudos. Alguns são audíveis aos humanos durante o mergulho, mas a maioria requer o uso de hidrofones e câmaras subaquáticas para uma análise mais detalhada.
Apesar da crescente evidência científica, grande parte da sociedade ainda desconhece que os peixes produzem sons e que a comunicação acústica desempenha um papel fundamental no seu comportamento.
Sensibilização e Conservação
A investigação do MARE-ISPA sublinha a necessidade de sensibilizar o público para a importância da comunicação acústica nos peixes e o papel fundamental da acústica passiva na monitorização da biodiversidade marinha. Os resultados obtidos abrem caminho para futuros estudos que aprofundem o conhecimento sobre os padrões acústicos das comunidades de peixes e integrem a acústica subaquática em programas de gestão e conservação marinha.
“Acreditamos que este estudo terá um impacto significativo na forma como monitorizamos e protegemos os nossos oceanos”, conclui Noelia Ríos Ruiz. “A acústica passiva oferece-nos uma janela para o mundo subaquático, permitindo-nos ouvir e compreender a vida marinha de uma forma que antes era impossível.”