Mecanismo de recuperação prevê “verba” para transição do têxtil, calçado e resina para a bioeconomia

“Como é que se prevê o desenvolvimento da bioeconomia sustentável? Que políticas se perspetiva para uma bioeconomia circular e sustentável? Estas foram algumas das questões levantadas de mais uma “Conversas sobre Sustentabilidade“, promovida pelo BCSD (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável).O tema central desta conversa foi: “Bioeconomia Circular: inovar para uma economia sustentável”.

Portugal tem um elevado potencial associado à bioeconomia, sobretudo, se forem respeitados os seus princípios. Portanto, a bioeconomia é vista como uma “oportunidade” para o país, mas também para a Europa: “Vai conseguir fazer face aos atuais desafios societais e será um forte contributo para a transição ecológica alinhada com o Green Deal”. Marisa Silva, adjunta do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, acredita que ambição do Green Deal será alcançada através da “transformação da indústria” que tem que ir muito mais além da “eficiência energética”, da “mobilidade sustentável” ou das “energias renováveis”, sendo que a bioeconomia tem um papel fundamental. Além disso, é ainda um “conceito fragmentado” que apresenta “diversas perspetivas que pode estar focado na produção dos recursos biológicos ou mais direcionados para a biotecnologia”, sendo percetível que “as características dos recursos biológicos torna-os atrativos para se tornar a base de alguns setores” e, assim, permitir que “o modelo da economia circular e sustentável” contribua para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030. 

Tendo em conta este enquadramento, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC) está a finalizar um documento estratégico que vai servir como “vetor para esta transição”, prevendo-se a sua publicação para o “final do primeiro semestre deste ano”, declara. Alinhado com os princípios da estratégia europeia para a bioeconomia, o documento centra-se em várias questões, estando, nomeadamente, focado na “produção sustentável” e na “utilização inteligente dos recursos biológicos” sobretudo, de carácter local e inovador, permitindo “diminuir das importações das matérias” e, ao mesmo tempo, “contribuir para uma maior resiliência da sociedade”. Também a “inovação” e a “investigação” assumem um papel relevante neste documento, no sentido de “promover uma bioeconomia sustentável e circular”, valorizando, em simultâneo, a “capacidade científica e tecnológica nacional” que, segundo Marisa Silva, é já “muito reconhecida e vista como um ponto forte” em Portugal. Ao mesmo tempo, a adjunta do ministro do Ambiente chama a atenção para um dos grandes desafios que Portugal precisa de enfrentar: “Existe um gap entre o que é a investigação científica e tecnológica e depois trazer o conhecimento para as indústrias, sendo importante desenvolver uma indústria tendo em conta todo o conhecimento que é adquirido”. E a “inovação na cadeia de valor” vai permitir nos processos que sejam criadas “novas cadeias de abastecimento”, sobretudo, “a produção próxima de matéria-prima” e que, mais uma vez, traduzir-se-á em “novos empregos locais”. Contudo, atenta a responsável, isto terá que ser visto de uma forma transversal: “Todas estas ações não terão impacto se não se atuar na sociedade quer na comunicação e formação”. Para tal, acrescenta Marisa Silva, é necessário “promover o conhecimento e a capacitação avançada”, incorporando, essencialmente, nas empresas “os princípios do ecodesign e as abordagens curriculares” do produto, da sua produção e do negócio, permitindo “prolongar a vida útil dos produtos” e, ainda “aumentar a confiança do consumidor”, visto que é cada vez mais exigente: “É fundamental ter instrumentos que garantam a transparência e a rastreabilidade da cadeia de valor”. Fundamental é também a monitorização e a avaliação da evolução: “A bioeconomia não pode comprometer os limites do ecossistema. Tem que se evitar que algumas ações possam ser nefastas”, precisa.

Como nota final, a adjunta de João Pedro Matos Fernandes salientou que o mecanismo de recuperação e resiliência prevê uma “verba” para apoiar a transição para bioeconomia em três setores: têxtil, calçado e resina. Para o Ministério do Ambiente, o têxtil e o calçado são setores que têm um “grande potencial” de progressão, de integração, de valorização e de biomassa e outras matérias primas secundárias no seu fabrico, com várias vantagens associadas. Depois, a resina, muito tradicional da economia portuguesa, é um setor que permite uma “grande contribuição” para o desenvolvimento rural e com potencial para a bioeconomia: “A revitalização da resina vai permitir a transformação da floresta portuguesa e é uma vigilância para os incêndios”. Portanto, “o plano e as políticas vão mesmo contribuir para uma transição”, quer dos setores primários, quer indústrias para uma bioeconomia circular, remata.