MEDWAY: “É urgente tornar a ferrovia numa prioridade para quem lidera o país”

No passado dia 20 de março a MEDWAY atribuiu os Certificados de Transporte Sustentável ao todos os seus clientes que tiveram um maior contributo para a redução da pegada de carbono e, consequentemente, para um setor logístico mais verde. A Ambiente Magazine conversou com Carlos Vasconcelos, presidente da MEDWAY, que abordou da importância destas distinções para minimizar o impacto da Logística no planeta.

Criados em 2020, os Certificados de Transporte Sustentável surgiram da vontade de mostrar que as escolhas mais sustentáveis no transporte de mercadorias podem de facto contribuir de forma muito relevante para a redução da pegada ambiental: “O setor logístico e de transportes é responsável por 28% do total de emissões de CO2 emitidas para a atmosfera em Portugal e, nesse sentido, torna-se cada vez mais importante que exista uma análise e reflexão para a adoção de práticas sustentáveis”. Enquanto operador logístico ibérico, “este é um raciocínio que faz parte do ADN da MEDWAY e do nosso compromisso ambiental, eixo estratégico da nossa atividade”, refere o responsável.

Apesar das empresas estarem cada vez mais conscientes do seu dever para com o planeta, Carlos Vasconcelos considera que a importância destas distinções prende-se com o facto de “querermos assumir a responsabilidade de ter um papel relevante em ajudá-las a atingir as suas metas ambientais”. Assim, esta certificação funciona como um “selo dado às empresas que optam por escolher o transporte ferroviário em relação a outros meios de transporte, como a rodovia”, explica. Para o presidente da MEDWAY, estes certificados adquirem uma grande relevância no contexto atual, uma vez que “a adoção de medidas para reduzir a pegada ambiental do setor logístico exige agilidade e rapidez”, constatando que “a ferrovia é manifestamente uma opção que permite a redução das emissões de carbono”, sendo, por isso, “importante mostrar a contribuição ativa deste meio de transporte para minimizar o impacto da Logística no nosso planeta”.

Questionado sobre as evoluções registadas desde o lançamento da iniciativa, o responsável dá nota de um aumento do número de empresas certificadas: “Este ano, atingimos um recorde e atribuímos mais certificados do que nunca, o que é um sinal da sensibilização dos nossos clientes para o tema”. Em 2020, foram atribuídos 11 certificações, subindo para 35 em 2022, culminando com 38 empresas distinguidas em 2023: “No total, as emissões de CO2 evitadas têm também aumentado, nomeadamente este ano com uma redução de mais de 100 mil toneladas face a 2020, em que a redução havia sido de perto de 20 mil toneladas de CO2 eq”.

“É cada vez mais importante que as políticas estejam alinhadas com estes objetivos, porque só assim podemos caminhar, no setor, para uma economia sustentável”

Sobre o papel da logística em matéria de sustentabilidade, Carlos Vasconcelos nota uma “constante evolução e mudança”, o que prova a urgente necessidade de tornar o setor mais sustentável. Tornar a frota da empresa totalmente elétrica é um dos objetivos principais que a MEDWAY tem para o futuro, com investimentos em curso: “Atualmente, um comboio da MEDWAY consegue uma redução de cerca de 70% das emissões de CO2eq/Km para transportar a mesma quantidade de mercadorias, quando comparado com um camião”. Essa redução, segundo o responsável, pode chegar aos “75% no caso do transporte ser efetuado com recurso exclusivo a locomotivas elétricas”, podendo mesmo “alcançar os 100%, se toda a rede nacional for eletrificada e se os operadores puderem adquirir livremente a energia no mercado”. Por este motivo, “sabemos que a ferrovia tem o poder de conseguir efetuar o transporte de forma eficaz e mais ecológica, além de reduzir o tráfego das estradas e os custos”, afirma Carlos Vasconcelos, considerando que é “cada vez mais importante que as políticas estejam alinhadas com estes objetivos, porque só assim podemos caminhar no setor para uma economia sustentável”.

Neste âmbito, o presidente da MEDWAY considera urgente “tornar a ferrovia numa prioridade para quem lidera o país”, defendendo a “criação de mais incentivos para as empresas que atuam no setor, para que possam competir de forma equivalente com os outros modos de transporte. Atualmente as taxas diretamente aplicáveis ao transporte ferroviário de mercadorias têm uma percentagem muito superior àquilo que acontece no transporte rodoviário de mercadorias: para a competitividade da ferrovia tem de haver um equilíbrio maior entre ambos os transportes”, atenta.

Reconhecendo que o caminho da sustentabilidade é complexo, visto que “requer análise, planeamento, estratégia e reflexão no processo”, o presidente da MEDWAY acredita que a ferrovia pode representar um forte contributo para esse objetivo: “Estou certo de que, quando o investimento do Ferrovia 2020, que está em curso, for concluído, vamos ter uma infraestrutura com melhor nível de qualidade, de serviço, de fiabilidade e com muito maior capacidade para conseguirmos introduzir mais comboios na rede e, assim potenciarmos, o contributo da ferrovia para o ambiente”.

Como perspetiva o setor nos próximos 10 anos?

“Uma vez que este é um setor dinâmico, onde se prevê uma evolução constante, surgirão no espaço de 10 anos novos desafios, mas a nossa preocupação atual passa por responder aos temas a que nos propusemos, para já, ao nível de compromisso ambiental, como é o caso de procurarmos ter uma frota 100% elétrica (mas, para tal, é necessário que toda a rede esteja electrificada). Acreditamos que é possível aumentar a competitividade económica das soluções logísticas oferecidas aos nossos clientes e que podemos, em simultâneo, garantir que existe um contributo muito positivo na proteção do ambiente. Por isso, em termos futuros, continuaremos a ter como alicerce da nossa atividade um compromisso de atingir a neutralidade carbónica em tudo o que fazemos, trazendo benefícios para o planeta e para a atividade dos nossos clientes. Desse modo, perspetivamos uma consciencialização crescente para o setor, que esperamos que surta efeitos significativos a nível de sustentabilidade, e contamos também continuar a ter um papel relevante, com os vários projetos de sustentabilidade que levamos a cabo”.