Milhares de pessoas tricotaram 1215 metros de Linha Vermelha contra a prospecção de combustíveis fósseis em Portugal

Milhares de pessoas, de todas as idades, de várias localidades do país, tricotaram 1215 metros contra os furos de prospeção de combustíveis fósseis. Durante os últimos quatro anos a Campanha Linha Vermelha percorreu assim o país e também chegou além fronteiras. O objetivo é claro: “alertar, sensibilizar e mobilizar as pessoas não só para a luta pela justiça climática mas também para a necessidade de mudarmos a sociedade e a maneira como interagimos com a restante natureza”.

A campanha “Linha Vermelha” nasceu em 2016 com a vontade de agregar “dois mundos” que raramente se juntam e que têm muito em comum: o mundo do tricô e do crochê com o mundo da luta pela justiça climática. “Estes dois mundos têm muito em comum pois o motivo pelo qual o tricô e o crochê passaram a ser vistos como algo do passado tem a mesma origem do problema da crise climática e ecológica que vivemos: os combustíveis fósseis e o sistema capitalista que necessita de crescer infinitamente, extraindo recursos a uma velocidade muito superior à capacidade de regeneração do planeta. Crescimento infinito implica recursos infinitos e isso não existe”, explica em comunicado, João Costa, co-coordenador da Campanha Linha Vermelha. Em 2015 existiam “quinze contratos para prospecção e exploração de combustíveis fósseis em Portugal e, neste momento, esses quinze contratos estão todos cancelados”, sustenta o responsável.

Além da sensibilização feita pela Campanha Linha Vermelha e por todo o movimento pela justiça climática em Portugal, a mobilização das populações no Algarve, no Alentejo e na Bajouca foram essenciais para esta vitória. “Isto foi uma vitória de todas as pessoas que habitam no planeta, pois um furo em Portugal afecta todo o planeta, tal com um furo em Moçambique afecta todo o planeta. Actualmente, as reservas actuais de combustíveis fósseis já em fase de projecto ultrapassam em 120% o que podemos explorar se queremos manter uma temperatura média global de 1.5ºC, indica um relatório de 2019. Temos que a nível mundial cancelar todos os novos projectos que aumentem emissões de gases com efeito de estufa e além disso ter em conta que os países do Sul Global necessitarão de aumentar as suas emissões. Temos que requalificar os trabalhadores desta indústria obsoleta e cuidar das populações mais vulneráveis! A luta pela justiça climática não acaba aqui”, afirma Joana Dias, co-coordenadora da campanha.

No último sábado a Campanha Linha Vermelha foi até Belém, medir as Linhas Vermelhas que milhares de pessoas tricotaram ao longo dos últimos quatro anos contra a exploração de combustíveis fósseis e por um futuro verde. Nesse mesmo dia, em Évora e na Bajouca também existiram momentos de celebração e de solidariedade. Segundo o mesmo comunicado, em Évora a associação Pé de Xumbo decidiu fazer “uma performance com Linhas Vermelhas” e na Bajouca “estiveram várias pessoas a tricotar mais Linha Vermelha na principal praça da vila”, lembrando a sua “luta local contra estes furos e a articulação que houve com a Campanha Linha Vermelha para que esta causa fosse ganha”.

A campanha encontra-se atualmente em fase de balanço e nos próximos meses anunciará a que causa mais concreta que se irá dedicar no futuro. “A nossa causa é mesmo a justiça climática mas sabemos que o caminho de compreensão de cada pessoa é diferente e necessitamos de nos focar em algo concreto para sensibilizarmos para a causa maior. Seja o novo aeroporto, seja o aumento da capacidade do terminal de GNL do porto do Sines, seja o projeto do hidrogénio ou um novo gasoduto, causas não nos faltam, agora precisamos de priorizar e ouvir os nossos parceiros e as pessoas que participaram na campanha. Apesar de haver muita informação, também existem muitas mentiras a circular e o lobby das empresas de combustíveis fósseis é muito forte. Basta pensarmos que os combustíveis fósseis além de combustíveis também dão origem aos plásticos e aos fertilizantes. É das indústrias mais poderosas do mundo e é por isso que tem que ser desmantelada e os seus trabalhadores integrados em novos postos de trabalho”, afirma João Costa.

A campanha continuará a tricotar e a difundir estas técnicas manuais ancestrais: “Acreditamos que é uma excelente ferramenta para agregar pessoas diferentes, mas também para não deixar morrer estas técnicas que são tão úteis e muito mais empoderadoras do que uma compra em qualquer loja de uma multinacional que vende roupa de fast-fashion”, sublinha Joana Dias.