Mudança de paradigma para um futuro energético limpo está longe de ser conseguida, alerta relatório

A mudança de paradigma necessária para um futuro energético limpo, mais saudável e mais equitativo está muito longe de ser conseguida. Esta é uma das conclusões do Relatório de Status Global das Energias Renováveis 2021 da REN21 publicado esta terça-feira.

De acordo com o relatório, a participação dos combustíveis fósseis no mix energético total é tão alta quanto há uma década (80,3% vs. 80,2% hoje) e a participação das energias renováveis aumentou apenas ligeiramente. Mesmo com o declínio histórico no consumo de energia no ano passado, os cinco países do G20 com metas de energia renovável para 2020 tiveram dificuldades para atingi-las. Os outros 15 nem sequer tinham metas, refere o estudo.

“Estamos a acordar para a amarga realidade de que as promessas da política climática nos últimos dez anos têm sido, na sua maioria, palavras ocas. A participação dos combustíveis fósseis no consumo final de energia não se moveu um centímetro”, diz Rana Adib, diretora executiva da REN21, acrescentando que “eliminá-los gradualmente e tornar as energias renováveis a nova norma são as ações mais fortes que podemos tomar”.

Transição para energias renováveis não só é necessária e possível, como também faz sentido para os negócios

Os combustíveis fósseis são responsáveis pela mudança climática, e também contribuem fortemente para a perda da biodiversidade e para a poluição: “Passar dos combustíveis fósseis para a energia renovável é um passo necessário para tomar e fazer das energias renováveis a norma não é uma questão de tecnologia ou de custos”, refere o relatório.

O mesmo estudo dá conta que o setor da eletricidade já fez grandes progressos. Hoje, quase toda a capacidade elétrica nova é renovável: “Mais de 256 GW foram adicionados globalmente em 2020 – superando o recorde anterior em quase 30%”. Em cada vez mais regiões, incluindo partes da China, da UE, da Índia e dos Estados Unidos, é agora mais barato construir novas usinas eólicas ou solares fotovoltaicas do que operar as usinas existentes elétricas a carvão.

“A transição para energias renováveis está a ganhar ritmo porque faz sentido tanto para os negócios quanto para o meio ambiente. A eletricidade renovável já está a criar milhões de empregos. Mas, as empresas e os governos precisam ir mais rápido, não apenas pelo meio ambiente, mas para se manterem competitivos em uma economia do século 21 movida a energia renovável”, diz Sam Kimmins, Líder da RE100.

O relatório deste ano levanta uma questão fundamental: “O que é que está a impedir o mundo de usar a crise da Covid-19 como uma oportunidade de transformação?” Para Stephan Singer, conselheiro sénior da CAN International, “a dura lição da pandemia é que a maioria dos governos não utilizou a oportunidade única de reduzir ainda mais a poluição por carbono e quebrar a resistência dos operadores de combustíveis fósseis. O que conta para eles é o lucro corporativo: não o clima nem a saúde das pessoas”.

O relatório 2021 da REN21 mostra claramente que os governos precisam dar um impulso muito mais forte às energias renováveis em todos os setores: “Os governos não devem apenas apoiar as energias renováveis, devem também desmantelar rapidamente a capacidade de combustíveis fósseis. Uma boa forma de acelerar o desenvolvimento é fazer da absorção de energia renovável um indicador-chave de desempenho para todas as atividades econômicas, todos os orçamentos e todas as compras públicas. Portanto, todos os ministérios deveriam ter metas e planos de curto e longo prazo para fazer a transição para a energia renovável, juntamente com claras datas finais para os combustíveis fósseis”, sucinta Rana Adib.