Municípios da Grande Lisboa mudam jardins, reduzem regas e reutilizam água

Municípios da Grande Lisboa estão a diminuir as regas e a reutilizar a água usada nos espaços públicos para reduzir o consumo face à seca no território, mas não tencionam cortar no abastecimento às populações.

Contactadas pela agência Lusa, as câmaras da Amadora, Azambuja, Cascais, Mafra, Odivelas, Oeiras, Loures, Vila Franca de Xira e Sintra explicaram que têm sensibilizado a população para consumir menos água, procuram reutilizar a água em fontes, lavagens e regas e diminuíram a sua utilização em serviços camarários, destacando-se a rega de espaços verdes: realizadas em menos locais, mais intervaladas e com regas à noite (evitando a evaporação provocada pelo sol).

Em Loures, existe um plano de contingência para situações de seca que, tendo em conta as circunstâncias atuais, determina, entre outras medidas, o “reforço das equipas de piquete” para acelerar reparações de ruturas na rede de água, o aumento de “estilha de pinheiro nos espaços verdes” e o “estudo de limites de consumo desejáveis, em caso de necessidade, para os diferentes tipos de consumidores”.

O executivo de Oeiras sublinha que, nos espaços verdes do concelho, recorre a “captações tradicionais de água para a rega”, “espécies vegetais bem adaptadas” e a uma cobertura própria do solo que “conserva a humidade” e evita “o aparecimento de ervas daninhas”.

Em Odivelas, o vereador João António explicou que têm um projeto-piloto em que a rega de alguns espaços do concelho é controlada por ‘wi-fi’, atuando de acordo com as plantas e com o solo, e que o concelho terá até ao final do ano um plano de mitigação contra as alterações climáticas, a juntar ao plano de adaptação já existente.

Já na Amadora, o vereador Vítor Ferreira referiu um trabalho com as Águas do Tejo Atlântico “para a reutilização da água na limpeza das ruas e com a EPAL para aproveitar desperdícios do Aqueduto das Águas Livres em reservatórios para o sistema de rega em jardins públicos”.

Seguindo o plano municipal do uso inteligente da água, o município de Cascais planta “espécies adaptadas a clima seco” para reduzir a rega e aproveita águas subterrâneas e pluviais nos espaços verdes, alguns deles que estão a ser transformados em prados de sequeiro, “que seguem o ciclo da Natureza e, por isso, não necessitam de rega”.

A adaptação de plantações ao clima seco também será seguida na Azambuja, explicou o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, acrescentando que a água não potável usada em lavagens, regas e pelos bombeiros vêm de furos abertos recentemente no Parque Ambiental de Aveiras de Baixo.

Em Vila Franca de Xira, o futuro dos espaços verdes passa também por espécies autóctones e foram instalados redutores de caudal nos duches de infraestruturas desportivas, assim como distribuídos a mais de quatro mil a alunos das escolas do concelho para instalarem nas torneiras de casa.

No município de Mafra, também se têm colocado redutores de caudal em edifícios públicos, detalhou o presidente da autarquia, Hélder Sousa Silva, acrescentando que, nos últimos três anos, tem investido nas condutas de água para evitar perdas por ruturas, percentagem que atualmente se situa nos 16%, e que tenciona avaliar as captações hídricas espalhadas pelo concelho para que possam servir como “reservas”.

O presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, realçou que 6% das águas residuais do concelho são reaproveitadas (a média nacional é 1%) e que o objetivo é chegar “rapidamente” aos 15%, admitindo ainda que as fontes ornamentais que não utilizam sistemas de recirculação de água podem vir a ser desligadas.

Cascais e Sintra têm ainda nos seus planos centrais de dessalinização para o consumo de água de uso doméstico, assim como Mafra, que candidatou o seu projeto ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas que não foi selecionado até ao momento.

Desde 2019 que os municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) subscrevem o Plano Metropolitano para as Alterações Climáticas, um conjunto de documentos que identifica impactos climáticos e vulnerabilidades na AML e propõe uma adaptação e uma resposta conjunta dos concelhos a diversos problemas ambientais.

A albufeira de Castelo de Bode, a principal fornecedora de água em Lisboa, apresentava em julho uma quota de 68,1%, um valor inferior à média para essa altura do ano, que ronda os 80%.

De acordo com informações do Governo divulgadas no dia 24 de agosto, existem 49 albufeiras com água a menos de 40% da capacidade e quatro abaixo de 20%.

Com o país em situação de seca severa e extrema, choveu praticamente metade do que seria normal desde outubro de 2021, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).