Não há um plano B porque não há planeta B

A mensagem do secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, é clara: “os desafios das alterações climáticas são maiores do que nunca e o tempo está contra nós”. Na 22ª Cimeira do Clima (COP22), que terminou na sexta-feira, em Marraquexe (Marrocos), o responsável máximo das Nações Unidas lembrou que “nenhum país, independentemente dos seus recursos e poder, está imune às alterações climáticas”, referiu no sábado o Expresso.

As palavras do responsável serviram de resposta a Donald Trump, recém eleito nos Estados Unidos e que considera as alterações climáticas como uma “farsa inventada pelos chineses”, pretendendo romper com o Acordo de Paris. Porém, Ban Ki-moon avisa: “Não existe um plano B, porque não temos um planeta B”.

A euforia vivida com a entrada em vigor no Acordo de Paris acalmou, primeiro com a vitória de Trump, e depois, pelos impasses da própria cimeira marroquina, da qual deviam sair mecanismos de regulamentação para verificar se os signatários vão cumprir os objetivos propostos em Paris, ou se vão ser mais ambiciosos. Certo é que o que está em cima da mesa para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), não chega para impedir os termómetros de subirem mais de 2 graus Celsius até ao fim do século e evitar cenários catastróficos.

Em 2016 ultrapassou-se o marco de concentração de dióxido de carbono na atmosfera (400 partes por um milhão de volume de ar). Um nível tão elevado só existiu no planeta ante de nele existirem seres humanos, há 15-20 milhões de anos. Nessa altura, as temperaturas eram 3º a 6º mais quentes que as de hoje e os níveis do mar, 25 a 40 metros mais altos. Com o período da glaciação há dois milhões de anos, as concentrações de dióxido de carbono baixaram e só voltaram a disparar com a Revolução Industrial.

Novos dados da Organização Meteorológica Mundial vêm confirmar os efeitos das emissões humanas de gases, como o dióxido de carbono, em que mais de metade se concentra no século XXI. Por isso, não é de estranhar que 2016 seja o ano mais quente de que há registos. Para isso contribuíram as emissões das atividades humanas e o fenómeno “El Niño”. O ano ainda não chegou ao fim, mas a temperatura média global está a 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais.

Os dois maiores poluidores mundiais – a China e os EUA, responsáveis por 38% das emissões globais – já estão a tentar inverter a trajetória. Os americanos acordaram para as alterações climáticas depois da devastação provocada pelo furação “Katrina”, que inundou Nova Orleãoes, em 2005. Já os chineses, aconteceu após as grandes manifestações devido ao ar irrespirável nas grandes cidades.

Nos últimos três anos as emissões de dióxido de carbono com origem em combustíveis fósseis e na atividade industrial estabilizaram a nível mundial, segundo dados do Global Carbon Project. Só nos EUA e na China caíram respetivamente 1,7% e 0,5%, em 2016, devido às quebras de produção americanas e ao fecho de centrais de carvão chinesas. “É uma grande ajuda no caminho de combate às alterações climáticas, mas não é o suficiente”, declarou Corinne Le Queré, diretora do Tyndall Centre for Climate Change. Contudo, as emissões derivadas da desflorestação e uso do solo, continuam a subir.