Por André Chaves, Departamento de Gestão e Projetos da Forestis
Assinala-se a 17 de junho o Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação, uma efeméride que nos convoca a refletir sobre as causas e soluções para dois fenómenos interligados que ameaçam seriamente a sustentabilidade dos territórios rurais. Em Portugal, a crescente pressão sobre os solos, a irregularidade do regime hídrico e o abandono de terras contribuem para a degradação ecológica e para o empobrecimento social de vastas regiões. A resposta a este desafio exige visão estratégica, ação coletiva e um profundo compromisso com a terra. E é aí que a Floresta e o Associativismo se cruzam como parte essencial da solução.
As Florestas desempenham um papel determinante na regulação do ciclo da água, na retenção dos solos, na conservação da biodiversidade e na mitigação das alterações climáticas. Contudo, estas funções ecológicas só se cumprem plenamente quando existe gestão ativa e sustentável do território Florestal. Infelizmente, a realidade portuguesa é marcada por uma propriedade altamente fragmentada, escassez de recursos técnicos e financeiros e um modelo produtivo que, em muitos casos, permanece ausente ou desorganizado.
É neste cenário que o Associativismo Florestal se afirma como uma peça-chave na luta contra a desertificação. As Organizações de Produtores Florestais (OPF), presentes em todo o território, promovem a união de pequenos proprietários em torno de objetivos comuns: planeamento, ordenamento, gestão técnica, certificação, prevenção de incêndios, valorização da produção e proteção dos serviços dos ecossistemas. Como sublinha a Forestis, estas estruturas permitem criar escala, profissionalizar a gestão e estruturar a oferta de bens e serviços fundamentais à resiliência territorial.
Modelos de gestão agrupada como as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), os Agrupamentos de Baldios (AdBaldios), as Áreas Florestais Agrupadas (AFA) ou as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP) são exemplos concretos de como o trabalho colaborativo pode transformar paisagens vulneráveis em territórios vivos, produtivos e resilientes. Além disso, o reconhecimento do valor económico dos serviços de ecossistema, através de instrumentos como os Pagamentos por Serviços de Ecossistema (PSE), abre novas oportunidades para premiar quem cuida da Floresta e garante funções vitais como o sequestro de carbono, a regulação hídrica ou a conservação do solo.
Mas para que estes mecanismos sejam eficazes, é essencial reforçar a capacitação e o apoio às OPF’s, estimular a adesão dos proprietários, facilitar o acesso à inovação e promover políticas públicas coerentes, estáveis e adequadamente financiadas.
A desertificação não é um fenómeno inevitável. É uma consequência de escolhas passadas e de inações persistentes. Inverter esta tendência exige mais do que alertas pontuais: requer uma mudança estrutural na forma como valorizamos o mundo rural e os seus guardiões, entre os quais se destacam os produtores florestais organizados.
Neste 17 de junho, que o combate à desertificação seja também um apelo à valorização da floresta e ao fortalecimento do Associativismo Florestal.
Porque conservar a Floresta não é apenas proteger árvores…é preservar o solo, a água, o clima e a vida que neles habita.