O VALOR implícito da Água

Por: Nuno Brôco, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico

A temática da escassez hídrica faz parte da agenda atual e é alvo de discussão recorrente em fóruns mais especializados ou mais generalistas, com especial enfoque nas várias perceções de a ausência do recurso, das implicações das alterações climáticas e das preocupações associadas à sustentabilidade dos recursos do planeta, sendo aceite a necessidade de diminuição das pressões sobre as matérias-primas, nomeadamente, deste “capital natural” sem o qual comprometemos o bem essencial, que é a vida.

ETAR de Beirolas

É igualmente frequente que as posições em discussão e a visão sobre a temática da escassez hídrica se foquem predominantemente no recurso água, apenas do ponto de vista hídrico, ou seja, na essência da água, sem considerar os múltiplos valores implícitos deste recurso.

Numa visão integrada de Uma Só Água, é essencial considerar as várias origens de água, desde as mais convencionais, como superficiais e subterrâneas, até às mais alternativas, como as pluviais urbanas, salobras, a água salgada, a água para reutilização (ApR) e águas residuais industriais, mas igualmente os vários usos que lhe estão subjacentes. Será na otimização do consumo e no correto uso das diversas origens e da maximização do aproveitamento dos seus valores diferenciados que estará a chave do sucesso de uma gestão de recursos hídricos integrada e sustentável num país como Portugal.

Na Águas do Tejo Atlântico tratamos anualmente cerca de 200 milhões de metros cúbicos de água residual, ou seja, o mesmo volume de água que foi captada em 2018, e mais de metade do que é captado atualmente na barragem do Alqueva. Esse enorme volume de água residual tratada com níveis de qualidade de referência a nível nacional e internacional é devolvida ao ambiente em condições de preservação da qualidade das massas de água, mas também pode e deve ser utilizada para outros fins. Pela nossa proximidade ao Tejo e ao Atlântico, a grande maioria deste recurso acaba no oceano.

A reutilização desta água, e dos valores que lhe estão implícitos é atualmente muito discutido, mas, ainda muito pouco praticado. Temos uma taxa de reutilização a nível nacional e a nível global na Tejo Atlântico verdadeiramente escassa (menos de 2%) face ao esforço que temos colocado nesta causa ao longo dos anos, às diferentes iniciativas bem sucedidas em que temos estado envolvidos, mas que ainda não passam de “gotas” no contexto da possibilidade e da oportunidade, é um caminho para o futuro.

A nível interno, na Águas do Tejo Atlântico, a taxa de água reutilizada face às necessidades totais de água da empresa já é superior a 90%, pelo que é difícil ir mais além. Contudo, a nível externo, e não obstante as várias iniciativas em fase de planeamento a sua concretização tem sido claramente insuficiente.

Fábrica de Água

Para evidenciarmos o valor implícito da água que reutilizamos criámos a marca água+, alertando para o facto de termos incluído neste produto muito mais do que água. Temos disponível água rica em azoto e fósforo e outros micronutrientes, essenciais ao crescimento vegetal. Mas esta é igualmente água com energia, uma vez que o fornecimento da agua+ é feito sob condições de pressão à saída da nossa instalação de tratamento. E este é um produto aditivado com um forte processo de gestão de risco com vista à sua utilização segura, internamente e por terceiros, envolvendo um tratamento adicional e adequado para efeitos de reutilização, uma rigorosa monitorização analítica e finalmente, uma segurança de continuidade que nos diferencia da generalidade das outras origens de água.

A alteração de mentalidade está em curso, mas a velocidade da mudança tem sido insuficiente para equilibrar a aceleração dos desafios relacionados com a gestão da água a nível global.  Felizmente, continuamos a alimentar a nossa ambição de contribuir para um planeta mais equilibrado, contando com o alento e reconhecimento do VALOR implícito da água e da maximização do seu uso tem vindo a ser evidenciado e, prova disso são o reconhecimento internacional do projeto “Parque e Jardins de Lisboa – o mesmo verde, a água é outra” vencedor dos Water Europe Awards 2023, na categoria “Prémio de Tecnologia e Infraestruturas de Água”. Foi ainda finalista do “Wex Global 2022 Awards” na categoria “Inovação na Circularidade da Água” e distinguido com uma menção honrosa na categoria “Água e Cidades Sustentáveis” na edição de 2022 dos Prémios VERDES Visão + Águas de Portugal.

 

*Este artigo foi incluído na edição 100 da Ambiente Magazine