#Opinião: 100 Dados, Sem Mudanças!

Por: Bárbara Rodrigues, especialista em gestão de resíduos

100 dados, sem mudanças, foi o mote para o tema que escrevo hoje. Um manancial de dados que quando usados levariam à mudança, no entanto…temos um retrato de investimentos reincidentes que não refletem eficiências, nem uma sociedade recicladora!

Inspirada agora em duas realidades do universo de gestão de resíduos urbanos (PT), atrevo-me a escrever sobre os DADOS no seu todo (recolha, tratamento, fiabilidade, custo e impacto).

Quando se fala em impacto, falamos obrigatoriamente em eficiência. Que os números falam por si já é certo e sabido, no entanto, o que nos dizem é tema para outro debate.

O fluxo de dados no setor de resíduos assume-se como uma simbiose entre a produção e a gestão. Dados partilhados às entidades que regulam, que planeiam e sobretudo que deveriam organizar o mercado de serviços e matérias-primas entre setores (primário, secundário e terciário).

Enquanto gestores, líderes da mudança que queremos ver, sofremos quando vemos a influência que temos nos resultados (p.e taxa de reciclagem, ou indicadores de circularidade que contribuímos, mas não se valorizam porque não se medem).

É redutor quando se relê, “é preciso reciclar mais”, porque antes deveria ser certo que é necessário analisar os seguintes dados:

  • Produções per capita reais;
  • Taxa de reciclagem de resíduos vs impacto na escassez e custo de matérias-primas importadas;
  • Taxas de refugo vs Eco design;
  • Caracterizações de biorresíduos e de embalagens vs impacto das soluções tecnológicas de tratamento;
  • Resíduos vs inputs de energia;
  • Balanços mássicos, hídricos vs simbioses intersectoriais;
  • Qualidade & quantidade de biorresíduos reciclados;
  • Perceção vs convicção;

Para arriscarmos nos decisores de análise referidos anteriormente, voltamos à importância dos dados.

Consequentemente, para medir bem, temos de olhar para a “fiabilidade dos dados”, e isso leva-nos a uma questão muito necessária, quanto custa? Só poderemos medir o custo desse valor avaliando, nomeadamente o impacto na eficiência que desejamos e precisamos (MUDANÇA).

Acompanhando as políticas de gestão de resíduos, há um mercado que se regula pelo SIGRE com um elevado nível de informação no que respeita os valores de contrapartida, o cumprimento das especificações técnicas, e que me leva às seguintes questões:

  1. Qual é a % de refugos/rejeitados das Centrais de Triagem, Tratamentos Mecânicos, Biológicos, ou seja, resíduos de embalagem e não embalagem?
  2. O mercado do SIGRE absorve as quantidades reais de embalagens provenientes do refugo? E os resíduos não embalagem, tão necessários também enquanto matérias-primas secundárias? A resposta a estas 2 questões ainda se faz da palavra “ATERRO”.
  3. Porque não se aumenta cota de quantidades e tipo de materiais a retomar pelo SIGRE? Existe capacidade instalada na indústria de reciclagem que vai a jogo nos leilões? Olhemos aos dados! Para um SGRU evitar um destino menos nobre para os seus refugos de embalagens tem de correr fora do mercado do SIGRE, e não é pelo facto desses materiais não terem valor.

Existe ainda:

  • Uma realidade que não se quer ver, mas que se pode medir pela quantidade de resíduos que deixará de entrar na fórmula do indicador Preparação para a Reutilização e Reciclagem.
  • Um regulamento tarifário que se divide entre a esfera pública e privada e que tem impacto nas tendências de investimento.
  • Um desfasamento temporal de obrigações e atribuição de responsabilidades – os novos fluxos e obrigações de recolha (gestão em baixa) e a sua valorização (gestão em alta). Não podemos esquecer (e bem) que a deposição de resíduos recicláveis sem tratamento prévio em aterro traduz-se numa contraordenação, mas que por outro lado, existe uma parte interessada que ainda não é obrigada a recolher seletivamente (Câmaras Municipais, ou acordos de execução com as Juntas de Freguesia, p.e.). Existe, portanto, um desfasamento que se acentua pela falta de recursos, pela necessidade de educar com tempo para a necessidade de desviar a montante, demonstrando os benefícios através de resultados, através de novas RECEITAS.

Olhemos aos dados: quanto, quem recolhe e onde?

Temos um Sistema de Gestão em alta, ainda que com algum atraso, a tentar reaproveitar, por via da quantidade, um conjunto de matérias-primas que têm um elevado potencial (se não continuarem a ir para aterro). Olhemos aos dados que alimentam as taxas de eficiência atuais das Centrais de Triagem e Valorização Orgânica (balanços energéticos, mássicos). As tecnologias desenhadas nestas centrais, são dependentes de uma alimentação rica em quantidade e qualidade. Por isso é que temos as taxas de refugo e de deposição em aterro elevadas (é preciso subtrair refugos de processo, rejeitados, efluentes de processo). Não descurando o papel da RAP (Responsabilidade Alargada ao Produtor) e do ecodesign, esta é a realidade de dados que temos de trabalhar.

Nesta sequência de pensamento, surgem novas questões, estamos a contribuir para que indicadores? As soluções combinam a gestão eficiente de efluentes, de energia e resíduos?

Diariamente pesamos na balança dados de rejeitados, subprodutos sejam sólidos e líquidos, que oneram as tarifas, pela sua quantidade e efeito “contaminante” dos sistemas a jusante, mas que na verdade poderiam ser considerados novas matérias-primas se os dados fossem utilizados enquanto inputs de novas formas de valorização sejam dentro ou fora do setor de resíduos.

Não me alongando mais, os SGRU tocando no final de linha, precisam de apoio para um novo planeamento e regulação de aquilo é um resíduo ou efluente de processo, mas que na verdade poderá ser fonte de matéria-prima noutros setores, e vice-versa, onde falta por exemplo matéria-orgânica.

Tantas questões reflexão e uma resposta comum, não há “sustentabilidade sem lucro”!