#Opinião: “2050 depende de nós”

Por: Frederico Venâncio, Diretor-Geral da Phenix Portugal

Segundo o relatório sobre a população mundial divulgado em 2019 pelo Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da Divisão de População da ONU, em 2050, haverá quase 10 mil milhões de habitantes no mundo. Serão inúmeros os desafios que as cidades irão enfrentar. Existe, em particular, um desafio que me preocupa e que provavelmente deverá também preocupar a maioria dos Chefes de Estado com uma visão de futuro: a distribuição alimentar. Neste sentido, importa perceber como é que as cidades se estão a preparar, tendo em conta as suas diferentes características.

Do meu ponto de vista, existem debilidades em cada um dos patamares da cadeia de produção, de distribuição e de consumo, para além das fragilidades existentes no contexto social e económico que envolvem estes processos. Não é nas quantidades produzidas ou na compra de bens essenciais que os Municípios devem intervir, porque em termos de estrutura, nem tudo funciona mal. É na atuação nas escolas, começando desde logo a educar as gerações mais novas para uma alimentação equilibrada e livre de desperdício. É na sensibilização das famílias para a adoção de comportamentos mais responsáveis e sustentáveis na compra e gestão de produtos alimentares. É na promoção da agricultura e produção locais, com cadeias de distribuição mais curtas e eficientes. E, num nível mais macro, é na criação de incentivos para as empresas que contribuem com uma gestão de recursos otimizada, e na classificação dos produtos que chegam às alfândegas e mercados abastecedores, no sentido de controlar aquilo que é ou não vendido. A percentagem de produtos não vendidos poderia ser doada a IPSS, por exemplo.

Um outro tópico que, dentro deste tema, também fará sentido abordar é o da qualidade alimentar. Segundo alguns dados internos, sabemos que a alimentação difere em regiões mais rurais e em regiões mais urbanas. Nas cidades, a comida acaba por ser mais processada e calórica, produzida de forma mais industrial. Pelo contrário, em meios rurais, os produtos são mais naturais e este fator, associado à rotina, pode resultar numa alimentação mais saudável fora dos grandes centros urbanos e, portanto, numa qualidade alimentar de nível superior. Desta forma, uma das soluções que poderiam ser implementadas nas grandes cidades, por exemplo, seria a de criar e promover estruturas de produção de pequena escala, como as hortas comunitárias, que ajudariam a criar um sentido de responsabilidade e de esforço conjunto para a resolução deste problema, de uma forma sustentável, junto de todos os intervenientes a nível local.

A população mundial está a aumentar e, com ela, aumentam também as oportunidades de negócio, os padrões de consumo e o desperdício. Infelizmente não se aproximam tempos fáceis e, como em todos os momentos da História, temos de nos adaptar e reorganizar. Importa otimizar os recursos existentes, inventariar o que se produz, o que se compra e o que se consome, importa canalizar esforços para atuar junto dos pilares da sociedade numa ótica de sensibilização, adotando estratégias municipais personalizadas, e importa reformular os fluxos de consumo, que influenciam a qualidade e distribuição alimentares. Não há falta de recursos, mas há debilidades na gestão dos mesmos. Cabe-nos sermos mais proativos na prevenção, porque, no fundo, o tamanho das consequências deste problema depende de todos nós e da forma como contribuímos para um futuro melhor.

Este artigo foi incluído na edição 96 da Ambiente Magazine