#Opinião: A água está no vinho… desde o cacho até ao fundo do copo, passando pelo pré-tratamento das águas residuais das Adegas!

Cada vez mais está incorporado em cada um de nós que a água é essencial para todas as realidades do nosso dia-a-dia. Não há vida sem água! Mas também não há produtos, não há agricultura, não há higiene pessoal, não há desporto, não há florestas, não há ecossistemas… enfim podia enumerar exemplos até ao final deste texto e mesmo assim não chegaria nem para começar. Mas a verdade é que a água é tão essencial e tão presente que por vezes nem nos lembramos dela.

Por exemplo: foram precisos 10 mil litros de água para fabricar as calças de ganga que tenho vestidas e 460 litros do mesmo “produto” para a garrafa de vinho que ontem à noite bebi com amigos (devíamos trocar por cerveja pois para a mesma quantidade “só” seriam precisos 155 litros de água). Desde a sua semente ou fabricação até à excreção do consumidor final, todos os processos requerem água e produzem água “usada”. E depois de consumidos, produtos ou alimentos, também geram água, alvo de tratamento e valorização.

Resumindo: A água tem vários estados, várias qualidades, vários usos e várias necessidades! Até para ser tratada e valorizada a água precisa de Fábricas que a recuperam para outras utilizações e produtos.

A adequada recuperação deste bem essencial é fundamental para as novas realidades da vida da água. A água está em permanente circulação pela natureza, nos vários meios hídricos e pelas diversas necessidades das comunidades e para isso existem regras, simples e claras, para que se permita um futuro sustentável para as populações e para o Planeta.

Pensar que se pode produzir um bem e que a água utilizada no seu ciclo de fabrico pode ser deitada na rede pública ou na natureza sem o tratamento devido é uma ilegalidade e irresponsabilidade que põe em causa o equilíbrio do sistema de tratamento de águas residuais da sua proximidade e a sustentabilidade do meio-recetor (rios ou mar).

As afluências indevidas que chegam aos sistemas de tratamento de águas residuais são muito prejudiciais para a sua eficácia, podendo dizimar a biologia existente (entre outros), e torná-lo ineficaz no tratamento e valorização deste bem essencial reciclável. A lei exige o pré-tratamento da água usada de forma a entregá-la nas condições exigidas ou acordadas, por forma a garantir que tudo se processa numa harmonia operacional que permita rumar à sustentabilidade. Prevaricar neste ponto é prejudicar a comunidade no seu elemento mais essencial. É fundamental o cumprimento da legislação, assim como a fiscalização pela entidade competente, o que implica uma questão fundamental, que na minha opinião ainda não está resolvida devidamente: Será que a entidade fiscalizadora não deveria ser supramunicipal de forma a não sobrepor valências e proximidades? É uma questão estrutural com que se debatem muitos municípios nas suas vertentes empreendedoras e fiscalizadoras.

Voltando ao exemplo do vinho, recordo que cada vez mais as empresas vitivinícolas portuguesas estão na busca permanente da sustentabilidade, com métodos inovadores de rega eficiente, otimização dos processos de limpeza e desinfeção, redução, recirculação e reutilização da água utilizada, o que contribui para a qualidade inigualável deste vinho português.

Esta indústria é um excelente exemplo de modernidade e eficiência na sua produção. Mas não se desenvolveu sozinha. Desenvolveu-se com parcerias onde o empreendedorismo e as universidades deram as mãos e juntaram empresas, associações e instituições. Juntos estudaram, experimentaram, partilharam e valorizaram, através da inovação operacional e de processo. Só se cresce efetivamente se todo o conjunto de envolvidos se desenvolva em igual sentido: o sustentável.

As exceções passaram a ser algumas adegas que, recorrentemente e anualmente, despejam todas as águas usadas no processo diretamente na natureza ou na rede coletora. O espectro da sua atuação, ao invés de influenciar sustentávelmente o desenvolvimento da comunidade, arrasam os processos positivos de crescimento, mesmo que produzam um vinho de elevada qualidade. E depois há queixas de rios e ribeiros com cor de vinho, embebedando a nossa natureza e visão de caminhos ribeirinhos por aldeias no nosso país.

Será então que a qualidade é por si só o garante de sustentabilidade? Ou só o será se o processo para a atingir for sustentável? Uma interessante reflexão para ser feita a saborear um belo vinho!

[blockquote style=”3″]Hugo Xambre é o novo cronista da Ambiente Magazine.Todos os meses, o vice-presidente Executivo do Conselho de Administração das Águas do Tejo Atlântico dará o seu testemunho sobre a atualidade no mundo do ambiente.[/blockquote]

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