Por José Carlos Ferreira, Investigador do MARE, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa I NOVA FCT
As Infraestruturas azuis são fundamentais para a promoção da biodiversidade, resiliência e adaptação das comunidades costeiras às alterações climáticas. Este domingo, dia 2 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas; as zonas húmidas são ecossistemas fundamentais para a vida, prestando serviços essenciais à biodiversidade e à economia. No entanto, continuam a ser ameaçadas pela ação humana, pelo desordenamento do território e pelas alterações climáticas. Perante este cenário, a sua proteção e restauro não são apenas uma opção, mas uma necessidade urgente para garantir um futuro sustentável.
As zonas húmidas são caracterizadas pela presença de água, podendo ser permanentes ou sazonais. Em Portugal, encontramos diversos exemplos, desde pauis, charcos, lagoas e estuários a sistemas lagunares e sapais. No continente, destacam-se o Estuário do Tejo, o Estuário do Sado, a Ria de Aveiro e a Ria Formosa. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, há ecossistemas húmidos de elevado valor, como as lagoas das Sete Cidades, do Fogo e das Furnas, as fajãs das Lagoas de Santo Cristo e dos Cubres, e as turfeiras no Pico e na Terceira. Além das zonas húmidas naturais, existem também formações artificiais criadas pelo ser humano, como os arrozais do Mondego e do Sado, as salinas de Aveiro e Castro Marim e os viveiros de peixe, que têm um impacto significativo na sustentabilidade ambiental e na economia local.
Os serviços prestados pelas zonas húmidas são vitais. Regulam os regimes hídricos, reduzindo o risco de inundações e contribuindo para a recarga dos lençóis freáticos. Funcionam como filtros naturais, removendo poluentes e melhorando a qualidade da água. Além disso, são sumidouros de carbono, ajudando a mitigar os impactos das alterações climáticas.
O seu contributo é igualmente decisivo na adaptação climática, ao protegerem as zonas costeiras da erosão e do impacto das tempestades, minimizando os efeitos do galgamento oceânico e das inundações. São também habitats essenciais para uma vasta diversidade de espécies, incluindo aves migratórias, peixes e anfíbios. No plano económico, sustentam atividades fundamentais como a pesca, a aquacultura, o turismo e a produção de sal e arroz. Além disso, possuem um valor cultural e científico significativo, sendo palco de investigação e atividades recreativas.
Apesar da sua importância, as zonas húmidas enfrentam ameaças graves. A falta de um ordenamento do território de base ecológica, a urbanização e a expansão agrícola têm levado à sua drenagem e destruição. A poluição proveniente de indústrias, esgotos e produtos agrícolas compromete a sua qualidade ecológica. A sobre-exploração dos recursos hídricos tem secado muitos destes ecossistemas, comprometendo a vida que deles depende.
As alterações climáticas vieram agravar a situação, intensificando as secas, aumentando o nível médio do mar e tornando as tempestades mais frequentes e severas. A fragmentação dos habitats por infraestruturas, bem como a introdução de espécies invasoras, têm vindo a comprometer ainda mais a sobrevivência destas áreas.
O que podemos fazer? A proteção e o restauro das zonas húmidas devem ser uma prioridade nas políticas ambientais. Apesar de ainda faltar fazer muito, Portugal tem tido um papel ativo na proteção das zonas húmidas. Retificou a Convenção de Ramsar em 1980, tendo desde então designado várias zonas húmidas como Sítios Ramsar, reconhecendo a sua importância para a biodiversidade e os recursos hídricos. Além dos sítios Ramsar, muitas áreas protegidas em Portugal incluem zonas húmidas de grande valor ecológico.
No entanto, é necessário reforçar medidas concretas não só para aumentar o numero de áreas húmidas protegidas, como para garantir uma preservação eficaz das que já estão classificadas.
Uma resposta eficaz passará por: implementar programas de restauro ecológico que permitam recuperar ecossistemas degradados; reforçar a fiscalização ambiental para impedir a destruição e poluição das zonas húmidas; promover a utilização sustentável dos recursos, assegurando que as atividades económicas não comprometam o equilíbrio destes habitats e, por último e talvez a mais importante, aumentar a literacia ambiental e desenvolver processos de envolvimento ativo das comunidades com vista ao aumento do conhecimento e consequentemente da proteção ativa das zonas húmidas.
Proteger as zonas húmidas é proteger o nosso futuro. Afinal, só conhecendo podemos valorizar, e só valorizando podemos realmente proteger.