Tiago Santos, CEO Enlitia
No setor da energia renovável, já não basta gerar eletricidade limpa. A verdadeira medida de sucesso está em conseguir antecipar, otimizar e responder em tempo real aos desafios de um mercado cada vez mais competitivo e volátil. Produzir energia é essencial, mas só isso já não garante eficiência nem sustentabilidade económica. O futuro da energia passa pela capacidade de tomar melhores decisões, mais rápido, e, isso só é possível com dados e inteligência artificial (IA).
Na última década, assistimos a uma explosão da capacidade instalada de energias renováveis na Europa. O desafio deixou de ser apenas tecnológico ou de engenharia: passou a ser também digital. Como gerir milhares de ativos espalhados por vários países, sujeitos a condições meteorológicas distintas, e garantir que cada megawatt produzido é aproveitado ao máximo? A resposta é clara: a digitalização da gestão de ativos não é uma tendência, é uma urgência estratégica.
O caso da Nadara ilustra bem este caminho. Com mais de 4,2 GW de capacidade instalada e presença em 11 países, a empresa enfrentava um cenário comum a muitos operadores: sistemas fragmentados, dados dispersos e análises demoradas. Em conjunto, desenvolvemos uma infraestrutura de dados centralizada que transformou esta realidade. O resultado? O tempo de integração de novos portefólios caiu de quatro semanas para apenas três dias. O acesso a informação fiável tornou-se 75% mais rápido. E a automatização das análises permitiu multiplicar por cinco a velocidade de diagnóstico e decisão.
Como refere João Santos, Head of Innovation, AI, Data and Analytics, “a centralização de dados e a aplicação de algoritmos estão a permitir à Nadara tomar decisões mais rapidamente, reduzir custos operacionais e antecipar riscos”. Este testemunho ilustra de forma clara o impacto concreto da inteligência artificial no dia a dia da gestão de ativos, e confirma que não estamos a falar de futuro distante, mas de presente transformador.
Mais do que métricas operacionais, este avanço significa ganhos estratégicos: maior disponibilidade dos ativos, menores custos e uma capacidade inédita de ajustar a produção em tempo real ao mercado. Quando cada hora de indisponibilidade de operação pode representar perdas significativas, a possibilidade de prever falhas, identificar baixa performance ou calcular energia perdida de forma automática é uma vantagem competitiva decisiva.
Acredito que esta transformação vai muito além da Nadara. Estamos a assistir ao nascimento de uma nova infraestrutura energética – não feita de cabos e turbinas, mas de dados, algoritmos e insights. Tal como as redes elétricas físicas foram a base da eletrificação no século XX, a inteligência artificial será a base da descarbonização no século XXI.
O futuro da energia renovável não se define apenas nos parques solares ou eólicos, mas sim nos centros de decisão digital. Quem dominar a capacidade de integrar dados, antecipar cenários e transformar informação em ação liderará a próxima fase da transição energética. E é por isso que afirmo com convicção: a inteligência artificial já não é apenas uma ferramenta. É a nova infraestrutura da energia.








































