#Opinião: A Urgência de AgIR

Por: Ana Cisa, Administradora da Águas do Tejo Atlântico

AgIR é o Plano de proximidade com municípios e indústrias para a gestão das Águas Industriais Residuais da região da grande Lisboa e Oeste

O AgIR foi apresentado no passado mês de maio e tem como objetivo desenvolver um trabalho conjunto com os municípios servidos pela Águas do Tejo Atlântico e as respetivas indústrias para uma gestão adequada das Águas Industriais Residuais na região da grande Lisboa e Oeste. Este projeto estruturante conta com o apoio técnico e financeiro do Fundo Ambiental para a erradicação das afluências indevidas de águas residuais industriais, no valor de 4,4 milhões de euros.

A eficiência da gestão da água exige, principalmente nos dias de hoje, um ciclo de sustentabilidade que vá além de fatores económicos. As realidades climáticas e a escassez de recursos básicos exigem abordagens dinâmicas cujo sucesso depende do comportamento de todos, individualmente e como organização, e só terá resultados com a adoção de boas práticas sustentáveis e coletivas para a melhoria da qualidade de vida e ambiental de cada região.

Os sistemas de recolha e tratamento de águas residuais, integrados nos ativos de serviço público sob a responsabilidade da Águas do Tejo Atlântico, são fundamentais para esta dinâmica sustentável por forma a garantir um serviço de qualidade, ininterrupto e universal. Assentam em parcerias duradouras com os municípios servidos e a sua resiliência e eficiência está estreitamente relacionada com o desempenho e a articulação com as entidades gestoras «em baixa» e os respetivos clientes junto de quem recolhem os efluentes, como sejam as indústrias.

Todos estes atores trabalham diariamente para promover melhores condições ambientais, de saúde pública e do desenvolvimento mais sustentável do tecido empresarial, garantindo um desempenho adequado – nomeadamente os relacionados com a água que utilizam e devolvem – resultante dos processos de produção, havendo claramente um espaço para melhoria com vista ao desenvolvimento económico e ambiental da região.

A Urgência de “AgIR” resulta precisamente da necessidade de melhor articular estes comportamentos, para a proteger as massas de água e evitar disrupções no processo operacional das “Fábricas de Água”.

Durante quatro anos, a Tejo Atlântico, os municípios e as respetivas indústrias vão planear e trabalhar em conjunto na erradicação de afluências indevidas de águas residuais industriais sem o devido pré-tratamento nos sistemas de recolha, tratamento e valorização das Fábricas de Água (ETAR) da Águas do Tejo Atlântico.

Trata-se de um projeto de proximidade pioneiro de apoio técnico às indústrias estimulando-as a «olhar» para o seu processo produtivo, nomeadamente o pré-tratamento de águas residuais, contribuindo para melhorar a eficiência dos processos

De facto, a Tejo Atlântico destacou uma equipa de especialistas que, identificando os pontos críticos das descargas nas redes, pode trabalhar com as empresas para avaliar os seus processos de pré-tratamento, reconhecendo também as fases do processo produtivo que podem ser otimizadas no sentido da minimização dos efluentes e melhorando a sua qualidade, contribuindo também com outras medidas relacionadas com a energia e resíduos, para aperfeiçoar o desempenho ambiental das indústrias.

Mas “AgIR” não fica por aqui. Outra ação muito importante prende-se com a caraterização das águas residuais afluentes às Fábricas de Água e que são provenientes de unidades hospitalares no Município de Lisboa de forma a contribuir para o estabelecimento de sistemas de vigilância epidemiológica que concorram para melhorar a resposta a eventuais surtos de doenças na população e promover a otimização dos processos de tratamento nas FA e nas unidades hospitalares. A caracterização irá incluir a pesquisa de bactérias resistentes a antibióticos de elevada prioridade para a Organização Mundial de Saúde, de vírus relevantes em ambiente hospitalar (por exemplo, SARS -CoV -2) e de poluentes emergentes presentes nestas águas. Adicionalmente, será caracterizada a ecotoxicidade apresentada por este tipo de amostras a diferentes níveis tróficos.

Está igualmente assegurada a formação presencial e descentralizada a técnicos das entidades gestoras dos serviços municipais de saneamento de águas residuais e das indústrias no domínio dos efluentes industriais: de facto, este trabalho conjunto é feito por pessoas e para pessoas.

O reconhecimento das indústrias e os seus resultados serão consumados através da atribuição do Selo de Qualidade Indústria em Evolução” que anualmente irá premiar o desempenho ambiental das indústrias que se tenham destacado no trabalho conjunto com a Tejo Atlântico e os municípios no domínio dos efluentes industriais. Estes selos contribuirão para o reconhecimento do município e das suas indústrias como promotores e corresponsáveis por uma melhor proteção do ambiente e a transição para uma sociedade circular.

O envolvimento e a participação das indústrias é da maior importância para o desenvolvimento ambiental de cada região, fortalecendo, assim, a competitividade do território e a qualidade de vida dos seus habitantes. É a oportunidade para uma mudança de paradigma, entre todos os envolvidos, com a perspetiva de resolução de problemas graves e complexos que duram, nalguns casos, há décadas.

*Este artigo foi incluído na edição 96 da Ambiente Magazine