#Opinião: Como instigar a mudança que queremos ver no clima?

Por: Inês Sequeira, diretora da Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Precisamos de todos e de cada um de nós para provocar a mudança que queremos no clima, mas para isso precisamos de um conjunto de iniciativas e estratégias que permitam a adaptação das pessoas e das empresas às alterações climáticas, através de soluções inovadoras de impacto.

Inês Sequeira

A resiliência é uma das características mais importantes de um empreendedor e é reconhecidamente uma das mais importantes a ter num mundo em constante mudança. É também de resiliência que precisamos quando falamos de alterações climáticas. E porquê?

O clima tem um grande impacto no ambiente, mas não só, também nos setores social e económico. Já estamos a sentir muitos dos seus efeitos hoje, como a seca e temperaturas altas em Portugal, mas as alterações climáticas são sobretudo uma ameaça para a vida das populações e dos países a longo termo.

Os maiores agentes para a promoção da resiliência climática de forma efetiva, para além do cidadão comum, são os agentes governamentais. Que em todas as suas esferas das políticas públicas possam implementar ações e medidas para melhorar o bem-estar comum e mitigar as dificuldades enfrentadas decorrentes das alterações climáticas. Idealizar, testar, falhar e identificar, e pensar de novo. Ajudar as pessoas e as empresas a fazerem a sua parte; rever planos de uso dos recursos naturais; promover iniciativas que ajudem empreendedores, empresas, organizações e o sector público a gerar impacto positivo e a construir aos poucos a mudança tão necessária.

A promoção de uma sociedade com resiliência climática implica também ter capacidade de “pensar à frente” – começar já a promover soluções que podem mitigar os efeitos de um desastre climático concreto no futuro. E há já muitas soluções a operar nesse sentido como a Animob com um serviço de partilha de terreno e gado para prevenir os incêndios florestais e limpar terrenos ou a nível local, a Associação Verde, que criou um ecossistema para preservação da biodiversidade que está a ser implementado no concelho de Lousada, no norte de Portugal: o Carbono Biodiverso, o primeiro projeto de compensação de carbono em Portugal que preserva árvores de grande porte e planta as árvores do futuro.

Não existe um “one size fits all”, por isso existem as mais variadas soluções que criam impacto positivo no ambiente e ferramentas práticas que ajudam os governos a implementar estratégias resilientes. Também a nível financeiro e de financiamento de outros projetos de impacto, há a Goparity, uma residente do hub de empreendedorismo Casa do Impacto, que ajuda investidores a descarbonizar o seu portfólio de investimentos e as empresas a compensarem o CO2 que emitem com cada trabalhador, ao investirem em projetos que evitam o mesmo montante de CO2 emitido para o planeta, equilibrando a balança.

Ou mesmo a Net Zero Insights, que é uma plataforma que dá acesso a informação sobre mais de 30 mil startups na área do clima na Europa e América do Norte e que tem o objetivo de apoiar investidores, policy makers e organizações a perceber melhor a complexidade das inovações no clima e com isso ajudá-los a tomar decisões mais informadas para uma ação climática de maior impacto.

Quantas mais soluções houver, mais facilmente munimos os decisores de exemplos e ferramentas práticas para testar e implementar a outra escala.

Precisamos também de promover uma diferente abordagem para quem investe e apoia este tipo de soluções: pode haver impacto mesmo em projetos com pequena dimensão, podem ser eficazes para as comunidades que servem e, mais tarde, depois de testados, podem ser replicados noutros territórios. Portanto, na fusão das políticas públicas com os instrumentos de gestão privados compomos a resiliência de que um país precisa, apostando em mais quantidade e qualidade e não tanto no tamanho e na escalabilidade.

Além do Governo, as ONGs, as grandes empresas e a sociedade civil organizada, também possuem um papel fundamental para propor, monitorizar e cobrar tomadas de decisões assertivas e eficientes sob o ponto de vista da resiliência climática. Para promovermos políticas públicas que promovam a resiliência precisamos também do envolvimento dos privados e da sociedade civil, alinhados e focados nas transformações e na eficiência.

Vamos continuar a contribuir para este caminho através da promoção de projetos inovadores, que criem disrupção no que está mal e apoiando todas estas entidades. Só em conjunto, poderemos dotar a sociedade de competências para gerir as mudanças climáticas e se tornarem mais resilientes. Estamos certos que o caminho passa pela criação de respostas inovadoras, pela construção de pontes, que nos envolvam a todos:  criadores, inovadores, cidadãos e organizações públicas e privadas.