Opinião: Compras Sustentáveis na “nova normalidade” em três passos

Por, Carlos Tur, country ,manager da JAGGAER para Portugal e Espanha

Como devem os responsáveis ​​pelos departamentos de compras agir em situações como a que estamos a viver e como é que estes se devem preparar para o futuro? A prioridade é garantir a saúde e segurança dos colaboradores. Mas, a longo prazo, é importante ter um plano de sustentabilidade abrangente, que inclua uma redução significativa dos riscos na cadeia de abastecimento, sendo essencial para proteger os trabalhadores e continuar a atividade.

De acordo com o último relatório da EcoVadis “Business Sustainability Risk and Performance Index 2020”, nos últimos anos um dos temas mais críticos para as empresas a nível global é a sustentabilidade: investidores, consumidores, equipas executivas e outras partes interessadas da organização perceberam que a responsabilidade corporativa não apenas constrói um mundo melhor, mas também gera valor financeiro. Com isso, as empresas globais passam a comprometerem-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tais como a redução das emissões de gases de efeito estufa, a eliminação da escravidão, a eliminação do plástico, a conservação da água utilizada na produção, a incorporação de fontes de energia renováveis ​​e muito mais.

As empresas devem olhar para além das operações internas e medir o desempenho da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) em todas as relações de negócios, especialmente com fornecedores e parceiros. Como fazê-lo em três passos:

Passo 1: desenvolver e investir num programa de sustentabilidade

O departamento de compras supervisiona o relacionamento com os fornecedores e, portanto, está na melhor posição para estabelecer requisitos de transparência e sustentabilidade na atividade da cadeia de abastecimento. Os volumes de compras podem representar até 60% da receita de uma organização, dependendo do setor, e deixando claro que as compras desempenham um papel central no esforço de sustentabilidade da empresa.

Gerir um programa de sustentabilidade requer um investimento inicial significativo, mas com as ferramentas e estratégias certas pode produzir um retorno exponencialmente positivo. As iniciativas de compras sustentáveis ​​reduzem o risco e a magnitude dos custos de não conformidade e reduzem os gastos em áreas operacionais como a logística, a energia, a água e a produção. Essas ações também ajudam as empresas a evitar a má conduta do fornecedor, proteger a reputação da marca e ajudar as empresas a reconhecer e evitar interrupções a tempo.

Passo 2: medir a sustentabilidade dos fornecedores

Esta etapa é escolher quais ferramentas e métodos usar para recolher e compreender o desempenho de sustentabilidade do fornecedor. Indicadores quantitativos fáceis como as avaliações de sustentabilidade, que são integrados numa solução de compras, irão acelerar os programas de compra sustentáveis ​​para que possam impulsionar um impacto real.

Passo 3: reduzir riscos

Temos, muitas vezes, insistido na gestão de riscos na cadeia de abastecimento para garantir a capacidade dos fornecedores. Isso passa necessariamente pela realização de avaliações detalhadas de risco dos fornecedores. De acordo com o inquérito internacional Global Capital Confidence Barometer, realizado pela EY em fevereiro e março, a paralisação – ou fecho – da atividade fez com que mais de metade dos entrevistados adotassem medidas para mudar sua cadeia de fornecimentos.

Numa crise, os preços e a gestão de múltiplos fornecedores andam de mãos dadas. Portanto, é fundamental renegociar preços rapidamente. Ter um único fornecedor para os bens estratégicos é extremamente perigoso, por isso deve ser negociado para garantir melhores condições e, ao mesmo tempo, identificar e qualificar novos fornecedores. Para cumprir esta missão com sucesso, é também esencial, recorrer a uma solução de compras.

Evitar riscos também implica identificar fornecedores estratégicos que possam ter problemas nesta situação. Se algum dos fornecedores estiver com dificuldades, temos que estar preparados para apoiá-lo financeiramente e assim garantir a continuidade do nosso próprio negócio.

No médio prazo, é importante rever os contratos para minimizar o risco. Por exemplo, releia as cláusulas de “força maior”, os tempos de recuperação, etc. e renegociar, se necessário. Aqui, a inteligência artificial pode se tornar uma ferramenta de ajuda muito útil.

A longo prazo, devemos ter uma gestão abrangente de fornecedores para estarmos preparados para o próximo desafio. Isto envolve a recolha e o estudo de dados dos fornecedores, tanto internos como externos. Compreender como eles se conectam, se integram e se implementam ajuda a ter uma visão mais clara sobre eles.

Vimos que a preparação inclui também a comunicação das melhores práticas dentro da empresa, identificando onde serão necessários mais recursos para lidar com situações semelhantes. Para isso teremos que desenvolver planos de contingência que permitam a continuidade, ou seja, integrar fontes de dados internas e externas para obter maior visibilidade da cadeia de abastecimento. Em suma, ser proativo e sistemático no futuro ajudar-nos-á a obter uma imagem detalhada dos riscos mais prováveis ​​e o seu impacto. As empresas precisam de estar coordenadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), não só porque precisam de realizar um processo de compra responsável mas porque também é necessário para o nosso planeta.