Opinião: Construir o Futuro sem deixar ninguém para trás | O contributo das Empresas para o ODS 9
Por Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! /Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! / Em fúria fora e dentro de mim, /Por todos os meus nervos dissecados fora, /Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! /Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos”
Em Ode Triunfal, Álvaro de Campo, heterónimo de Fernando Pessoa, celebra de forma intensa, quase caótica, o avanço industrial. Mas este impulso fascinado pela máquina e pela força transformadora da indústria, convive, de perto, com um sentimento de angústia decorrente da velocidade e da desumanização do processo.
Construir sem alma, inovar sem ética, desenvolver sem humanidade, não pode. Nem para Álvaro de Campo. Nem para ninguém. Neste sentido, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 9 – Inovação, Indústria e Infraestruturas, o qual impõe propósito, equidade e responsabilidade. Para que o progresso seja para todos. Sem deixar ninguém para trás.
Inovar é mais do que criar. É melhorar vidas.
Para que ninguém fique para trás, o ODS 9 tem como objetivos principais, construir infraestruturas resilientes, isto é, sistemas de transporte, energia, comunicação e saneamento que resistam a crises e desastres; promover a industrialização inclusiva e sustentável – gerando crescimento económico que beneficie diferentes grupos sociais e o meio ambiente; fomentar a inovação – promovendo pesquisa, desenvolvimento tecnológico e adoção de soluções mais eficientes e limpas.
As metas 2030 encontram-se definidas e, transversalmente, pretendem desenvolver infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e resiliente, aumentar a participação da indústria no PIB e o emprego industrial, ampliar o acesso de pequenas indústrias e empresas a crédito e integração em cadeias de valor, modernizar indústrias para torná-las mais limpas e ambientalmente corretas, investir em pesquisa científica e inovação tecnológica, facilitar o desenvolvimento de infraestrutura sustentável nos países menos desenvolvidos.
Destas, decorrem benefícios individuais e globais que justificam a adesão e atuação em conformidade de todos com o ODS9. Sim, porque estes não são apenas temas governamentais. São, também, temas-pilar do setor empresarial. Porquê? Porque são as empresas que desenvolvem novos produtos, testam novos materiais, investem em eficiência, criam redes de valor e, acima de tudo, através do seu capital humano, transformam ideias em soluções. E materializam.
Dos benefícios, ao nível económico, destacamos aumento de produtividade, criação de empregos qualificados em setores industriais e de pesquisa, fortalecimento de cadeias produtivas locais e integração em mercados globais, melhor acesso a infraestrutura básica (transporte, energia, comunicação) para as comunidade e inclusão de pequenas e médias empresas na economia industrial. A nível social, salientamos a redução das desigualdades regionais. Ao nível ambiental, a redução da poluição por meio de tecnologias mais limpas e processos sustentáveis, maior eficiência no uso de recursos naturais (energia, água, matérias primas) e, com infraestrutura adaptada e segura, a maior resiliência a desastres climáticos.
Portugal na rota dos 3 i´s – Inovação, Indústria e Infraestruturas
Portugal tem mobilizado esforços no sentido da digitalização e da qualificação das suas infraestruturas. Porém, enfrenta grandes desafios, que de forma, mais ou menos premente, atrasam este caminho, tais como zonas interiores com baixa conectividade, cadeias industriais pouco modernas, desigualdades no acesso à inovação e frágil investimento em I&D.
Para crescer com coesão territorial, social e ambiental, urge uma aposta integrada no ODS 9. Também das empresas, que ao reconhecer o seu papel transformador, contribuem para um progresso tecnológico e justo.
Temos que fazer mais. As empresas têm de fazer mais E esse mais está, por exemplo, na digitalização dos serviços, para tornar o acesso mais democrático. Está na modernização de fábricas com tecnologias verdes. Está no apoio a start-ups que criam soluções para zonas rurais. Está na reabilitação de zonas industriais com foco em comunidades locais. Está na cooperação com universidades e centros de investigação. Está no olhar atento e na garantia de que toda a nossa cadeia de valor também implementa boas práticas. Porque para além de nos constituirmos enquanto exemplo catalisador de boas práticas, somos responsáveis por quem está ao nosso lado. E a reputação de uma empresa, também, depende disto.
Da melhor empresa do mundo à melhor empresa para o mundo
Construir inovação com impacto positivo é passarmos de uma lógica em que queremos ser a “melhor empresa do mundo” para passarmos a querer ser “a melhor empresa para o mundo.” É compreender que cada produto desenvolvido, cada processo melhorado, cada estrutura edificada tem consequências económicas, sociais e ambientais. Porque tudo gera impacto. E todos beneficiamos ou sofremos com elas.
Empresas que lideram com o ODS 9 estão a fazer mais do que crescer. Estão a edificar o futuro. Um futuro que começa hoje.