Por Tiago Santos, CEO Enlitia
Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser uma preocupação exclusiva dos ambientalistas para se tornar um imperativo global. A transição energética, impulsionada pelo crescimento das fontes renováveis, representa uma oportunidade única para conciliar desenvolvimento económico e preservação ambiental. No entanto, esta transformação enfrenta desafios significativos, nomeadamente a necessidade de garantir que a eletricidade gerada por fontes variáveis como o sol e o vento possa ser utilizada de forma eficiente e previsível.
É aqui que a tecnologia desempenha um papel fundamental. Essa tecnologia, normalmente é alavancada por startups, que com a sua agilidade, capacidade de disrupção, e criatividade desenvolvem soluções que possibilitam que a produção renovável se torne mais eficiente e que a sua integração na rede elétrica seja mais flexível, trazendo-nos até um patamar de excelência onde 71% da eletricidade consumida é proveniente de fontes renováveis.
Inteligência Artificial e Previsão Energética
O avanço das energias renováveis trouxe consigo uma necessidade crítica: otimizar a sua gestão para minimizar desperdícios e melhorar a previsibilidade da produção. Startups como a nossa estão na vanguarda desta revolução tecnológica, aplicando inteligência artificial (IA) e toda a ciência de dados para ajudar produtores de energia a antecipar oscilações na geração e a ajustar a sua operação de forma inteligente.
Com modelos preditivos e análise em tempo real, estas soluções permitem que ativos renováveis operem com maior eficiência, reduzindo perdas e garantindo um fornecimento de eletricidade mais estável. Este tipo de tecnologia não só melhora a rentabilidade dos produtores, como também contribui para um sistema elétrico mais sustentável e resiliente.
No entanto, otimizar a produção renovável não resolve por si só o desafio da transição energética. Sem mecanismos que garantam a flexibilidade do sistema – permitindo armazenar energia quando há excesso de produção e utilizá-la quando a procura aumenta – a intermitência do vento e do sol continuará a ser um entrave à descarbonização.
Baterias, Redes Inteligentes e Gestão de Consumo
A expansão acelerada das energias renováveis tem sido comparada a uma estrada que se constrói rapidamente, mas sem saídas suficientes para gerir o fluxo de trânsito. A questão já não é apenas como produzir mais eletricidade limpa, mas sim como garantir que esta seja integrada no sistema elétrico de forma eficiente e sustentável.
O armazenamento de energia, particularmente através de baterias, desempenha um papel crucial nesta transformação. As baterias permitem captar o excesso de eletricidade gerado em períodos de alta produção renovável e disponibilizá-lo quando a procura aumenta ou quando as condições meteorológicas não favorecem a produção de energia. Com avanços tecnológicos e a redução dos custos de produção, as baterias estão a tornar-se um componente essencial da flexibilidade do sistema elétrico, ajudando a mitigar a intermitência e a estabilizar os preços da eletricidade.
A crescente necessidade de flexibilidade está a impulsionar o desenvolvimento de soluções inovadoras, muitas das quais lideradas por startups. Desde plataformas de IA que otimizam a gestão da produção e do consumo até novos modelos de armazenamento baseados em baterias e hidrogénio, estas empresas estão a criar o ecossistema necessário para que a energia renovável se torne verdadeiramente competitiva e dominante.
Apesar de toda esta dinâmica, a inovação tecnológica aplicada à energia renovável não depende apenas das startups. A colaboração entre estas empresas, grandes grupos do setor e entidades reguladoras é essencial para criar um ambiente propício à adoção de novas soluções. Programas de incentivo, parcerias estratégicas e um enquadramento regulatório adequado são fundamentais para acelerar a digitalização do setor e a implementação de tecnologias como a inteligência artificial, as baterias e os mercados de flexibilidade.
A sustentabilidade já não é apenas uma responsabilidade moral – é um fator competitivo e um motor de inovação – e contrariamente ao habitual, Portugal lidera. As startups estão a demonstrar que é possível aliar tecnologia e sustentabilidade para criar um sistema energético mais eficiente, resiliente e preparado para os desafios do futuro. A transição energética não é apenas uma questão de aumentar a capacidade renovável, mas de criar um sistema inteligente e flexível que maximize o potencial dessas fontes.