Por: Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
“Tem certos dias, em que eu penso em minha gente / E sinto assim todo o meu peito se apertar…” – — “Gente Humilde”, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Garoto
Fome. Habitação precária. Acesso limitado à saúde, à educação e ao trabalho digno. Sim, a pobreza ainda é uma realidade em Portugal. E apesar de nos encontramos no século XXI e vivermos num país europeu, dito evoluído e com uma rede de apoio social estruturada, milhares de pessoas continuam a enfrentar, diariamente, dificuldade em suprir necessidades básicas.
De acordo com o INE (Instituto Nacional de Estatística), em 2023, mais de 16% da população vivia em risco de pobreza, mesmo após transferências de apoios sociais do Estado. A pobreza manifesta-se não apenas na escassez de recursos materiais, mas, também, na ausência de oportunidades e de perspetivas de futuro, bem como na exclusão social. Desta forma, a pobreza não é um problema de uma só pessoa. Ela contamina famílias, comunidades e territórios.
Combater a pobreza é, por isso, uma responsabilidade partilhada. Não somente do Estado. Não somente das ONGs. Mas, também, das empresas. E, em rigor, o setor empresarial pode assumir um papel muito mais importante do que muitos imaginam.
Como?
Primeiro passo: emprego digno
“São casas simples / Com cadeiras na calçada / E na fachada / Escrito em cima que é um lar”
A principal forma de sair da pobreza é ter acesso a um emprego digno. Não basta empregar — é preciso garantir condições de trabalho justas, contratos estáveis, salários adequados, oportunidades de progressão na carreira, formação e requalificação profissional, disponibilizando às pessoas ferramentas reais para crescerem. A acrescer, em zonas desfavorecidas, as empresas poderão, ainda, investir em projetos comunitários, criando oportunidades de emprego local, apoiando escolas, promovendo a capacitação profissional e a inclusão digital, das quais decorrem, consequentemente, melhores condições e qualidade de vida.
Segundo passo: parcerias
“Pela varanda / Flores tristes e baldias / Como a alegria / Que não tem onde encostar”
Portugal tem uma vasta rede de instituições sociais (IPSS, ONGs,), que conhecem bem o terreno. Ao criar parcerias com estas organizações, as empresas, através da responsabilidade social, nas suas múltiplas formas – donativos, voluntariado empresarial, prestação de serviços pro bono, apoio a projetos comunitários ou programas conjuntos de inclusão social – podem escalar muito o seu impacto. E transformar, verdadeiramente, as vivências, também emocionais, das comunidades.
Terceiro passo: modelos com impacto social
“E aí me dá uma tristeza / No meu peito / Feito um despeito /De eu não ter como lutar”
A inovação pode constituir-se enquanto instrumento de combate à pobreza. Alguns negócios em Portugal já estão a apostar em modelos com impacto social, nomeadamente, oferecendo produtos de necessidade básica a famílias com baixos rendimentos, criando soluções para habitação digna ou, ainda, integrando pequenos produtores locais nas cadeias de abastecimento.
O ODS1 é claro no seu desafio. O combate à pobreza em Portugal não é apenas responsabilidade do Estado ou das organizações sociais. Pelo contrário, é uma oportunidade para as empresas reforçarem o seu papel como motores de progresso social e económico. A questão agora é: que papel é que a sua empresa quer ter nesta história?