#Opinião: Estado Ecológico dos Rios de Alenquer continua abaixo do exigido

O estado ecológico das massas de água superficiais devia ter atingido a classificação de Bom em 2015, mas, segundo o Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Tejo e Ribeiras do Oeste, cujo 3.º ciclo de avaliação está em consulta pública, 56 por cento das massas de água superficiais da região continuam com classificação Inferior a Bom e, a tendência é para piorar.

Neste 3.º ciclo observa-se um decréscimo da qualidade destas águas, relativamente à avaliação efetuada no 2.º ciclo, quando 53 por cento dos locais foram avaliados com Bom, ou superior a Bom, enquanto no 3.º ciclo apenas 43,7 por cento das águas superficiais atingiram esta classificação.

Francisco Henriques

Os fatores mais penalizadores da qualidade das massas de água superficiais são a poluição orgânica associada à pecuária e pontualmente associada a descarga de efluentes urbanos, e, a poluição química associada a práticas agrícolas, responsável pela libertação de nutrientes como os fosfatos, azoto amoniacal, nitrito e fitofármacos. São identificadas também pressões associadas a alterações hidromorfológicas e pressões biológicas.

O estado global, que pondera o estado ecológica e o estado químico, é avaliado em 59,7 por cento das águas superficiais desta região hidrográfica com uma classificação Inferior a Bom.

Quanto aos rios que atravessam o município de Alenquer, nomeadamente os rios de Ota, Alenquer, e Rio Grande da Pipa, apesar de mostrarem grande riqueza piscícola, em quantidade e diversidade de espécies, são também avaliados com estado ecológico Inferior a Bom e estado global Inferior a Bom. O estado químico dos rios de Ota e Alenquer foi avaliado com Bom e o Rio Grande da Pipa não foi avaliado.

Apesar da aparente limpidez das suas águas, a conclusão necessária é que estes rios continuam afetados por poluição e não atingiram ainda a classificação que já devia ter sido atingida em 2015.

Nas avaliações de 1.º e de 2.º ciclo o Estado Ecológico os rios Ota/Alenquer foi avaliado com Medíocre e o estado químico era “desconhecido”, enquanto o estado ecológico do Rio Grande da Pipa foi avaliado com Razoável no 1.º ciclo e Medíocre no 2.º ciclo, e, o estado químico com Bom no 1.º ciclo e “desconhecido” no 2.º.

Não é só na Ribeira do Sarra que existem problemas ambientais. Embora em menor grau, as outras linhas de água existentes no município também apresentam uma qualidade da água inferior à que devia ter sido atingido há 7 anos.

Não é explicito se as galerias ripícolas que deviam povoar as margens dos rios, são consideradas na avaliação do seu estado ecológico ou se é apenas considerada a qualidade das águas. A vegetação natural das margens dos cursos de água são os freixos, salgueiros, amieiros e choupos, mas, lamentavelmente, em boa parte do território esta vegetação foi dizimada ao longo do tempo e deu lugar a canas, que constituem uma infestante exótica que se disseminou por todo o lado. Se as florestas nativas de carvalhos foram praticamente extintas, o estado das galerias ripícolas não é melhor, ao ponto de apenas existirem vestígios da sua existência a espaços, entre extensos canaviais cerrados. A gradual reabilitação das galerias ripícolas devia constituir também um objetivo deste Plano.

A poluição transportada pelos rios, sobretudo a que resulta da fertilização dos campos agrícolas, tem um impacte significativo sobre os oceanos. Quando as fertilizações são abundantes, como acontece em agricultura intensiva, parte dos nutrientes não chega a ser absorvida pelas plantas cultivadas e é arrastada pela chuva até aos rios, que os lançam nos mares, provocando o crescimento de algas. Quando as algas completam o ciclo de vida e pousam no fundo marinho, são decompostas por bactérias, que consomem o oxigénio da água envolvente, provocando zonas mortas nos oceanos, de onde desaparece toda a vida marinha. As zonas mortas nos oceanos tiveram nas últimas décadas um crescimento dramático.

O PGRH do Tejo e Ribeiras do Oeste avalia também 20 massas de água subterrâneas, sendo de salientar que, tal como acontece com as massas de água superficiais, a sua qualidade tende a piorar. Enquanto no 2.º ciclo 90 por cento destas massas de água foram avaliadas com Bom, no 3.º ciclo apenas 60% das massas obtêm esta classificação. O PGRH não tem informação explícita sobre o aquífero Ota/Alenquer, mas conforme pode ser verificado na imagem em anexo, a extensa mancha a vermelho que corresponde à avaliação Inferior a Bom estende-se até à margem direita do Tejo, onde este aquífero está localizado, sendo lícito concluir que esta possa ser também a sua classificação.