#Opinião: Impactar positivamente a sustentabilidade nos Hotéis

Já vimos no artigo anterior a necessidade de MEDIR as emissões de Carbono de uma forma geral, e em particular no sector hoteleiro. As alterações climáticas, as crescentes exigências dos clientes, a pressão financeira do GFANZ e a necessidade que os demais parceiros têm de responsabilizar cada organização pelas suas próprias emissões, foram os pontos abordados.

Neste artigo, identificam-se algumas das soluções que a estratégia de REDUÇÃO de emissões de CO2 deverá considerar, no caminho para o NET ZERO.

O mundo empresarial depara-se, há uns anos a esta parte, com um dilema: é possível promover o crescimento económico e em simultâneo reduzir a quantidade de recursos naturais utilizados? Ou por outras palavras: é viável no longo prazo um crescimento sustentável?

Esta hipotética e perfeita economia sustentável, seria o reflexo do êxito da implementação de um conceito muito utilizado há uns tempos para cá: o decoupling.

Não pretendo entrar na defesa acérrima de nenhuma das correntes de pensamento. Nem a que conclui ser impossível que coexistam as duas realidades, nem a que apresenta exemplos para sustentar a sua possibilidade.

Na verdade, e como em quase tudo, dificilmente encontraremos verdades dogmáticas e insofismáveis. Haverá sectores de atividade em que estamos próximo de o conseguir ou até já se verifica, e há outros sectores cuja viabilidade do decoupling está ainda muito longe de acontecer.

Também não é intenção a de rotular o sector hoteleiro com alguma das correntes vigentes. Apenas pretendo apresentar algumas das muitas medidas que os hotéis poderão adotar como oportunidade de reduzir as suas emissões e/ou tornarem-se mais sustentáveis.

No fundo, o que se pretende é sensibilizar o sector do turismo em geral e os grupos hoteleiros menos sintonizados com a temática da Pegada de Carbono, para metas de consolidação e redução de emissões de CO2, encontrando caminhos para o seu crescimento económico que reduzam o consumo dos recursos naturais disponíveis.

As principais marcas da indústria hoteleira já estabelecem metas sustentáveis para a sua atividade nos casos em que são, em simultâneo, proprietários e administradores dos hotéis (cerca de 10% do “stock mundial de hotéis”). Mas não exercem as mesmas exigências no caso de investidores-construtores serem autónomos.

Ora aqui começam as dificuldades. A separação entre investidores, construtores e operadores. Se não há interligação e envolvência de todos os intervenientes numa visão holística das emissões, não se poderá lograr os objetivos de emissões assumidas por todos.

Dos investidores aos arquitetos, dos construtores aos operadores, todos deverão responder a um objetivo comum de redução da Pegada de Carbono. Para tal, é absolutamente necessário reunir estes stakeholders, e definir KPI’s tangíveis e complementares, com o intuito de atribuir um cariz sequencial ao trabalho de cada um. Trata-se de uma questão de coordenação e planeamento, fulcral para a melhoria do resultado final, ou seja: edifícios perto da neutralidade carbónica.

Deve ser levada em conta a crescente pressão que os clientes fazem em busca de ofertas sustentáveis. Com efeito, cerca de 50% dos clientes dizem estar mais preocupados com o meio ambiente depois da pandemia, mais de 80% levaram em consideração a sustentabilidade das ofertas ao fazer as escolhas de destinos de férias.

Para além disso, a sustentabilidade no sector hoteleiro é muito importante por forma a criarem-se laços com a população local, ao mesmo tempo que se protege o ambiente natural envolvente e a biodiversidade. Por outro lado, o impacto positivo das práticas sustentáveis que o cliente recebe pela sua experiência, aumentam a probabilidade de retorno.

Vejamos, então, alguns exemplos de como o sector hoteleiro pode melhorar a sua performance sustentável, e/ou reduzir as suas emissões de CO2:

1.   Otimização dos processos de arquitetura e construção / renovação

  • Reduzir a necessidade de aquecimento e arrefecimento do ar (evitando enormes emissões de carbono), escolhendo materiais que potenciem o equilíbrio da temperatura interna do edifício.
  • A reciclagem e a reutilização de móveis, limitam os custos de substituição e reduzem a pegada de carbono. Menos mercadorias compradas reduzirá o transporte das mesmas para o hotel e menos emissões de CO2.

2.   Reduzir resíduos na Operação

O sector hoteleiro produz uma quantidade enorme de resíduos, razão pela qual se torna fundamental olhar para a gestão de resíduos quando pensamos em implementar medidas de sustentabilidade. Eis alguns bons exemplos a seguir:

  • Soluções de reciclagem nas áreas comuns;
  • Materiais reutilizáveis em alguns serviços de alimentação;
  • Disponibilização de jornais nas áreas comuns Vs. nos quartos;
  • Introdução de estações de água filtrada e garrafas de água reutilizáveis em substituição das garrafas de plástico;
  • Substituição dos pequenos frascos de shampoo / gel de duche por   Vs. formatos grandes que permitam o recarregamento;
  • Substituir as palhinhas de plástico por solução biodegradável;
  • Utilização de uma solução também biodegradável, feita de amido, para os forros de lixo;
  • Reciclar os plásticos, papel e têxteis sempre que possível. Verificar com as autoridades locais os sistemas disponíveis, e apresentar quer aos colaboradores quer aos hóspedes as alternativas ao seu alcance.

3.   Seleção criteriosa de produtos de limpeza

  • Escolher produtos de limpeza formulados em maior consonância com os princípios de conservação do meio ambiente, e embalados com produtos recicláveis ou compostáveis, ajuda a reduzir as emissões de um hotel.  formuladas sob medida em embalagens recicláveis ​​ou compostáveis.
  • Os hotéis deverão optar (alguns já o fazem) por abandonar o uso dos produtos de limpeza abrasivos ou derivados de petroquímicos e substituí-los por produtos de limpeza orgânicos ou naturais que são menos prejudiciais para o meio ambiente, menos agressivos para os funcionários da limpeza e para os clientes. Por outro lado, ao contrário da corrente de pensamento mais tradicional, os produtos de limpeza não precisam ter produtos químicos poderosos para serem eficazes.
  • Os químicos tóxicos provenientes dos desinfetantes, detergentes e ambientadores, têm, frequentemente, como destino final os oceanos, o que levanta questões relevantes no equilíbrio ecológico.

4.   Promoção de meios de transporte sustentável

  • Incentivar os hóspedes a usar meios de transporte sustentáveis ​​para chegar ao hotel, dando descontos por utilização dos mesmos ou tendo carregadores elétricos para carros à disposição dos hóspedes sem custos adicionais.

5.   Proveniência e Desperdício no F&B (Food & Beverage)

Quando pensamos em F&B, devemos focar-nos em:

  • Proveniência – os restaurantes dos hotéis deverão tomar iniciativas sustentáveis optando por promover o uso de alimentos locais e orgânicos nas suas escolhas para o menu;
  • Desperdício – quase metade da toda a comida servida nos hotéis é deitada ao lixo. Em média, os alimentos representam 28% do total de resíduos num hotel, sendo que os buffets de pequeno-almoço representam 45% de desperdício de alimentos. Medidas como substituir os buffets por menu, e/ou encontrar soluções para as sobras não acabarem no lixo, são mudanças necessárias para alcançar equilíbrios sociais e ambientais.

6.   Paperless

  • As operações hoteleiras tradicionais usam muito papel. Ainda que este papel seja reciclado (e geralmente não é), trata-se de um desperdício desnecessário na era digital. A primeira coisa que um hotel pode fazer é implementar processos sem papel.
  • Reservas e check-in online, envio de documentos pessoais, relatórios e faturas por e-mail… são apenas alguns exemplos da desmaterialização processual que se pode implementar.
  • Utilizar a cloud para guardar informação estática como planos de emergência, estratégias de evacuação, segurança em edifícios, prevenção de acidentes, ajuda a não acumular impressões desnecessárias.
  • Aproveitar as App’s existentes para gestão de horários, distribuição de trabalho por elementos do serviço de quartos, são também exemplos que permitem menor utilização de papel e por conseguinte menor produção de resíduos e consequentes emissões de carbono.

7.   Aproximação ao conceito de Ecoturismo

  • Com crescimentos anuais 2 a 3 vezes superiores ao do turismo convencional, o Ecoturismo tem-se vindo a afirmar no panorama mundial.
  • Conservar os recursos naturais e culturais, gerar benefícios para as comunidades locais e assegurar a Educação Ambiental são os 3 principais eixos deste tipo de turismo.
  • Outras características são:
    • pequena escala
    • infraestruturas menos sofisticadas
    • consciência ecológica
    • respeito pelo meio ambiente
    • desenvolvimento sustentável
    • boa experiência quer para visitantes quer para locais
  • Dizem os praticantes do Ecoturismo que os seus 3 princípios são:
    • “Da natureza nada se tira a não ser fotos”
    • “Nada se deixa a não ser pegadas”
    • “Nada se leva além de recordações”

8.   Conservação da água

  • O uso da água nos hotéis é responsável por cerca de 24% do total de despesas com serviços públicos. Casas de banho, lavandaria, paisagismo e cozinhas são as áreas onde a maior parte da água é usada. Reduzir o uso de água não apenas ajuda a reduzir custos, mas também é uma prática sustentável fundamental.
  • É importante assegurar que as instalações sanitárias são de alta eficiência pois permitirá usar menos 20% de água.
  • Fundamental para garantir poupança nos consumos da água, é incentivar os hóspedes a abdicar da troca diária de toalhas e roupas de cama.

9.   Eficiência energética

Algumas das práticas de eficiência energética mais comuns e que permitem pequenos ganhos rápidos são:

  • introdução de termostatos digitais nos quartos
  • uso de lâmpadas LED
  • instalação de células de movimento ou temporizadores que evitem deixar luzes acesas acidentalmente
  • instalação de painéis solares térmicos para alimentar o aquecimento da água
  • Implementação de soluções de energia de fontes renováveis ​​como eólica e solar, são inequivocamente os passos a dar dentro de uma estratégia de redução da pegada de carbono. Sobretudo se pensarmos que são alcançados dois efeitos positivos em simultâneo: diminuição de emissão de CO2 e redução substancial dos custos de energia.

Os hotéis têm duas soluções à sua disposição:

  • aquisição de UPAC’s (Unidades de Produção para Auto-Consumo) com capitais próprios, que permite uma redução mais evidente nos custos energéticos,
  • usufruto da solução solar partilhando a rentabilidade com um investidor. Que traz menos impacto na redução de custos energéticos, mas que não implica investimento inicial (Power Purchase Agreement)
  • Uma das mais significativas poupanças que podemos ter em termos de custos energéticos, passa por uma das ações mais simples à disposição dos hotéis: substituir a lavagem de toalhas e roupa de cama com água quente por água fria. Trata-se de uma poupança energética que poderá chegar aos 90%, e que a maioria dos hotéis ainda não aplicou na sua operação. As grandes marcas mundiais de detergentes já desenvolveram fórmulas que permitem garantir a mesma eficácia no tratamento das nódoas, utilizando água fria. Por outro lado, permite um menor desgaste dos tecidos e por consequência uma maior durabilidade dos mesmos.
  • Os hotéis podem economizar até 40% nas contas de energia apenas com uma consulta ao mercado de fornecimento de energia, e negociar a melhor oferta.
  • As soluções informáticas baseadas na nuvem consomem menos energia do que as soluções baseadas em servidores locais. Deslocalizar o e-mail, programas de CRM e softwares de produtividade e controlo de gestão ou mesmo o MS Office pode (segundo um estudo em Berkeley) reduzir este tipo de emissões até 87%.

10. Mudanças de mentalidade

  • As escolas de gestão hoteleira em todo o mundo também têm um papel fundamental a desempenhar. Com efeito, os jovens de hoje têm uma consciência coletiva com o meio-ambiente muito superior à existente no passado. São conscientes que as mudanças climáticas são uma ameaça real, que lhes trará a necessidade de lidar com desastres ecológicos muito importantes.
  • A próxima geração de estudantes de hotelaria está especialmente motivada para fazer evoluir o negócio de forma diferente. É por isso que a educação desempenha um papel tão importante no caminho a seguir. “Não basta apenas ensinar sustentabilidade como tema ou assunto, se queremos formar líderes de sustentabilidade. A liderança em sustentabilidade deve ser um atributo. Por outras palavras, os alunos devem ser capazes de demonstrar evidências de compreensão do que faz uma corporação sustentável e aplicar a sustentabilidade como um princípio que impulsiona a tomada de decisões operacionais e estratégicas.” (defende Emma Wong – diretora de um programa de pós-graduação em Gestão Hoteleira)

Conclusão

A sustentabilidade deve ser tratada com uma abordagem holística em todos os setores – da limpeza às operações e ao restaurante do hotel. Os hóspedes também devem ser incentivados a envolver-se no processo para que possam ter um papel ativo e serem incentivados a fazer escolhas sustentáveis ​​dentro do hotel e no ambiente local, escolhendo operadores turísticos locais e investindo em bens produzidos localmente.

Existem muitas práticas de sustentabilidade que podem ser implementadas e que ajudam a contribuir para a redução das emissões de carbono do setor hoteleiro. Compreender e adotar essas iniciativas não apenas ajudará os hotéis a economizar dinheiro por serem mais eficientes em termos de energia e gerar menos resíduos, mas também ajudarão a diferenciar o seu hotel da concorrência. À medida que avançamos para consumidores mais conscientes, os hotéis devem ser capazes de se adaptar a este tipo de consumidor, oferecendo-lhes a possibilidade de viajar de forma mais sustentável.

[blockquote style=”3″]A Footprint Consulting é uma consultora portuguesa que surge com a missão de medir, reduzir e compensar a pegada de carbono das empresas e particulares. Com base nesta missão, Tiago Machado passa a integrar a nossa lista de cronistas com o objetivo de testemunhar aquela que tem sido a experiência relativa Às exigências e requisitos que têm sido colocadas às instituições e empresas no âmbito da medição das emissões de GEE. [/blockquote]

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