Por Eliano Marques, CEO e fundador da DataMentors
A realização da Portugal Smart Cities traz à tona discussões fundamentais sobre o futuro das nossas cidades. Num contexto em que a urbanização acelerada coloca pressão sobre recursos naturais e infraestruturas, a circularidade emerge como um paradigma essencial para garantir a sustentabilidade urbana. A Inteligência Artificial (IA), enquanto ferramenta de inovação, desempenha um papel crucial na concretização deste modelo circular nas cidades inteligentes.
A IA permite otimizar processos, reduzir desperdícios e promover a eficiência energética. Por exemplo, sistemas de gestão de resíduos inteligentes utilizam algoritmos de IA para prever padrões de produção de lixo, otimizando rotas de recolha e promovendo a reciclagem. Sensores instalados em contentores podem informar em tempo real sobre a sua capacidade, evitando recolhas desnecessárias e reduzindo as emissões associadas ao transporte.
No setor da energia, a IA possibilita a criação de redes elétricas inteligentes que equilibram automaticamente a oferta e a procura, integrando fontes de energia renovável e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Sistemas de previsão baseados em IA podem antecipar picos de consumo e ajustar a distribuição de energia de forma eficiente. Tal inovação é fundamental para atingir os objetivos de neutralidade carbónica e para fomentar a circularidade energética.
A mobilidade urbana também beneficia significativamente da IA através de sistemas de transporte autónomos e compartilhados. Veículos autónomos equipados com IA podem reduzir o congestionamento, diminuir as emissões de gases poluentes e melhorar a segurança rodoviária ao minimizar erros humanos. Além disso, a análise de dados em tempo real permite otimizar o fluxo de trânsito, identificar áreas de alto congestionamento e promover meios de transporte mais sustentáveis, como bicicletas elétricas e transportes públicos inteligentes.
No âmbito da gestão de recursos hídricos, a IA pode ser aplicada para monitorizar o consumo de água, detectar fugas nas infraestruturas e otimizar a distribuição. Isto contribui para a conservação de um recurso vital e para a redução de custos operacionais.
Contudo, a adoção da IA nas Smart Cities não está isenta de desafios. Questões relacionadas com a privacidade dos dados são particularmente relevantes. A coleta massiva de informações pessoais pode levar a abusos se não forem implementadas salvaguardas adequadas. A cibersegurança é outro ponto crítico, pois sistemas interconectados podem ser vulneráveis a ataques que comprometam infraestruturas essenciais.
Além disso, há o risco de exclusão digital. Nem todos os cidadãos têm acesso igual às tecnologias digitais, o que pode aprofundar desigualdades sociais. É crucial que as iniciativas de IA sejam inclusivas e acessíveis, garantindo que todos os membros da sociedade beneficiem das inovações.
Apesar dos riscos, as oportunidades proporcionadas pela IA são vastas e promissoras. A capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real permite aos gestores urbanos tomar decisões mais informadas e proativas. Isto resulta em serviços públicos mais eficientes, maior qualidade de vida para os cidadãos e um ambiente urbano mais sustentável.
A IA também estimula a inovação e a criação de novos modelos de negócio. Startups e empresas tecnológicas têm a oportunidade de desenvolver soluções que respondam aos desafios urbanos, fomentando a economia local e criando empregos qualificados. Programas de formação e desenvolvimento em IA devem preparar o workforce para as necessidades futuras, promovendo a inclusão social e o desenvolvimento económico.
Em suma, a Inteligência Artificial é uma aliada indispensável na caminho a percorrer rumo a cidades mais circulares e sustentáveis, sem descolorar, a colaboração necessária entre o governo, o setor privado e a sociedade civil. É fundamental criar políticas eficazes e promover uma cultura de inovação e somente através de um esforço conjunto poderemos superar os obstáculos e maximizar os benefícios que a IA oferece.
Conferências tais como a Portugal Smart Cities são plataformas ideais para discutir e promover estas inovações, reunindo especialistas, empresas e decisores políticos. Ao abraçarmos a IA e enfrentarmos os seus desafios de forma responsável, podemos transformar as nossas cidades em espaços mais inteligentes, eficientes e resilientes, garantindo um futuro melhor para as gerações atuais e futuras.
*Este artigo foi publicado na edição 107 da Ambiente Magazine.