Por Carlos Coelho, Executive Director do Grupo Greenvolt
As cidades são “casa” para mais de metade de todos os habitantes do planeta. Todos procuram nelas uma vida melhor, mas essa pressão demográfica obriga-nos a pensar nas cidades que temos hoje e nas que queremos ter num futuro não muito longínquo. As cidades devem-se adaptar às pessoas que nelas vivem e passam, bem como à evolução das suas necessidades ao longo do tempo.
Neste sentido, acredito firmemente que as Smart Cities representam o futuro da vida urbana, e é indubitável que Portugal tem um grande potencial para desenvolver modelos inteligentes para as suas cidades que promovam inovação, sustentabilidade e qualidade de vida. E é evidente que várias cidades portuguesas se encontram em grandes condições para avançar com este tipo de transformação: as condições principais para a adesão transformação são certamente a pré-existência de uma boa infraestrutura tecnológica de base, políticas de desenvolvimento sustentável e uma vontade clara de investir em soluções inovadoras.
A transformação tecnológica já é uma realidade, mas urge serem dados passos efetivos rumo à sustentabilidade, com foco na energia. As cidades, além de consumirem 75% da energia produzida em todo o mundo, representam 80% das emissões globais de gases com efeito estufa. São números preocupantes que só se agravarão daqui para a frente. É urgente repensar a forma como se gera a energia que consumimos nas cidades, seja a que alimenta a indústria, o comércio, os serviços, as nossas casas e os meios de transporte.
A produção de energia renovável em Portugal atingiu valor mais elevado de sempre no ano passado. Enquanto País, somos já uma referência mundial na geração de energia limpa, mas há ainda muito trabalho a fazer para que as cidades, as grandes consumidoras de energia, possam caminhar rumo à autossuficiência.
O Plano Nacional de Energia e Clima 2030 é ambicioso na meta de “atingir 5,5 GW de potência fotovoltaica descentralizada”. Muitos destes GW são para autoconsumo, ou seja, para alimentar necessidades próprias, seja de empresas, seja de particulares. Nas cidades, pela densidade populacional, pelas infraestruturas já existentes, a energia tem de ser produzida por todos para ser consumida por todos. Temos de ligar as cidades à ficha das renováveis, de preferência às renováveis que se podem partilhar. O sentido de comunidade, tão comum nas cidades, tem de traduzir-se no desenvolvimento de solução de geração de energia de forma descentralizada para um consumo coletivo.
A energia solar fotovoltaica tem crescido de forma expressiva nos anos recentes, mas o potencial deste sistema de geração de energia a partir da irradiação solar é gigantesco. Há centenas, ou mesmo milhares, de quilómetros quadrados de área inutilizada no topo dos edifícios. Há espaço disponível no topo de muitos edifícios públicos e privados, tanto de empresas como prédios de habitação. É espaço que poderia gerar energia, poderia gerar energia mais barata e mais limpa.
Há potencial para que o solar fotovoltaico descentralizado possa alimentar praticamente todas as necessidades das cidades do futuro, principalmente se se adicionar a estes sistemas as baterias que permitem fazer uma gestão eficiente da energia. E esta nova energia terá, sem dúvida, impacto na forma como nos movimentamos, potenciando a mobilidade sustentável, assente na energia elétrica.
Todas estas mudanças em curso, juntamente com as que, acredito, teremos de implementar urgentemente, vão permitir-nos ter cidades mais limpas, mais preparadas para oferecer a quem nelas vive a qualidade de vida que todos almejamos. Estamos no caminho certo, só falta que todos tenhamos vontade de dar os passos que faltam para podermos ter cidades verdadeiramente Smart.