#Opinião: O caminho para a COP 28 no Dubai – Acelerar a ação climática e as práticas empresariais sustentáveis

Por: João Maria Botelho

O Relatório AR6 do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (IPCC) fez soar o alarme sobre a necessidade urgente de uma ação climática global.

Com o relatório a alertar para o facto de ser mais provável que o limiar de 1,5°C seja ultrapassado antes de 2040, a próxima COP 28 no Dubai, de 30 de Novembro a 12 de Dezembro de 2023, assume uma importância ainda maior. Este artigo explora o caminho para a COP 28, centrando-se na atenção acrescida prestada à acção climática, na importância de não ultrapassar 1,5°C, no papel das economias desenvolvidas e emergentes e na necessidade de financiamento adequado para enfrentar a crise climática.

I. Maior atenção à acção climática e à sustentabilidade:

No período que antecede a COP 28, as empresas e os governos enfrentarão um maior escrutínio e expectativas no sentido de intensificarem os seus esforços de ação climática. O Relatório de Síntese do IPCC serve de alerta, instando as partes interessadas a aumentar o ritmo e a escala das suas ações. Esta atenção acrescida manifestar-se-á através de apelos a uma maior transparência, exigências de compromissos mais fortes e acções para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e promover práticas empresariais sustentáveis.

II. A importância de não ultrapassar os 1,5°C:

O relatório do IPCC afirma inequivocamente que ultrapassar o limiar de 1,5°C, mesmo que por um curto período de tempo, teria consequências graves para os ecossistemas com baixa resiliência, como os ecossistemas polares, montanhosos e costeiros. Os danos irreversíveis, o aumento dos incêndios florestais, a mortalidade maciça de árvores e o degelo do permafrost são alguns dos impactos potenciais. As empresas devem compreender os riscos associados à ultrapassagem de 1,5°C e os efeitos em cascata que podem ter no ambiente, na sociedade e na economia. Ao alinharem as suas estratégias com o objectivo de não excederem 1,5°C, as empresas podem mitigar os riscos, reduzir os custos e minimizar as perturbações operacionais a longo prazo.

III. O papel das economias desenvolvidas e emergentes:

Embora os países desenvolvidos tenham um papel crucial a desempenhar na obtenção de emissões líquidas nulas, as economias emergentes, nomeadamente a China e a Índia, são igualmente importantes. Para aumentar as hipóteses de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou aos países desenvolvidos para que tenham como objectivo emissões líquidas nulas “o mais próximo possível” de 2040. Este calendário acelerado exige a eliminação progressiva do carvão, a obtenção de uma produção líquida nula de electricidade e a transferência de subsídios dos combustíveis fósseis para uma transição energética justa. A China e a Índia, que são, respectivamente, o maior e o terceiro maiores emissores do mundo, devem acelerar a sua transição para a produção de electricidade a partir do carvão, a fim de se alinharem com as ambições climáticas globais.

IV. A necessidade de um financiamento adequado:

Embora os fluxos financeiros para soluções no domínio das alterações climáticas tenham aumentado, o financiamento dos combustíveis fósseis continua a ser superior ao apoio à atenuação das alterações climáticas. A maior parte do financiamento da luta contra as alterações climáticas centra-se na atenuação, mas fica aquém do necessário para limitar o aquecimento a menos de 1,5°C. Além disso, o financiamento para a adaptação continua a ser significativamente inferior e provém principalmente de fontes públicas. O fosso entre o apoio financeiro necessário e o prestado continua a aumentar, prejudicando as economias dos países em desenvolvimento e a sua capacidade de adaptação aos impactes das alterações climáticas. Com a aproximação da COP 28, as empresas e os governos devem resolver o desequilíbrio no financiamento, redirecionar os investimentos para soluções sustentáveis e garantir recursos adequados para a adaptação.

À medida que nos aproximamos da COP 28 no Dubai, a urgência de enfrentar a crise climática torna-se cada vez mais evidente. As empresas desempenham um papel fundamental na aceleração da ação climática, alinhando estratégias com o objetivo de 1,5°C e impulsionando práticas sustentáveis. O caminho para a COP 28 exige maior transparência, compromissos mais fortes e ações para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Os países desenvolvidos devem assumir a liderança, tendo como objectivo emissões líquidas nulas muito antes de 2050, enquanto as economias emergentes devem acelerar a sua transição para o abandono do carvão.

Um financiamento adequado, centrado tanto na atenuação como na adaptação, é essencial para combater eficazmente as alterações climáticas. Ao abraçar estes imperativos, as empresas podem contribuir para moldar um futuro sustentável e prosperar na paisagem empresarial global em evolução.