Por Aron Lazarchick, VP of Growth & Marketing da Cleanwatts
Há mais de um século que a gestão de energia tem sido centralizada e unidirecional. As centrais elétricas geram eletricidade, as distribuidoras fornecem-na e os consumidores pagam pelo que utilizam. Este modelo mantém-se inalterado desde a era de Edison. Fazia sentido numa altura em que a prioridade era expandir a infraestrutura, mas agora, a forma como produzimos, consumimos e gerimos energia está a mudar. As energias renováveis, as redes digitais e a automação estão a libertar a energia do seu passado centralizado. A Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que, em 2025, mais de um terço da eletricidade mundial já seja proveniente de fontes renováveis.
A rede elétrica está a evoluir para um ecossistema dinâmico e descentralizado. Casas, empresas e comunidades podem gerar, armazenar e partilhar eletricidade. Esta mudança, já em curso, aliada à intrínseca redução dos custos e o avanço tecnológico, prova que o modelo energético tradicional está a tornar-se obsoleto. A questão já não é se a descentralização irá prevalecer, mas sim a rapidez com que irá transformar a economia como um todo. A edição mais recente do World Energy Outlook (WEO) prevê um sistema energético muito diferente já em 2030. Segundo este novo modelo, a energia solar fotovoltaica gerará mais eletricidade a nível global do que todo o atual sistema elétrico dos EUA. O WEO prevê que, até 2030, as energias renováveis representarão 80% da produção de eletricidade, sendo que a energia solar contribuirá com mais de metade dessa expansão.
Empresas e famílias que aderirem a este novo modelo energético terão uma vantagem competitiva clara no mercado. Os maiores beneficiários serão os negócios que utilizarem energia renovável mais barata para reduzir custos. Os pioneiros que investirem em painéis solares, baterias e sistemas inteligentes de energia não só vão poupar dinheiro como ter mais controlo sobre o seu consumo de energia. O sucesso empresarial vai depender cada vez mais da gestão eficiente da energia – desde a sua produção até ao armazenamento e utilização inteligente. As empresas que não se adaptarem arriscam-se a ficar para trás, enquanto os seus concorrentes desfrutam de faturas energéticas mais baixas e previsíveis.
À medida que a energia se torna um serviço, a ênfase mudará do consumo para a otimização. As empresas de serviços energéticos também podem beneficiar deste paradigma, naquilo que poderá ser uma mudança semelhante ao que aconteceu com a indústria das telecomunicações, que passaram da cobrança por minuto para planos ilimitados de dados. As empresas de serviços energéticos podem passar da faturação por kWh para a cobrança de tarifas fixas mensais por serviços. Isto criará um sistema mais eficiente e resiliente, alinhado com as necessidades de um mundo cada vez mais automatizado.
O WEO também prevê que, até ao final desta década, o mundo deverá ter capacidade para fabricar mais de 1.200 gigawatts (GW) de painéis solares por ano. No entanto, estima-se que apenas 500 GW sejam efetivamente instalados, devido a entraves burocráticos que podem atrasar a implementação. Outro desafio da energia solar é a produção excessiva durante o dia.
Mas este problema já está a ser resolvido com a redistribuição do excedente através das Comunidades de Energia Renovável. Além disso, o preço das baterias continua a cair – mais de 90% na última década. Assim, a questão da dependência das renováveis das condições meteorológicas já tem soluções, uma vez que o armazenamento em baterias garante um retorno positivo e previsível do investimento. Ambas as soluções reduzem a volatilidade dos preços de energia e, integradas, permitem que as baterias possam garantir um fornecimento estável a toda a Comunidade em caso de falha energética da rede.
Portugal é pioneiro na partilha descentralizada de energia. Um dos primeiros países onde casas e empresas podem gerar, comercializar e otimizar eletricidade de forma rentável. A bem-sucedida implementação de redes energéticas comunitárias no país serve de modelo para outras nações em transição energética. Este sucesso deve-se à ampla adoção da energia solar e eólica, bem como à utilização de sistemas IoT avançados e contadores inteligentes. Esta transformação converte a energia de um fluxo unidirecional para um ecossistema inteligente e interligado, que dá prioridade à eficiência e ao consumo local.
A transição para a energia descentralizada marca o fim do sistema de distribuição unidirecional que dominou durante mais de um século. À medida que as comunidades podem assumir o controlo do seu futuro energético, é possível construir algo mais valioso do que apenas energia limpa – criar economias locais resilientes, capazes de prosperar num mundo incerto. Esta transformação prova que as melhores soluções surgem quando as pessoas são capacitadas para resolver problemas a nível local. Esta revolução vai além da eletricidade limpa – está a criar uma economia mais resiliente e acessível para o futuro.