Opinião: O papel do retalho na urgência da sustentabilidade
Por Joaquim de Almeida, diretor de Recursos Humanos da FNAC Portugal
Num mundo em constante transformação, onde a informação flui a uma velocidade sem precedentes e as preocupações com o nosso planeta se intensificam, a forma como consumimos e a nossa pegada ambiental tornaram-se temas centrais. A nível global, a atividade humana, incluindo o consumo, já esgotou os recursos naturais anuais do planeta em menos de oito meses em 2023 (Dia da Sobrecarga da Terra), e a pegada ecológica da humanidade excede a biocapacidade da Terra em cerca de 75% [1].
No Grupo Fnac Darty, acreditamos que o futuro do retalho passa, inevitavelmente, por um compromisso sério e transparente com a sustentabilidade. Não se trata apenas de uma tendência, mas de uma necessidade premente e de uma responsabilidade partilhada. O eixo Sustentabilidade faz parte dos planos estratégicos 2025 e 2030 do Grupo. O Grupo assume desde 2020 o objetivo de redução de 50% das suas emissões diretas de CO₂ (scope 1 e 2) até 2030, em comparação com 2019.
O nosso recente relatório de sustentabilidade, de 2024, reflete o empenho em integrar práticas mais conscientes em todas as vertentes da nossa operação. Nesse sentido é sensato olharmos para um dos pilares que considero cruciais para a construção de um futuro mais equilibrado: a responsabilidade ambiental no setor do retalho.
A emergência climática exige de todos nós uma resposta firme e consistente. O setor do retalho, devido à sua vasta cadeia de valor, desde a produção e transporte de bens até ao consumo e descarte, é um dos maiores contribuintes para a pegada ambiental global. Estima-se que as emissões da cadeia de valor (Âmbito 3) representem, em média, mais de 80% da pegada de carbono total de um retalhista. No setor do retalho, a responsabilidade ambiental manifesta-se em diversas frentes, desde a gestão de resíduos até à otimização do consumo energético e à redução das emissões de carbono.
Em 2024, demos passos significativos na gestão de resíduos. A recolha e tratamento de 23,2 toneladas de resíduos de clientes e resíduos limpos (REEE), bem como 268,4 toneladas dos nossos próprios resíduos de papel e cartão, e 18,6 toneladas de plástico, são prova do nosso esforço em minimizar o impacto ambiental da nossa operação. Globalmente, a produção de resíduos eletrónicos (REEE) é a que mais cresce, com cerca de 53,6 milhões de toneladas geradas em 2019, e apenas 17,4% formalmente recicladas [2]. A nível europeu, as embalagens representam uma das maiores fontes de resíduos, com mais de 80 milhões de toneladas geradas anualmente [3]. Para nós foi particularmente relevante termos conseguido ultrapassar em 51% o nosso objetivo de recolha e tratamento de resíduos REEE para a Clínica FNAC, onde os equipamentos são reparados, recondicionados ou usados para reparar outros, evidenciando a importância de dar um destino adequado aos equipamentos eletrónicos em fim de vida.
O transporte de mercadorias é responsável por cerca de 25% das emissões globais de CO2 relacionadas com a energia, sendo a otimização logística crucial para a descarbonização [4]. Por outro lado, o consumo energético em edifícios comerciais, como lojas e armazéns, é significativo, com a iluminação e os sistemas de aquecimento/arrefecimento a representarem uma fatia considerável do consumo total [5]. Em Portugal nós não dispomos de transportes próprios de mercadorias, pelo que estamos dependentes da oferta dos operadores, a qual ainda não é eletrificada. Por isso e no que diz respeito às emissões de CO2, atuamos essencialmente no consumo de energia nas nossas instalações, onde em 2024 conseguimos uma redução de 2,3% numa base comparável. Já é o 3º ano consecutivo de redução efetiva do consumo de energia. Este resultado é fruto de um trabalho contínuo de implementação de medidas de eficiência energética nos nossos escritórios, armazéns e lojas.
A sustentabilidade não é um destino, mas uma jornada contínua. Os resultados que apresentamos são um reflexo do compromisso, mas também um lembrete de que há sempre mais a fazer. Acreditamos que, ao capacitar os nossos clientes com informação e opções mais sustentáveis, e ao adotar práticas ambientais responsáveis na nossa própria operação, estamos a contribuir para um futuro mais próspero e resiliente. A transição para uma economia mais verde e circular é uma necessidade urgente, com o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) a alertar para a necessidade de reduções drásticas e rápidas nas emissões de GEE para evitar os piores cenários climáticos [6]. É fundamental que as empresas, independentemente do seu setor, assumam a sua quota-parte de responsabilidade na construção de um futuro mais verde. A colaboração entre empresas, consumidores e entidades governamentais é essencial para acelerar esta transição.
Na FNAC e no Grupo Fnac Darty, continuaremos a inovar e a investir em soluções que promovam o consumo consciente e a proteção do ambiente. Porque o futuro é agora, e a sustentabilidade é a chave para o construirmos juntos.