Opinião: “O Valor da Água”

Hoje, dia 22 de março, assinala-se o Dia Mundial da Água e a Ambiente Magazine convidou o Eng. Rui Godinho, presidente da APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas), e membro do Conselho de Governadores e do Bureau do Conselho Mundial da Água (World Water Council), para partilhar quais os desafios e oportunidades de um setor que está cada vez mais condicionado e onde as alterações climáticas têm trazido mais desafios.

[blockquote style=”1″]O Valor da Água [/blockquote]

Apesar da consciência de que sem água não se sobrevive, a sociedade considera-a um bem adquirido, cuja disponibilidade é permanente. Contudo, sendo este recurso renovável, para além de essencial à vida, tem vindo a tornar-se mais escasso, ou mesmo raro, em algumas partes do Mundo. Por isso, há que informar, sensibilizar e educar para que as sociedades, a sua população e os dirigentes se mobilizem numa maior e mais cuidada reflexão, agindo para que se lhe possa conferir o seu verdadeiro valor.

Sabe-se que as secas prolongadas serão cada vez mais frequentes em Portugal, Península Ibérica e Bacia do Mediterrâneo, provocando um impacte relevante nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, implicando que as disponibilidades de água não sejam, definitivamente, um facto adquirido.

Portugal está situado na Europa do Sul e fronteira com a Bacia do Mediterrâneo, regiões que serão, de forma crescente, afetadas pelas alterações climáticas no tocante às atuais e futuras disponibilidades de água. No Sul e Centro Interior do País fazem-se já sentir situações de escassez e desertificação que, a não serem atalhadas, provocarão sérias consequências na vida, na saúde e no bem-estar das populações, bem como no ambiente em geral e nas economias locais e regionais. Estas tenderão a definhar, refletindo-se nos baixos indicadores de desenvolvimento do interior, que se verão ainda ampliados pelos efeitos conjugados da emergência climática e da pandemia de Covid19. É que sem água não há progresso.

Assim, torna-se imperioso reforçar as disponibilidades de água, através de medidas e ações que garantam a retenção e o armazenamento interanual dos recursos hídricos superficiais, a proteção das águas subterrâneas e um controlo rigoroso das captações ilícitas nos principais aquíferos que o País possui, assumindo-as como uma reserva estratégica para um futuro sustentável, principalmente das regiões deprimidas.

Neste Dia Mundial da Água de 2021, reclamam-se, portanto, políticas públicas para a gestão dos recursos hídricos e a promoção da sustentabilidade e resiliência dos serviços de abastecimento de água e saneamento de águas residuais, com a certeza de que os investimentos a realizar terão fortes repercussões económicas e sociais, e constituirão um grande contributo para o equilíbrio estrutural de Portugal.

As propostas apresentadas pela APDA no processo de discussão pública do Plano e Recuperação e Resiliência (PRR) vão neste sentido, pelo que os benefícios dos investimentos dirigidos a muitos municípios, designadamente do interior, com enormes carências daqueles serviços, teriam um efeito multiplicador nas economias locais.

Permitiria a modernização e a economia de meios, com a adoção de soluções apropriadas às regiões de dispersa e baixa densidade populacional, bem como a melhoria de eficiência que falta ainda a parte significativa do Setor da Água.

Seria também manifesta a valorização do território, em termos nacionais, com destaque para a importância dos efeitos positivos gerados pelo desenvolvimento do interior para a coesão territorial e o desenvolvimento económico, social e ambiental.

Esses efeitos benignos, de marcada importância, têm de ser mais reconhecidos e presentes no planeamento português, sendo útil recordar os benefícios económicos e os efeitos multiplicadores dos investimentos em água e saneamento, recorrendo a indicadores internacionais aplicáveis também a Portugal, construídos por entidades como o Banco Mundial, a Organização Mundial de Saúde, a UNICEF e a UN Water:

  • Por cada euro investido em serviços de água e saneamento verifica-se um “retorno económico” de 5,5 euros;
  • Os ganhos globais no PIB do país em que se verifiquem tais investimentos nunca serão inferiores a 1,5% do respetivo PIB nacional.

As razões prendem-se com os efeitos benéficos em áreas como a “redução dos custos com cuidados de saúde para os cidadãos e para a sociedade, ganhos de produtividade e níveis de qualidade no trabalho, aperfeiçoamento profissional, reforçando especialmente a participação e envolvimento das mulheres na força de trabalho”.

Contribuem, além disso, para proporcionar também melhores condições para a criação de novas indústrias e novos empregos, diversificando e melhorando o setor empresarial e a economia no seu todo.