Opinião: “Resíduos Alimentares – Desperdícios e perdas nas cadeias de valor dos alimentos”

Por Joana Carvalho | PhD, coordenadora do Dept. de I&D do CVR – Centro para a Valorização de Resíduos

Na União Europeia (UE), cerca de 88 milhões de toneladas de resíduos alimentares são gerados anualmente, com custos associados estimados em 143 mil milhões de euros e 170 milhões de toneladas de CO2 são emitidos pela sua produção e eliminação. O desperdício de alimentos não está apenas associado a questões éticas e económicas, mas também esgota os recursos naturais, causando graves problemas ambientais, com repercussões relevantes na economia da UE devido aos custos de gestão destes resíduos. Estes custos incluem a manutenção de aterros, onde os resíduos alimentares continuam a ser mais frequentemente eliminados, bem como os custos de transporte, custos operacionais nas estações de tratamento e custos de separação. Os resíduos biogénicos, nos quais se incluem os resíduos alimentares, geralmente apresentam alto teor de água e, portanto, baixo poder calorífico, influenciando fortemente a sua eficiência energética. O WRAP (Waste and Resources Action Programme) estima que o desperdício alimentar passível de ser evitado representa um custo de €595 família/ano e 680 mil milhões de euros nos países industrializados.

O desperdício de alimentos também levanta questões sociais, principalmente devido à atual crise financeira global, ao aumento dos preços dos alimentos e à escassez internacional de alimentos. Se apenas um quarto dos alimentos perdidos ao longo das várias cadeias de valor, ou desperdiçados globalmente, fossem consumidos, seria suficiente para alimentar 870 milhões de pessoas, 12% da população mundial atual. Reduzir a perda e o desperdício de alimentos é uma estratégia fundamental para garantir a segurança alimentar e atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A crescente consciência da importância do desafio da quantificação do desperdício alimentar tem como foco principal a compreensão do comportamento do consumidor ou a quantificação do volume gerado de resíduos alimentares e o impacto ambiental ou económico associado. No entanto, ainda prevalecem inúmeras lacunas no que diz respeito aos fatores subjacentes à geração de resíduos alimentares, não existindo uma definição unificada do conceito a nível internacional, nem consenso sobre as metodologias mais adequadas para quantificar estes resíduos, tornando-se necessário determinar as raízes deste fenómeno.

A redução do desperdício de alimentos não é simples e direta, pois determina a causa mais comum, o estágio em que se realiza e a solução mais económica para o problema. De acordo com a Diretiva Resíduos, o objetivo de qualquer solução de mitigação de resíduos deve ser minimizar os efeitos negativos da geração e gestão de resíduos na saúde humana e no meio ambiente. A ordem de prioridade dos métodos de prevenção e hierarquia de gestão de resíduos é estabelecida como (1) prevenção (2) preparação para a reutilização (3) reciclagem (4) outra valorização (5) eliminação. Mas foi determinado que o problema do desperdício alimentar pode ser sistematicamente erradicado por aplicação de fortes medidas preventivas, através da adoção de uma abordagem holística.