“Os serviços do ecossistema ainda são insuficientemente reconhecidos”

Lançado no passado dia 16 de março, o “Biodiversidade by The Navigator Company” é um projeto que contribui para uma maior sensibilização e informação da sociedade em relação à importância da biodiversidade e da sua conservação nos espaços florestais. Dedicado a explorar temas relacionados com a biodiversidade, o projeto nasce do propósito da The Navigator Company em partilhar com a sociedade o seu saber, experiências e recursos em busca de um futuro melhor para atual a atual e futuras gerações.

À Ambiente Magazine, Nuno Rico, técnico de Conservação da Biodiversidade na Navigator, recorda o quão importante é a biodiversidade, enquanto rede fundamental de “segurança” e de “suporte” à vida e bem-estar da qual o cidadão depende. Assume também grande importância ao nível “ecológico ou ambiental, económico e de saúde”, fornecendo uma série de serviços do ecossistema que incluem, por exemplo, o “sequestro de carbono e a regulação do clima”, a “formação”, a “conservação e a fertilidade do solo”, a “filtragem do ar”, a “água limpa, o controlo de pragas e doenças ou a redução do impacte das catástrofes naturais”, como as cheias e protecção da erosão costeira. Por outro lado, a biodiversidade providencia também diretamente comida – “peixe, carne, fruta, legumes” – ou “madeira”. No entende do responsável, o “declínio global da biodiversidade” é, portanto, um dos “maiores desafios da atualidade”, sendo os próximos anos cruciais para inverter a tendência: “São várias as iniciativas em curso”. A título de exemplo, destaca-se, precisamente, a Estratégia para a Biodiversidade da União Europeia para 2030 e a Década de Restauro por parte das Nações Unidas, entre 2021 e 2030. Consciente dos desafios, a Navigator lança este projeto com o intuito de contribuir para uma “maior sensibilização e informação da sociedade” em relação à importância da biodiversidade nas florestas, refere.

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Questionado sobre o conhecimento dos portugueses em relação à biodiversidade, Nuno Rico considera que as notícias recorrentes sobre as consequências das alterações climáticas ou a extinção de espécies de animais e de plantas têm contribuído para que a importância deste conceito seja cada vez mais reconhecida. Ainda assim, estas questões foram, nos últimos dois anos – marcados pela Covid-19 – passadas para “segundo plano” e, a agravar esta situação, existe “uma cada vez maior distância entre a vida rural e urbana”. Acresce que o conceito de biodiversidade – “que a define, resumidamente, como a diversidade entre espécies, de ecossistemas e de diversidade genética dentro das espécies” -, tal como o é, não é claro para a maioria das pessoas, podendo parecer algo “esotérico e até longínquo”, atenta. Assim, estando a estratégia da Navigator assente na premissa de que “para conservar os valores naturais temos de os conhecer”, a criação desta plataforma – “Biodiversidade by The Navigator Company” – nasce de forma natural, com o propósito de “partilhar com a sociedade a experiência acumulada” na área e, ao mesmo tempo, “contribuir para sensibilizar a sociedade para a importância da biodiversidade”, nomeadamente nos espaços florestais: “Com mais de um terço do solo português ocupado por floresta, este ecossistema é essencial para a biodiversidade em Portugal”, precisa.

Desde o lançamento da plataforma, Nuno Rico partilha um feedback muito positivo: “Estamos muito satisfeitos com os resultados preliminares. Esta é uma plataforma recente, mas que acreditamos que será uma mais-valia para dar a conhecer a importância da biodiversidade e sensibilizar para a forma como todos podemos contribuir para preservá-la”.

No “Biodiversidade by The Navigator Company” encontra-se informação sistematizada sobre habitats e espécies protegidos nas florestas portuguesas. Além disso, a plataforma afirma-se como uma “fonte de informação” sobre boas-práticas de “monitorização, conservação e restauro de ecossistemas”, assim como de “compatibilização entre operações florestais e proteção da biodiversidade e do capital natural”. A plataforma encontra-se, ainda, estruturada em três secções: Biohistórias (onde podem ser encontrados artigos, reportagens, notícias e indicadores sobre a biodiversidade em geral, assim como sobre as iniciativas e projetos que permitem ampliar conhecimento, prevenir perdas, preservar e restaurar); Biogaleria (convida à descoberta dos vários habitats que coexistem nos espaços florestais e das espécies que neles existem, desde plantas a mamíferos, répteis e aves ou fungos); Biorecursos (explora-se uma (Bio) biblioteca com os principais compromissos, relatórios, legislação e entidades relacionados com biodiversidade, espécies ameaçadas ou áreas protegidas).

[blockquote style=”1″]A aposta na biodiversidade…[/blockquote]

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Desde há várias décadas que a Navigator tem vindo a investir em ações para promover a biodieversidade, nomeadamente de conservação e restauro de habitats: “Em 2021, 12.364 dos mais de 104 mil hectares de floresta sob a gestão da Empresa estavam classificados como Zonas de Interesse para a Conservação (mais 441 hectares do que em 2020), e destas, cerca de 1.655 hectares distinguem-se pela presença de altos valores de conservação naturais e socioculturais pelo seu carácter excecional”. De forma a conservar estes “valores naturais”, procedem, através de “amostragem”, à “monitorização anual” nas propriedades geridas, recorrendo a especialistas da área: “Durante este processo são identificados e mapeados os habitats e as espécies de fauna e flora, mas também definimos um plano de ação para a conservação para estas mesmas áreas”, explica. Em 2021, de acordo com o técnico, foram encontradas mais “quatro espécies de fauna” nas propriedades sob gestão da Navigator, totalizando “245 espécies”, bem como “mais cinco plantas com especial importância para a conservação, num total que ultrapassa as 800 espécies identificadas”. Também, em 2020, a empresa fez a sua adesão ao projecto act4nature Portugal (BCSD): “Um passo que vem confirmar a nossa ambição em termos de contributo para o ODS15 (Proteger a Vida Terrestre) e uma oportunidade para a criação de valor sustentável a longo prazo e promover a transformação da Navigator, tal como do setor, de forma a responder aos desafios futuros”.

[blockquote style=”1″]E Portugal?[/blockquote]

Para Nuno Rico, não restam dúvidas acerca da riqueza do património natural de Portugal, muito dele nas áreas florestais privada (“98% das áreas florestais em Portugal são privadas”). Desta forma, tal como no resto do mundo, este é um tema que deve merecer a atenção de todos: “dos cidadãos aos governantes, passando pelas empresas”. E, em Portugal, mas também em muitos outros países, os serviços do ecossistema – “benefícios que a humanidade retira dos ecossistemas” – ainda são “insuficientemente reconhecidos, avaliados e até contabilizados”: “É  muito importante quebrar com algum paradigma de mera proibição e regulamentação – que está, muitas vezes, desligado da realidade do meio rural – e incentivar e apoiar as populações e gestores privados na conservação e restauro da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas associados, de forma a atingir a sua compatibilização com a parte económica e social, trazendo benefícios e oportunidades para todos”.

A nova Estratégia para a Biodiversidade na União Europeia, lançada em 2020, traça o caminho a percorrer para aumentar áreas protegidas, recuperar ecossistemas degradados e reverter a perda de biodiversidade. A apresentação do documento fez-se acompanhar por um breve vídeo que ilustra o significado de “Trazer a natureza de volta às nossas vidas”, frase que, para o responsável, deve inspirar nas opções que se fazem todos os dias e que, ao meso tempo, reforça a urgência de respeitar o equilíbrio do planeta e de se reorientar a economia. Nuno Rico lembra ainda a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030, apresentada em 2021, que se baseia em três pilares para melhorar o estado de conservação do património natural e promover o reconhecimento do seu valor: “a descarbonização da economia, a economia circular e a valorização do território”. “São pilares essenciais para atenuar o impacte das alterações climáticas, reduzir a pressão sobre os recursos e realçar o valor do nosso património natural”, remata.