Politécnico de Leiria integra investigação sobre o impacto da pesca na sustentabilidade de diversas espécies de tubarões

O investigador André Afonso, do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) do Politécnico de Leiria, integra a equipa de especialistas que acaba de publicar na secção “Matters Arising” da revista Nature, dois artigos sobre o impacto da pesca na sustentabilidade de diversas espécies de tubarões.

As publicações, segundo uma nota divulgada pelo Politécnico de Leiria, surgem no seguimento de um outro artigo publicado em 2019, que concluiu que cerca de “um quarto dos habitats dos tubarões estavam em zonas de pesca ativa, o que ameaçava grandemente os tubarões, cujas populações têm vindo a declinar em todo o mundo”. Essa investigação recorreu a métodos de telemetria via satélite, e estimou a sobreposição espacial dessas espécies com a distribuição e tipo de atividade pesqueira, a qual foi estimada através dos dados de AIS – Automatic Identification System, obrigatoriamente presente nessas embarcações para geolocalização das mesmas, lê-se no comunicado.

As principais questões levantadas pelos autores que originaram estes dois novos artigos prenderam-se, em primeiro lugar, com o facto de a suscetibilidade dos tubarões à pesca não poder ser inferida somente pela sobreposição espacial entre a distribuição de tubarões e a distribuição do esforço de pesca, e em segundo lugar pelo facto de os algoritmos informáticos que processam os dados de AIS fornecidos pelas embarcações e que identificam a atividade pesqueira não apresentarem um nível de precisão adequada, levando a que a atividade pesqueira seja erradamente classificada em algumas situações.

Para atender a estas questões os investigadores envolvidos no estudo realizaram diversas análises, tendo concluído que se verifica uma “correspondência direta significativa entre a captura por unidade de esforço de tubarões e as áreas com maior sobreposição espacial entre tubarões e esforço de pesca”, indicando que a “sobreposição espacial entre tubarões” e a “atividade pesqueira é um indicador fiável de suscetibilidade à pesca”, refere a nota.

Segundo o Politécnico de Leiria, a reanálise dos dados utilizando dados de AIS mais recentes, disponibilizados após a publicação do trabalho original, resultou numa “diminuição do tamanho das áreas de refúgio da pesca” relativamente à estimativa inicial, indicando que “os valores calculados no trabalho original estavam sobrestimado”s. A utilização desses novos dados de AIS não alterou as estimativas iniciais de sobreposição espacial mensal (24%), e as simulações baseadas na eliminação aleatória de dados e na reclassificação aleatória da atividade pesqueira não alteraram os padrões descritos de sobreposição e suscetibilidade de tubarões relativamente à atividade pesqueira.

De acordo com o investigador André Afonso, “a publicação destes estudos revela-se de extrema importância, dado que a análise foi conduzida numa escala global e utilizou tecnologia de ponta que permitiu monitorizar simultaneamente os movimentos e a distribuição de várias espécies de tubarão e das embarcações de pesca que operam em águas internacionais. O acompanhamento da atividade piscatória nesses ambientes remotos é extremamente insipiente, pelo que os resultados aqui apresentados fornecem-nos um panorama inédito e real sobre o atual nível de exposição dos tubarões oceânicos à pressão humana, contribuindo assim para o desenvolvimento de medidas de gestão que assegurem a conservação destes importantes predadores marinhos”.