Portugal é “líder mundial em tecnologias verdes e energia” no setor marítimo

Arranca esta segunda-feira, 9 de maio, o Portugal Shipping Week (PSW), um evento internacional de alto nível centrado nos setores da navegação, portos e logística de Portugal, e serviços marítimos. Promover o comércio e os negócios internacionais, sempre com um olhar crítico sobre a sustentabilidade, novos combustíveis e novas tecnologias é o objetivo deste encontro que decorre até ao dia 13 de maio, sexta-feira, na Gare Marítima de Alcântara, na orla marítima de Lisboa. A Ambiente Magazine esteve à conversa com Llewellyn Bankes-Hughes, diretor-geral da Petrospot, e Nuno Mendão, secretário-geral EISAP (European International Shipowners Association of Portugal), coorganizadoras do evento.

Realizado, pela primeira vez, em setembro de 2018, a pandemia atrasou a segunda edição do evento, que deverá ser realizada de dois em dois anos. Tal como indica Llewellyn Bankes-Hughes, a escolha de Lisboa deve-se por ser a cidade onde acolhe a “sede do Governo” e dos “principais ministros e secretários de Estado portugueses estarem envolvidos”. Depois, a capital é um “grande porto e centro marítimo de Portugal”, com “muitas ligações internacionais fáceis e diretas”, refere o responsável, acrescentando que, o objetivo, e, em anos futuros, outras cidades portuguesas serem consideradas para o evento bienal.

Concebido para mostrar Portugal com um centro global de navegação e logística marítima, o PSW oferece aos armadores e representantes estrangeiros de cada disciplina marítima uma “oportunidade única e estimulante” de desenvolver “novas e importantes relações comerciais” com os “líderes do setor marítimo português”, bem como com “os principais atores internacionais”, afirma o diretor-geral da Petrospot, destacando que o evento serve ainda de “lembrete ao Governo e aos legisladores do país” sobre a importância crucial do “transporte marítimo e dos portos para o comércio e o seu crescimento económico”.

O facto de Portugal ser já “líder mundial em tecnologias verdes e energia” no setor marítimo, com a “utilização de gás natural liquefeito como fonte de energia para navios já bem estabelecida” e de “estar bem à frente de muitos outros países” no desenvolvimento e eventual adoção do hidrogénio como combustível marítimo, fez com que o tema central deste encontro se centrasse no comércio e na sustentabilidade: “Ao longo da semana, as sessões e seminários da conferência serão dedicados aos combustíveis e tecnologias verdes, desde a sua produção à adoção nacional, bem como aos regulamentos e orientações europeias e internacionais e sua aplicabilidade real”, adianta o responsável, destacando que as duas conferências principais  – “Conferência de Bandeira e  Conferência EISAP – serão organizadas pela Petrospote e pela EISAP, respetivamente. Além da variedade de conferências e seminários, o PSW vai promover ações de formação e cursos, bem como visitas técnicas a sítios e redes entre empresa.

[blockquote style=”1″]“A indústria está a viver um processo de transformação que não se assistia desde a introdução da combustão a carvão”[/blockquote]

Nuno Mendão

Aproveitando o regresso do PSW a Portugal, a EISAP que, organiza desde 2017, (também interrompida nos dois últimos anos devido à pandemia), uma “reunião anual” com membros e parceiros mais diretos, quis aproveitar a ocasião para promover, em simultâneo, uma “reunião (ainda) mais alargada”, indo ao encontro dos “objetivos comuns” e, por essa via, “enriquecer a discussão e criação de sinergias”, destaca Nuno Mendão.

Para o secretário-geral da EISAP, discutir a transição energética ligada à navegação é primordial: “Os regulamentos internacionais sobre o enxofre e os óxidos de azoto nos combustíveis navais, e as emissões de carbono, são agora o centro das atenções dos reguladores a nível mundial, o que os torna também o centro das atenções dos construtores navais, armadores, afretadores e proprietários de cargas, não sendo um dos que se podem dar ao luxo de cair em desrespeito pela legislação”. Desta forma, o “debate” em torno destes temas é absolutamente central para a indústria do transporte marítimo nacional e internacional: “A indústria está a viver um processo de transformação que não se assistia desde a introdução da combustão a carvão, vivendo processos acelerados de inovação e adaptação a uma nova realidade mundial”. Todo o setor está a “procurar encontrar formas de conseguir apoiar e suportar medidas que todos já percebemos que são centrais para a sobrevivência da humanidade”, sucinta.

Enquanto “centro global de navegação sustentável”, Portugal está, apenas, no início da transição, comisera Llewellyn Bankes-Hughes, lembrando o “trabalho que está a ser feito”, nomeadamente em “novos combustíveis e tecnologias”, nos “biocombustíveis e hidrogénio” ou na “energia elétrica” em terra: “O país mostra todos os sinais de poder assumir uma posição de liderança a nível internacional”.

[blockquote style=”1″]“… o reconhecimento de que o problema climático existe”[/blockquote]

Neste âmbito, a EISAP tem apresentado ideias e projetos com vista a fazer de Portugal um país pioneiro em algumas frentes, fazendo uso de mecanismos que tem ao dispor, como é o caso do “Registo MAR – Registo Internacional de Navios da Madeira”, onde tem mais de “700 navios registados” e, em breve, será “um dos três maiores registos europeus”. Ou seja: “Portugal tem mais de 700 navios que diariamente navegam pelo mundo e que podem ser agentes ativos das melhores práticas ambientais (e não só)”, refere Nuno Mendão. De forma a levar o país mais longe nestas matérias, a EISAP defende a introdução de um “sistema de classificação e rating” de navios que “premeie os que tiverem melhor desempenho” e que “penalize ou desincentive aqueles que forem menos capazes de acompanhar” as melhores práticas: “Este é um sistema que pode e deve ser pensado de forma integrada no país, podendo ir muito além do simples registo do navio, devendo também ser usado, por exemplo, na aplicação de taxas portuárias nos Portos nacional”.

Llewellyn Bankes-Hughes

Quanto às valias que Portugal pode beneficiar, Llewellyn Bankes-Hughes destaca, desde logo, o “reconhecimento” de que o problema climático existe e a “determinação em assegurar que o ar e os oceanos sejam mantidos limpos para as gerações futuras”.

Acresce que, no atual quadro geopolítico criado pela guerra na Ucrânia (e já antes pelos efeitos da pandemia da Covid-19) com todos os impactos e disrupção criados nas cadeias de abastecimento, Nuno Mendão destaca a “enorme janela de oportunidade” que se abre para Portugal: “Designadamente no que diz respeito ao abastecimento de GNL – Gás Natural Liquefeito para o centro da Europa por via do Porto de Sines, mas também, por outro lado, pelo crescente peso que Portugal pode assumir nas instâncias políticas internacionais (como a Organização Marítima Internacional) por via do peso da sua frota de navios à escala internacional”.

[blockquote style=”1″]“Devolver a Portugal a sua longa tradição de cultura marítima de que há muito se afastou”[/blockquote]

Questionados sobre os desafios, Llewellyn Bankes-Hughes aponta o acesso ao investimento como o mais óbvio: “A construção de uma infraestrutura sustentável é dispendiosa”.

Depois, acrescenta Nuno Mendão, em Portugal não há como em outros países Europeus, uma “indústria financeira especializada e dedicada” para o setor marítimo: “Esse é um dos grandes desafios (e oportunidade) que consta da Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030 e que passa por criar em Portugal, entre outros, não só uma grande praça financeira, mas também atrair para o nosso país grandes operadores marítimos, fomentar a formação e edução para o sector por via a promover o emprego”. No fundo trata-se de “devolver a Portugal a sua longa tradição de cultura marítima de que há muito se afastou (mas que o Mundo ainda nos reconhece)”, refere o secretário-geral da EISAP.

Durante cinco dias, líderes governamentais e industriais de Portugal e do resto da Europa vão centrar o debate nas alterações climáticas e no seu impacto na navegação e nos portos, bem como na partilha das potenciais soluções lideradas pelos Governos e pela indústrias: “Se isto for conseguido, a edição de 2022 do PSW será considerada um grande sucesso”, rematam os responsáveis.

O programa do PSW22 e da Conferência Anual da EISAP, podem ser consultados aqui.