“Portugal está dentro da média europeia da reciclagem”, assegura Sociedade Ponto Verde

“O que é importante na economia circular é olhar, repensar e inspirar. Mesmo que muito dos exemplos que já estão a ser feitos pareçam não ser os mais adequados à organização, é importante olhar para as tendências, para a regulação e pesar de que forma é que a tecnologia pode ser aplicada e não é só nas pequenas mecânicas físicas naquilo que determinada empresa tem para oferecer”. Esta foi umas das mensagens partilhadas por Teresa Cortes, da Sociedade Ponto Verde, convidada pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa) para falar, durante 30 minutos, sobre “Economia Circular: Desafios e Oportunidades“.

Desde os conceitos que envolvem a economia circular, até às oportunidades e desafios, a responsável considera que uma das tendências que marca este desígnio é “olhar para o resíduo como um recurso”, sendo que a aposta passa pelos “princípios do ecodesign: pensar em toda a cadeia de valor daquele produto ou serviço; repensar, redesenhar e depois potenciar o final de ciclo de vida  para ser transformado em matérias-primas”. E nesta equação, a tecnologia aliada à sustentabilidade deve ser vista como uma oportunidade: “Pôr a tecnologia ao serviço deste fim que é proteger os nossos recursos, emitir menos resíduos e regenerar a natureza”.

Questionada sobre o papel da ciência na economia circular e sobre como podem as empresas incluir o conhecimento produzido em ecologia, como por exemplo, na tomada de decisão para uma transição mais sustentável, Teresa Cortes parece não ter dúvidas da preponderância que a investigação (ciência) e o desenvolvimento assumem nestas matérias. E, apesar dos tempos económicos serem “frágeis”, a responsável defende que as empresas têm de perceber que tem que haver “investimento inicial” para depois conseguirem o retorno: “É necessário capacitar as pessoas das organizações e dar conhecimento”. Tão importante é que o tecido empresarial olhe para este tema, se inspire para depois atuar: “É fundamental que as coisas aconteçam e que haja transformação, sendo que o I&D e a academia são preponderantes”, sucinta.

Já sobre Portugal ser um dos países da Europa que menos recicla, Teresa Cortes discorda, dando nota que (Portugal) está dentro da média europeia da reciclagem: “As notícias que saem sobre reciclagem nem sempre têm os mesmos parâmetros de comparação”, esclarece a responsável, acrescentando que “Portugal tem metas de reciclagem, mas é diferente dizer que não estamos a reciclar o plástico, quando olhamos para a reciclagem desse material e, – sendo a SPV responsável -, estamos a cumprir com todas as metas”. É certo que o “vidro” é o material que falta ainda dar um impulso: “Mas, é um caminho que se está a fazer”. Ainda assim, Teresa Cortes volta a reforçar para a importância de “saber do que se está a falar”, até porque, a nível europeu, “o referencial nem sempre é igual” entre países: “Falta harmonização de referências europeias para podermos devidamente comparar o que é que cada um está a reciclar”. Apesar de considerar que o “sistema de depósitos” já deveria estar em marcha há mais tempo, a responsável da Sociedade Ponto Verde acredita que será um “excelente incentivo” que vai potenciar a adesão à reciclagem: “Ter máquinas onde colocamos as embalagem e, de seguida, é devolvida a tara que pagamos inicialmente, é uma motivação que acreditamos que vai acelerar esta adesão, até porque temos metas bastantes exigentes e, apesar de estarmos a cumprir as atuais, para atingir as de 2025 ainda não chegamos lá”.

Ainda em matéria de reciclagem, Teresa Cortes assegura que, em termos de cobertura, Portugal está muito bem servido com o sistema de ecopontos: “Temos mais de 50 mil ecopontos, o quádruplo de caixa de multibanco”. E é um sistema que funciona: “Aquilo que é colocado nos ecopontos segue para as estações de tratamento, onde os materiais são triados e, se existirem contaminantes (fraldas, papel com gordura ou guarda chuvas), esses materiais são retirados na estação de tratamento”. É certo que pode sempre haver melhorias, como por exemplo, a “proximidade” que é vista como um “fator determinante” para se fazer a separação das embalagens: “O consumidor que ainda não faz por amor à causa reciclagem necessita de outros estímulos além do sistema de ecopontos e, Portugal está também a caminhar para ter essa oferta”, remata.